Luanda - Uma plateia recheada de um público heterogéneo e ávido por mergulhar nos mistérios de uma casa geograficamente próxima, mas imaginariamente distante do cidadão. Ali, nas cercanias do escritório do Chefe de Estado, foi lançada ontem, em Luanda, “Notícias do Palácio – o primeiro ano do mandato do Presidente João Lourenço”, de autoria do jornalista Luís Fernando, uma obra esperada com aplausos, por uns, e com ojeriza, por outros.

Fonte: Club-k.net

Luís Fernando é o secretário para os Assuntos de Comunicação Institucional e de Imprensa do Presidente da República de Angola, João Lourenço, sendo nesta condição que constitui um observador participante dos actos do seu chefe, sente os bastidores e acompanha os movimentos dos corredores do poder. Enfim um anotador de factos para a imprensa, para estudiosos do poder e para a posteridade.


Talvez seja por este facto que o “Notícias do Palácio” se converteu, mesmo antes de conhecer a luz do dia, numa verdadeira obra controversa, com posições extremadas a resvalarem para o pessoal. Aliás, não seria diferente quando se sabe que, até ontem, grande parte dos detractores de LF não tinha lido uma página da obra sequer, o que representa uma verdadeira desonestidade intelectual.


Aconselha a ética académica e o bom senso – inclusive o senso comum evocado por alguns desses críticos – que, não existindo obra perfeita, a crítica deve conter os dois nós – o positivo e o negativo – mas fundamentada, preferencialmente, num ensaio ou numa recensão crítica, graças a uma leitura minuciosa, honesta e, minimamente, objectiva.


Este tipo de exercício não se faz ao calor da emoção, ao sabor do populismo cibernético, no afã de agradar os seguidores. A crítica a uma obra é um exercício que envolve grande responsabilidade quer do ponto de vista conceptual e/ou técnico quer do humano.


O “Notícias do Palácio”, para quem o lê sem nenhum tipo de preconceito, é uma descrição do que se passa na Colina de São José, é o reabrir da porta de uma casa que sempre esteve confundida com uma unidade militar intransponível, e de onde saíam ordens superiores a partir de um ser omnipresente, omnisciente e omnipotente. A maioria dos cidadãos desconhecia os meandros do escritório do seu presidente. No fim do mandato, o eleitor não tinha ideia do que o seu representante fazia, de facto, e como tomava as decisões em nome de quem o elegeu, naquela casa cor-de-rosa, dominada por verde militar.


Os detractores de Luís Fernando estão em contracorrente da filosofia política, imprimida pelo Gabinete de João Lourenço, talvez por quererem mais lutar contra o autor do que descobrir os pergaminhos de um Presidente que pretende pôr fim ao “misticismo” do Palácio”. O local de trabalho e as acções do Presidente da República envolvem mais factos, muitos deles curiosos e até hilariantes, do que os veiculados pela imprensa, devido às limitações técnicas dos próprios gêneros jornalísticos.


No Palácio, trabalham homens de carne e osso que produzem factos, que se emocionam, choram, riem, tropeçam e caem. O Palácio tem histórias para contar, produz factos para estudiosos e para a posteridade. É nesse ângulo que deve ser vista a obra de um dos maiores jornalistas do nosso tempo posto ao serviço do Palácio.


Quem detém mínimas noções de Ciência Política, de Estratégia ou mesmo de Cratologia, só para citar estes ramos do saber que lidam com o poder, perceberá que a obra de Luís Fernando é uma demonstração de novos tempos, comprometidos com uma nova forma de socialização política visando a afirmação de uma cultura política participativa em detrimento da sujeita e da paroquial que, no passado, predominaram o nosso mercado político.


Quem caracteriza “Notícias do Palácio” como “orgias bajulatórias” de um secretário do Presidente da República para os Assuntos de Comunicação Institucional e de Imprensa deve estar, ele mesmo, a sofrer de algum mal só comparável ao do miúdo que nunca vai à caça, mas que atribui ao outro menino caçador o dom de feitiço.


Em linguagem rasteira, esta atitude deveria ser qualificada como a “dor do cotovelo”, a ingratidão ou a deslealdade. Qualquer um desses termos encaixa-se muito bem no acto dos nossos iluminados, os sabe tudo, na medida em que esses críticos acirrados parecem-nos ser “amigos” do autor. Gente com carácter agiria de outra forma: ler antes a obra, tomar notas e dialogar com o autor sobre as discordâncias. Não ler o livro e qualificá-lo como um instrumento de bajulação revela um monumental desconhecimento do conceito de bajulação.


A obra de Luís Fernando é uma reportagem e não uma opinião. Os jornalistas, melhor do que eu, sabem estabelecer a diferença entre um género informativo e um analítico. O texto não endeusa João Lourenço, o chefe do autor, que o nomeou apenas para trabalho e não em troca de “orgias bajulatórias”.


Aliás, em contraponto àquilo que os detractores de LF designam por bajulação está também uma turba de chantagistas emocionais que recorre a esta arma subterrânea para galgar na vida, em detrimento de quem trabalha. Normalmente, esses caranguejos são tão arrogantes que apresentam as suas ideias como as mais sublimes, não admitindo qualquer hipótese de estarem equivocados. Não está escrito em nenhum manual didáctico que o porta-voz só escreve sobre a actividade do Presidente no fim do mandato ou em caso de ser afastado ingloriamente do cargo, como “sugere” um desses detractores iluminados, que, pasme-se, considera normal que um servidor se retalie do seu antigo chefe por ser afastado. Já se vê quem vive em contraponto da ética e da deontologia profissional.

*Especialista em comunicação estratégica