Luanda - Ângelo Beccio tirou cerca de uma hora dos cerca de trinta dias que ainda tem Angola, onde desde 2002 desempenha o cargo de representante da Santa Sé para uma conversa com F8 onde abordou o relacionamento da igreja católica com as outras, deixando claro não existir com as seitas. Beccio acusou estas de prometerem milagres ao contrário de Jesus. No encontro o núncio apresentou o seu ponto de vista sobre o respeito dos direitos humanos em Angola, bem como falou dos mais recentes actos de demolições em Angola.

Fonte: Folha8/César Silveira.   

Folha8: Escolhemos para início de conversa a suposta decadência atribuída ao estado actual da igreja católica em função do surgimento de outras igrejas. Concorda com este ponto de vista?

Angêlo Beccio – A palavra decadência parece-me muito pesada até porque a visita do papa mostrou qual a potencialidade e vivacidade da igreja católica neste país. É claro que nos preocupa ver gente ir nestas seitas, não chamo igrejas porque uma igreja é fundada por Jesus Cristo, esta é a definição. Estas congregações, fundadas a dez ou cinco anos como podem ter sido fundadas por Jesus Cristo? Não merecem o nome de igreja; chamamos seitas, grupos de pessoas que se reúnem para, em nome da boa fé, honrar Jesus Cristo. Nos preocupa porque muita desta gente está a perder tempo, convencidos que encontrará a verdade, a solução dos problemas das suas vidas porque muitas destas seitas apresentam-se com milagres muito fáceis, alimentam uma fé de consumismo. A preocupação deve-se ainda porque um dia que os que frequentam estas igrejas, sobretudo jovens que manifestam pobreza intelectual e social; alimentarem o espírito crítico irão descobrir que as propostas destas seitas são falsas. Jesus Cristo não prometeu milagres, paraíso terrestre onde desaparecem todas as doenças e problemas. Ele deu somente uma luz, um valor sobre os problemas e sofrimentos, ele não é médico que sana imediatamente todos os males.          

F8- Pelo que entendi, o núncio está dizer que o surgimento destas seitas mostra existir um elevado nível de pobreza intelectual e social das pessoas

AB: A explicação disso está nestes dois aspectos que mencionou: pobreza intelectual e social. No desespero as pessoas aceitam as promessas de soluções imediatas sobre saúde ou situações sociais. Mas nestas seitas também existem aspectos positivos. Sendo pequenos grupos, as pessoas se conhecem, criam um ambiente de família, fraternidade e solidariedade. Neste ponto a igreja católica deve interrogar-se, se nos nossos encontros, temos sempre, este clima de fraternidade e acolhimento no sentido melhorar, se necessário, o clima de suas assembleias.

F8-  Disse que a visita do Papa mostrou a potencialidade e vivacidade da igreja católica. Esperava por aquela participação popular?

AB: Todos devemos reconhecer que a resposta do povo superou todas as expectativas, foi muito positiva. Foram milhões de pessoas, gente que concentraram-se nas estradas, que participaram nos actos litúrgicos e cerimonias com o papa.

F8: Em algum momento pensou que não seria assim?

AB: Não. Tive sempre fé que o povo responderia de maneira generosa, mas é sempre um ponto de interrogação. Poderia chover naquele dia, porque estávamos na época chuvosa, e estragaria festa, embora os angolanos mesmo com chuva manifestam alegria mas uma chuva é sempre uma chuva. Isto não aconteceu, felizmente. Foram três dias de festa, de sol e alegria serena e verdadeira do povo cristão que manifestou a sua fé nesse homem de Deus, que chegou aqui como mensageiro de paz e fraternidade.

F8: Festa marcada por um incidente nos coqueiros, em que morreram duas jovens. Como a igreja geriu toda essa situação e de quem acha que foi a culpa?

AB: Agora não quero entrar noutros pormenores. Infelizmente aconteceu, foi um episódio que provocou sofrimento em todos. O papa quando lhe foi comunicado ficou muito sofrido, manifestou toda a solidariedade com as famílias. Depois encarregou o núncio a dar uma ajuda material e financeira a estas duas famílias como sinal de proximidade e paternidade. Agora como aconteceu e o que aconteceu não compete ao núncio saber. Não sei se foi feito algum inquérito ou não. Infelizmente aconteceu porque algo correu mal na organização.

