Lisboa - Diz o ditado, “zangam-se as comadres, e descobrem-se as verdades”. É o que exactamente está acontecer entre uma dupla de generais ligados ao ex-Presidente, José Eduardo dos Santos e o empresário francês, Vincent Micle, a quem aqueles  colocaram a frente dos seus  negócios privados  em Angola.

Fonte: Club-k.net

Por intermedio de uma exposição destinada ao então Presidente José Eduardo dos Santos, redigida no ano de 2016, o empresário Vicent Micle, revela como os generais da presidência ficaram com o negocio da antiga Arosfram, depois de terem expulsado, de Angola,  o seu dono, o libaneses Kassim Tejedine, a pretexto de que estaria a financiar a rede  terrorista do Hezbollah.  

 

O empresário francês  revela   que depois de encerrarem a Arosfram, os generais da presidência angolana,    com ajuda do seu então  advogado Rui Ferreira, hoje presidente do Tribunal Supremo, criaram uma outra empresa de nome  Nova Distribuidora alimentar em Angola (NDAD) que ficou com os activos da rede de abastecimento da Arosfram, do cidadão libanês. Para o efeito, os generais do regime  colocaram o   Vincent Micle  e uma cidadã Adelia Bandeira  como "testas de ferro"   da nova empresa NDAD, tendo em conta que aqueles  não podiam aparecer devido a exposição politica.

 

“Esta sociedade foi criada com o intuito de absolver no mercado angolano as estruturas da (Arosfram Golfrate e Muteba), pertencentes ao Sr Kassim Tejedinne com a finalidade de dar continuidade a grande estrutura de distribuição alimentar a população mais desfavorecida , tendo me sido confiada  essa responsabilidade de gestão pelo Estado angolano , que aceitei , o desafio sem qualquer hesitação.”, escreveu o empresário na exposição em posse do Club-K.

 

Segundo a exposição “Em Abril de 2011 iniciou se as negociações com o Sr Kassim Tejedine, para certificarmos das existências de mercadorias em stock nos armazéns e avaliar-se as mesmas para que fosse atribuído o valor real, tendo essa concertação sido dirigida pelo Dr Rui Ferreira, na presença das partes interessadas sendo o signatário, o  Sr Kassim e o Sr Shadi.”

 

“No dia 07/06/2011 foi elaborado e assinado pelo Sr Rui Ferreira o contrato de compra e venda do património e dos activos , do ramo comercial do Grupo Arosfram, que haviam solicitado o valor de USD 327 381 406, 00 após o processo do inventario ficou negociado e acordado no valor total de USD 144 585 230 36.”

 

“Como desde o inicio foi sempre minha intenção de potenciar a NDAD, tive a preocupação de informar, aos parceiros, através de vários relatórios enviados, o apoio financeiro , para fazer face, as restruturações e importações, o que nunca veio a acontecer, tendo sido o signatário, a autorizar varias ordens de pagamento, localmente e no exterior do pais , com fundos próprios.”

 

“Sempre na perspetiva de melhorar as condições da sociedade, fiz chegar a minha preocupação a Exma senhora Marta dos Santos, que me solicitou por escrito o documento que seria entregue a sua Excia Camarada Presidente, nunca pensando que os parceiros interpretariam como sendo uma traição.”

 

“Perante estes factos, em Março de 2013, convocaram me para uma reunião, aonde foi me proposto, a redução das minhas quotas para 10% e as restantes 50% seriam atribuídas aos antigos combatentes que obviamente não concordei.”

 

“Foi anunciando dias depois que deveria ceder a gestão da sociedade, a alguém que seria designado, acto que ocorreu no dia 08/06/2013 no edifício do CIF,  24 andar (escritório do general Dino) tendo me sido apresentado o novo staff para a gestão da mesma, de imediato solicitei a auditoria do período em que esteve sob minha gestão e o reconhecimento do valor por mim injectado na empresa para garantia dos stock e fornecimento de bens alimentares””.

 

“Em 14/07/2013 assinei o contrato de promessa de cessão de quotas com os novos sócios (Sr Paulo Cesar e Samaro Albino)”.

