Luanda - Continuo a pensar que estamos numa direcção pouco assertiva em relação à imprensa. Tenho visto várias actividades, promovidas pelo Ministério da Comunicação Social, que visam mostrar um suposto caminho certo para a nossa imprensa pública e privada. Tem essa legitimidade. O MCS é regulador, a par da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERCA). Ou seja é um jogador e árbitro ao mesmo tempo, com respaldo legal na Lei n.°1/17, de 23 de Janeiro, a Lei de Imprensa.


Fonte : Club-k.net

MCS devia "corrigir o que está mal" na comunicação pública

Este é um problema de raiz que precisa de ser resolvido com alteração da respectiva Lei. Penso que nunca é demais estarmos em processos de formação contínua. Faz bem a todos rever conceitos e discutir ideias para se evoluir. A iniciativa destas actividades, publicitadas na imprensa, é "louvável" (com aspas). Com aspas porque é sempre bom termos especialistas de comunicação à frente de uma sala, preenchida com outros especialistas de comunicação, a discutir ideias sobre como podemos evoluir mais rápido na missão de comunicar com rigor, imparcialidade, isenção, verdade, honestidade, objectividade, com vista a satisfazer o direito de informar e de ser informado, como espelha a Constituição da República de Angola. Este é o lado positivo das aspas. O lado negativo mostra que são os próprios comunicadores - que deviam estar a comunicar factos de Interesse Público - que se têm tornado "notícia".


Hoje o MCS está a organizar um fórum (mais um), uma mesa redonda, em Luanda para se falar sobre "Boas Notícias". E é esta parte que mais me deixa com uma pulga atrás da orelha (as tendências!), a julgar pelos conteúdos divulgados pelos media públicos. Se olharmos para os destaques na capa do Jornal de Angola, durante 30 dias - só para citar um exemplo -, vamos verificar que o referido jornal diário público, que circula em todas as províncias, faz exactamente igual ao que se fazia no passado: propaganda para o Executivo. A única diferença é que o "Executivo" tem à frente um novo rosto. A "linha editorial" - que o público angolano que garante os salários dos profissionais da comunicação pública ainda não sabe o que é - mostra ser a mesma.


Reparem que a "Operação Transparência" trouxe ao público factos relevantíssimos. Outros jornais destacaram. E não recebem mensalmente  dinheiro dos angolanos! Quem tem a obrigação de esclarecer factos que colocam em causa a integridade da Nação não divulgou/divulga todos os lados da história dessa operação. Congoleses, por meio do "Novo Jornal", que destacou na capa, para além de outros jornais "privados", na hora da "expulsão" do país, exibiram Bilhetes de Identidade, cartões de eleitor e de militante do MPLA, mostrando que afinal vivemos num país cujas instituições que deviam ter autoridade moral para com os cidadãos nunca funcionaram de forma correcta. É um facto gravíssimo que não devia ser esquecido com histórias de "condecorações". O Jornal de Angola apenas destacou a "Operação Transparência" no sentido positivo para os ventos do Executivo. Era o que fazia com José Ribeiro, no tempo de José Eduardo dos Santos. Victor Silva faz o mesmo! A "Operação Resgate", em curso, provocou vários pronunciamentos de figuras de partidos políticos da oposição e da sociedade civil. O Jornal de Angola apenas destacou o lado positivo que favorecem os ventos do Titular do Poder Executivo. É isto que significa "Boas Notícias"? O contraditório (o outro lado da moeda) - a desfavor do Executivo - nunca é destaque nos orgãos de comunicação social públicos. O Executivo continua a não ser escrutinado. Só é destaque matérias que mostrem que tudo o que se fez no passado está errado - menos a "eleição" de João Lourenço a Presidente da República.


Daí que não interessasse, pela minha cabeça, para a imprensa pública, mostrar que o próprio Titular do Poder Executivo pode não ter AUTORIDADE MORAL para combater todos os males do passado, incluindo o publicitado "combate à corrupção". Será por isso que as detenções ficaram apenas no populismo? Será por isso que ninguém foi ainda julgado? Será por isso que ainda não se sente o nosso dinheiro devolvido aos nossos bolsos? Algum "detido" podia/pode mostrar que João Lourenço nem sequer ganhou mesmo as nossas eleições? Pode-se fazer várias interpretações da "omissão" do caso congoleses nos orgãos públicos.


O contra-senso é que vemos o departamento ministerial, que devia "corrigir o que está mal" na comunicação pública, a ser ele próprio "a notícia". Aliás, Luís Fernando, secretário do Gabinete de Comunicação Institutional e Imprensa do presidente da República também já se tornou "notícia" com as suas "Notícias do Palácio". Ou seja, os especialistas de comunicação que deviam estar a "corrigir o que eventualmente estivesse mal" no processo de comunicação pública para satisfazer o Interesse Público despido de "inclinações" é que se estão a tornar - eles próprios - "NOTÍCIA".


Talvez seja isso, na óptica de quem dirige a imprensa pública agora, o conceito de "BOAS NOTÍCIAS".