F8: OS muçulmanos manifestaram-se descontentes por não terem sido convidados a fazer parte das festas da vinda do Papa. Pensaram mesma na possibilidade de um encontro como aconteceu nos Camarões. Qual é o comentário?

AB: Lamento se os muçulmanos ficaram descontentes, mas todos eram convidados a participar nas festas mas não estava previsto um encontro específico com os muçulmanos porque, em primeiro lugar, não sabemos quantos muçulmanos são, depois, quem são as autoridades oficiais que representa este mundo. Em terceiro, a resposta está na questão que me colocou: o Papa já havia se encontrado com os muçulmanos nos Camarões e não era intenção do Papa repetir as actividades. Nos Camarões encontrou-se com os doentes aqui encontrou os jovens; lá encontrou os muçulmanos aqui encontrou as mulheres. Estava programado um conjunto de mensagens para os Camarões e Angola, que o Papa pretendia dar para toda África e não somente aos dois países. O significado do encontro, do diálogo, do amor do papa para com os muçulmanos foi manifestado nos Camarões.

F8: Será por isso também que o Santo Padre já não falou da proibição do uso do preservativo em Angola?

AB: O papa também não abordou esta questão nos Camarões, foi provocado por um jornalista, não era intenção do papa falar disso, ele não fala especificamente do preservativo, envia mensagens mais altas que o problema do preservativo. Foi um jornalista, durante o voo que lhe colocou uma questão e ele respondeu. Infelizmente a imprensa ocidental falou apenas deste assunto ignorando tudo o resto.
Não poder transmitir (a rádio ecclésia) em todo território é um sofrimento

F8: Voltando a questão dos muçulmanos, disse que não conhece que são os líderes e quantos são. Mas isto não deveria fazer parte das preocupações do Núncio?

AB: É uma realidade complexa, mas não é que o núncio deve conhecer todas as realidades religiosas que estão aqui. Encontrei-me já com um grupinho de muçulmanos mas, você sabe que no mundo muçulmano não existe uma autoridade coordenadora de todas as presenças muçulmanas. Encontrei uma vez um presidente da comunidade, mas não conheço bem toda a realidade.

F8: Alguns extractos da sociedade angolana manifestam-se preocupantes com a ascensão do islamismo em Angola, ligando-a à droga e terrorismo, por exemplo. Para o Núncio há razão para tal preocupação?

AB: Não no sentido de fazer ofensas aos muçulmanos. Há muçulmanos honestos, moderados que acreditam profundamente na religião. Ligar todos os muçulmanos ao fenómeno do terrorismo ou da droga é uma ofensa contra os muçulmanos. Temos que acreditar que há gente que vive com seriedade e coerência a própria fé, são sinceros nos próprios sentimentos. Há um mundo que está a trair o islamismo, o mundo do terrorismo. Eles combatem em nome de Deus, mas esta maneira de comportar-se é ofender Deus. O Papa tem tido muitos discursos sobre este aspecto, há encontros com os chefes dos muçulmanos onde eles manifestam estar de acordo com a condenação destes terroristas que usam o nome de Deus para realizar acções contra humanidade. Estes não são os verdadeiros muçulmanos, temos bons muçulmanos que devemos respeito pela forma como manifestam a própria fé. Quanto a droga, isto acontece não só com os muçulmanos mas também com os cristãos. Os que fazem isso, seja muçulmanos ou cristãos estão a trair a própria fé. Há cristãos baptizados, mas não são verdadeiros cristãos quando fomentam o mercado da droga porque comercializar a droga significa comercializar a morte, a corrupção; comercializar a droga significa matar o homem.

F8: Que opinião tem sobre a forma como se tem utilizar os meios de comunicação, sobretudo televisivos pelas igrejas?

AB: Cada um usa os meios que tem a sua disponibilidade, o problema está na pessoa que recebe a mensagem, ela é que deve ver se deve ou não acreditar, deve utilizar a própria inteligência para avaliar se o que lhe estão a transmitir é certo ou contradiz o próprio pensamento. A utilização dos meios de comunicação é normal para todos, cada um utiliza os meios como pode cabendo ao cidadão avaliar as mensagens, ver se são ou não aceitáveis.

F8: Acredita estar a maioria dos angolanos preparados para fazer esta filtragem ou análise?

AB: Infelizmente vocês me dizem que o nível de escolaridade e cultural, em Angola, é muito baixo e estas mensagens (falsas) podem trabalhar facilmente às pessoas sem uma preparação cultural adequada. Sei que poucos estão preparados para acolher de maneira crítica estas mensagens. Agora quem deve impedir se aqui existe a liberdade de imprensa?   