 

“No dia 14/08 2013 desloquei me a Luanda somente para o propósito de assinar a procuração para os novos gestores (Sr Paulo Rasgado e Sr Samaro Albino) que foi realizado com sucesso mas no entanto quando ao meu regresso ao aeroporto, por motivo incerto o general “Dino” interditou a saída do meu jacto privado.”

 

“Por tal situação , comecei a notar algumas retaliações , tendo mesmo sido privado de concorrer em alguns programas do governo, bem como no desbloqueamento de pagamento em divisas, das operações e contratos concluídos.”

 

“Conforme acordado no contrato e relatório da deloitte, apurou se o valor de ÜSD 57 000 000, 00 mais USD 25 523 490 e perfaz um total de USD 82 523 490 que deveria ser-me ressarcido por se tratar de fundos próprios, que injectei na sociedade.”

 

“Como não concordaram, em Junho de 2014, foi me feita uma contra-proposta de  USD 26 000 000, 00 que imediatamente respondi por carta a NDAD que não concordava com o valor proposto, assim sendo solicitaram uma nova auditoria, da conta Angodis, por causa dos valores por mim solicitado”

 

“Auditoria finalizada, em Fevereiro de 2015, onde comprovaram USD 13 000 000,00 e negando dois  pagamentos por mim considerado importante, que foi um cheque equivalente de USD 10 000 000,00 milhões e outra transferência de USD 2, 200 000 00, a um fornecedor Remia. Na qual houve um contestamento junto da delloite no dia 12.02.2016 por e-mail, para fazer-se a retificação do anterior relatório, o que não aconteceu devido a um artigo que saiu no Club-K, no dia 25.02.2016 onde dizia que eu havia intentando uma ação contra o General Dino , informação essa falsa, mas que no entanto permitiu que o General Dino interditasse todo o processo até a data presente.”

 

“No dia 25 de Fevereiro, independentemente das contas não estarem fechadas e nem haver um mapa de pagamento ou a intenção de ser feita no momento e agindo de boa fé fez-se a assinatura da cessão de quotas  da sociedade, para os novos sócios, tal como o acordo de confissão e pagamento da divida, para posterior pagamento assim que o segundo relatório de auditoria terminasse.”

 

“Desde 2013, exactamente a 3 anos, que aguardo pacientemente com todo respeito e dedicação aos meus parceiros que haja , pelo menos a intenção de reembolsar os valores que foram devidamente verificados.”

 

“Resumindo, a sociedade que durante a minha gestão tinha um nível de vendas de USD 5 000 000 , 00 por dia a nível nacional, presentemente , não acredito que faça hoje um terço do valor, tendo em conta a conjuntura do pais, bem como não ter havido na altura a injeção de total e a reposição do stock.”

 

“Na minha resumida exposição, venho respeitosamente solicitar ao excelentíssimo, Senhor Presidente da Republica, que se encontre uma solução plausível sobre o que acima relatei.” Fim de citação.


Nascido no Chade, Vincent Miclet, viveu em Angola desde 1999, e passou a gerir negócios dos generais da presidência depois de ter sido apresentado ao general Manuel Vieira Dias “Kopelipa” pelo antigo responsável da logística da Casa Militar, general Afonso Lopes Teixeira «Led». Atualmente vive entre França e Marrocos.

 

Desde que entrou em contradição com os sócios angolanos deixou de visitar o país com receio de que lhe acontecesse alguma maldade. Em Junho de 2016, Vincent Miclet esteve prestes a ser detido pelas autoridades angolanas quando tentou entrar para o país (transportado no seu avião privado) a pretexto de reaver alguns dos seus negócios. As autoridades não conseguiram prender-lhe porque entrou com um passaporte diplomático (numero 15BD19419) emitido pelas autoridades do Benin.

 

No passado dia 21 de Outubro, fez chegar uma direito de resposta ao Club-K, por intermedio do seu advogado Alexandre Pegado prometendo usar todos “os instrumentos constitucionais aceites e permitidos” para recuperar direito do seu patrimônio que alega terem sido usurpados, em Angola.

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