F8: Senti a existência desta liberdade de imprensa? 

AB: São os jornalistas que devem dar-me esta resposta, mas vejo que existem os semanários que têm um espírito crítico. Agora, até onde ou o número de pessoas têm acesso a estes semanários é que não sei. Se estes semanários mantêm o espírito crítico é porque a liberdade imprensa, de qualquer maneira, existe. Agora o nível ou volume da liberdade apenas os jornalistas podem responder.

F8: A rádio ecclesia beneficia desta liberdade?

AB: Sabemos qual é o problema da rádio ecclesia, está autorizada para transmitir apenas para Luanda e não para todo o território nacional. Tem uma lei de imprensa que permitirá isso mas dizem-me que ainda não está em aplicação, solicitamos quem tem a competência de implementar esta lei que o faça o mais rápido possível. Para nós, não poder transmitir em todo território é um sofrimento, parece-nos ser um desrespeito aos direitos que todos os católicos do país têm de ouvir a rádio, são privilegiados apenas os católicos de Luanda.
 
 
F8: Na véspera da viagem do Papa falou-se que esta seria uma das questões a discutir, mas parece não ter acontecido, alguma razão em especial?

AB: Não houve qualquer razão especial, acho que foi apenas questão de tempo. Depois tratou-se de conversa confidencial e não sabemos o que se tratou nela. Tenho esperança, somos homens de esperança; que este problema será solucionado, se não agora, num futuro não muito longe.

F8: Muito recentemente um membro do MPLA disse que a rádio ecclesia tem estado a escapar-se daquilo que é o seu objectivo principal, dando mais espaço a questões políticas ao invés das religiosas. Tem a mesma opinião?

 AB: O núncio deve confessar que não está vinte e quatro sobre vinte e quatro horas a escutar a rádio ecclesia, mas pelas informações que tenho, a rádio tem dado mais importância a mensagens religiosas, mas é claro que uma rádio se quer desempenhar o seu específico papel não pode ignorar os problemas que acontecem, sobretudo os sociais que atingem as pessoas porque faz parte da missão da igreja defender os direitos dos que não têm voz para se defender. Queria sublinhar um aspecto. A igreja quando fala, crítica qualquer aspecto não é para condenar pessoas ou instituições, suportar um ou outro partido; a igreja fala de maneira construtiva, se critica é para ajudar os governantes a melhorarem a própria atitude, a qualidade do governo. A igreja fala apenas para ajudar e não para humilhar ou destruir quem quer que seja. Todas as pessoas devem colher este espírito nos pronunciamentos dos bispos. A igreja não faz política, sobretudo partidária a igreja está acima dos partidos políticos.
 
F8: Muitos governantes são católicos, sente que estes têm posto em prática o que apreendem ou escutam nas homilias?

AB: Não estou a seguir cada governante, mas espero que cada governante que se sente cristão, católico, sente ao mesmo tempo desejo de ser coerente com a própria fé, ser coerente com a mensagem Evangélica. O papa falou e parece-me que falou bem, deixou mensagens fortes para os governantes e o meu voto é que cada um possa meditar sobre estas mensagens e possa realizar as exortações e conselhos do papa.

F8: Estando em Angola conhece, a prior, o país melhor que o Santo Padre. Se tivesse que discursar naquele dia teria o mesmo discurso, sobretudo no que diz respeito a uma melhor divisão das riquezas?

AB: Não posso roubar o papel do papa, ele falou e falou bem.

F8: Os governantes angolanos precisavam ouvir aquela mensagem?

AB: Se o papa falou é porque sente que aquela mensagem deveria ser proferida. Ele conhece as situações nos diferentes países, sentiu que na sua missão de pastor universal em Angola deveria enviar esta mensagem. Para mim falou muito bem.

F8: Ao falar que o Papa falou muito bem está a querer dizer que os governantes não têm mesmo a dividir bem as riquezas…

AB: Não falo apenas dos governantes, precisava eu, como bispo; precisavam os padres, as famílias. O papa quando fala deve ser escutado, sobretudo os católicos que devem colocar, imediatamente, em prática o que ele diz. Todos precisávamos das suas palavras. Ele falou forte mesmo para nós, os bispos; para os jovens e para os governantes. Todos precisamos ser convidados a melhorar a nossa vida e a nossa maneira de nos comportamos publicamente.

F8: Angola aparece constantemente classificado entre os piores no que respeito dos direitos humanos em diversos relatórios internacionais. O núncio, o tempo que está, senti haver razão para tal situação?

AB: Como núncio vejo que nem toda gente está bem nesta terra. A situação de pobreza é extrema. Agora que haja uma violação direita dos direitos humanos isto eu não sei, mas se isto acontece são os angolanos que devem denunciar. Fazer uma classificação dos países onde são violados os direitos humanos também não sei. Infelizmente há muitos países onde não se estão a respeitar os direitos humanos. Se Angola é o primeiro ou último classificado é verdade que não sei. O que posso dizer é que se os angolanos descobrem que há violações de direitos devem ajudar os governantes a tomar posição, a intervir porque violar os direitos humanos é ir contra a constituição, ir contra o sentir dos angolanos que já deram mostras de querer uma democracia verdadeira.

F8: Recentemente o governo demoliu muitas casas, sendo acusado de agir erradamente. Mas argumenta necessidade de o fazer. Em que posição coloca-se o núncio, decerto, que acompanhou esta situação?

AB: Eu vou referir-me ao pronunciamento público do arcebispo de Luanda, ele lamentou este facto ao mesmo tempo deixou a entender que, talvez, muitas destas casas foram construídas de forma abusiva mas isso, ele também salientou, não justifica qualquer método para negar os habitantes destas casas. Para mim, o melhor é, antes de tirar as pessoas destas casas, criar alternativas, preparar um sítio onde esta gente pode viver porque são famílias, existem crianças que não podem ficar na rua, as medidas devem proporcionar as alternativas.

F8: Quando chegou em Angola encontrou o país que esperava?

AB: Encontrei o país em guerra, em 2002. Um mês depois, felizmente, aconteceu a paz. Aos poucos, como que um gigante, o país se despertou. Agora são obras, obras e obras. Está a desenvolver-se. Espero que este progresso seja orientado para a maioria da população e não somente para alguns grupos, isto temos que dizer. Temos que a aplaudir o desenvolvimento económico que se está a realizar. O desejo é que este desenvolvimento tenha incidência social ao máximo possível. É um desejo e auguro que faço ao povo angolano.

F8: Como avalia a relação entre a igreja católica e o Estado Angolano?

AB: Vejo que há uma grande diferença com o passado quando o Estado se declarava marxista, o período era muito difícil para a igreja. Agora há liberdade de professar a próprio fé ao mesmo tempo, há uma boa colaboração, justificada porque a igreja quer o bem do homem. O bem do homem significa construir escolas, sobretudo nas aldeias remontas onde ninguém vai senão missionários, voluntários cristãos. O bem do homem significa construir um centro médico, significa dar uma formação humana espiritual, utilizar todas forças espirituais que a igreja tem para favorecer a reconciliação e o perdão. O governo também tem como objectivo o bem do homem. Neste aspecto a igreja católica e o governo podem encontrar-se para ajudar o homem ou a sociedade angolano a desenvolver-se.

F8: Na prática existe esta cumplicidade?

AB: Temos momentos onde o governo manifestou esta boa vontade. O facto de recuperar algumas escolas que foram estragadas com a guerra, devolver à igreja alguns edifícios que tinham sido confiscados mostra que o governo quer colaborar com a igreja para o crescimento e harmonia da sociedade angolana.

F8: Que argumento tem para os pronunciamentos, segundo os quais a igreja católica é quem mais beneficia das ajudas do governo?

AB: Quero saber onde está a ser beneficiada!? Não basta dizer que é a mais beneficiada que as outras. É verdade que os católicos são a maioria, o presidente disse que são setenta por centos. Se as ajudas que o governo dá são proporcional ao número de fiéis é normal parecer que a católica seja a mais beneficiada comparado com os outros grupos. Penso tratar-se de uma justiça distributiva e nada mais.

F8: E como esta a relação com as outras igrejas? 

AB: Quando falamos de igreja referimo-nos apenas aquelas que chamamos clássicas: católica, metodista, anglicana e baptista. Não falo das seitas. Há um bom relacionamento. Temos um bispo que se ocupa desse aspecto que chamamos ecumenismo. Temos momentos de colaboração, estão sempre nas cerimónias importantes. Durante a guerra colaboramos. Temos que favorecer esta colaboração porque somos todos irmãos em Cristo. O objectivo da igreja católica e das igrejas protestantes é ajudar o homem a crescer humana e espiritualmente. Temos apenas diferenças de metodologias. Existe uma semana de oração anualmente onde unimo-nos para um mesmo objectivo e isso fortalece o dialogo.

F8: Como avalia o crescimento da Igreja Universal em Angola

AB: Estou a ver que esta presente, a desenvolver-se, a construir templos, edifícios grandes e luxuosos mas não conheço como está organizada. O juízo que fiz antes é para estas seitas todas. Parece que há um dominador comum que é insistir em Jesus como o salvador imediato e não como salvador espiritual. Apresentam-no como garante da riqueza, da saúde e do sucesso da vida, isto é um grande risco. Depois como podem chamar-se igreja se surgiram nos últimos anos? É um grande ponto de interrogação. As coisas não estão bem claras. Agora saber como cada uma comporta-se, deve-se fazer um estudo melhor mas isso não é de minha competência.         
De malas feitas, sente que cumpriu o que programou?

AB: No nosso campo, onde não há uma agenda, não é uma empresa mas sim uma igreja temos que viver dia após dia, tentar resolver os problemas quando eles aparecem. Há o facto de na vida deixarmos sempre alguma coisa por realizar mas estou satisfeito pela experiência que tive em Angola e agradecido por todo bem, cordialidade e amabilidade que vive. Claro que fica no meu coração a imagem de tanta gente pobre mas feliz, gente capaz de manifestar uma grande alegria apesar das más condições sociais em que vivem, sobretudo nas províncias, nas aldeias ou na periferia de Luanda. Penso que depois de muito sofrimento Angola tem um grande futuro porque o povo está preparado para enfrentar outros desafios.             

F8: Que Cuba pensa encontrar? É a primeira vez que vai para lá?

AB: É a primeira vez e acompanha-me o desejo de servir este povo, esta igreja e espero ter o mesmo entusiasmo que tive na minha missão em Angola. Não será fácil esquecer os mais de sete anos passados aqui, mas preparo-me para começar com entusiasmo esta nova missão.

F8: Decerto, a vinda do Papa está entre os momentos mais altos que viveu em Angola, nos poderia revelar o menos agradável?

AB: O momento máximo foi, de facto, o da visita do papa; mas não sei dizer qual foi o mais negativo. Dificuldades encontramos, como todos, mas não sei dizer o momento mínimo.

F8: Nem mesmo a situação de Cabinda, em que a população rejeitava o arcebispo nomeado?

AB: Não foi o extremo do negativo, foi um momento de sofrimento mas, para nós, o negativo depois transformou-se em positivo porque foi um momento de esclarecimento, purificação e de um melhor conhecimento da situação de Cabinda. Foi também um momento de manifestação da fé deste povo por isso não foi negativo mas sim de crise que acabou por ser resolvido no sentido que o bispo entrou, está lá, governa a diocese e está tentando, com dialogo, a reconciliação com aquele grupinho que ainda não está em total comunhão. Naquele momento também se manifestou, em Angola, uma grande comunhão e união ao Santo Padre que nomeou o bispo e que devia ser aceite pela igreja cabindense.

F8: Para fim de conversa quem é afinal o Núncio Ângelo Beccio?

AB: Eu sou Italiano, fui padre na minha diocese na Ilha da Saldenha, depois tive em Roma para estudar, preparar este serviço junto da Santa Sé, junto do papa. Depois de três anos fui enviado a servir diferentes nunciaturas no mundo. Comecei em Bangui, Brazzavile; Sudão depois fui para Nova Zelândia, Serra Leoa, Inglaterra, Paris e Washington. Isso como secretário, conselheiro da nunciatura e depois fui nomeado núncio em Angola.

F8: Estreou-se em Angola? Gostou da experiência?

AB: Gostei no sentido que temos mais responsabilidades e ao mesmo tempo experimenta-se uma grande ajuda de Deus para cumprir-se a missão. Estou feliz por ter realizado esta missão em Angola.

F8: Que mensagem deixa para os angolanos a parti das nossas páginas?

AB: A minha mensagem vai para todos, mensagem de agradecimento ao povo angolano, a todos amigos que encontrei, aos fiéis católicos, desejando que Angola seja um ponto de referência para os outros países, sobretudo em África onde há guerras porque depois de enfrentar a guerra, está a gozar os benefícios da paz.