Cunene - Excelência Dra Maria Cândida, é com alegria e apreensão que lhe dirijo este rascunho de contributos para o normal funcionamento e melhoramento da educação, como é o vosso propósito como Ministra da Educação. Acredito que o meu sentimento de alegria e de apreensão é extensivo aos outros agentes educativos espalhados por esta Angola profunda que labora à sombra de uma qualquer árvore planta por Deus nas poeirentas e lamacentas terras ricas deste país. Sem falar do sol e dos atalhos íngremes e côncavas que trilhamos no dia-a-dia do nosso heroico trabalho como professores e diretores.

Fonte: Club-k.net

No dia 30 e 31 de Outubro de 2018, a Senhora Ministra da Educação e a Senhora Laudemira Gomes de Sousa, Diretora Nacional do Gabinete dos Recursos Humanos do MED, expediram documentos a convocarem, para os dias 5-17 e 12-19 de Novembro e 1-10 de Dezembro, respetivamente, os Titulares de direção e chefia, para se deslocarem às sedes provinciais para o processo de cadastramento, assinatura dos contractos de Provimento e da Supervisão do processo de transição dos docentes.


Este processo é bem-vindo e saudamos o trabalho e o empenho do MED para o bem de todo os seus agentes educativos, que somos todos nós. Também compreende-se a pressa de “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, sobretudo com a pressão exercida pelo SINPROF.


Todo esse processo, com alguns pormenores a melhorar, acredito que irá dignificar a educação e a carreira dos agentes educativos em Angola. Todavia, penso que o timing escolhido e os procedimentos realizantes não são os mais adequados. O Memorando, assinado entre o MED e o SINPROF, calendarizou as ações a realizar, mas infelizmente não se cumpriram as datas por culpa do MED. E porquê sobrecarregar agora os professores com o cadastramentos em tempo de provas e exames em que deveriam estar concentrados com os alunos para o momento mais complexo das suas vidas? E como é possível convocar os agentes educativos, nesta fase do ano, no prazo de 5 dias? Porquê é que o MED não tem o calendário dos seus trabalhos e ações e avisar os agentes educativos com tempo de pelo menos dois ou um mês de antecedência ou até ao menos 20 dias? Depois voltamos sempre a ter os mesmos problemas de “fantasmas no sistema” e de professores suspensos a trabalhar sem salário e a lhes pedirem patriotismo no limite da jante-no-asfalto e que vossas mercês nunca se sacrificam. Claro que nem todos os diretores e outros agentes convocados vão conseguir se fazerem presente. Depois é outra maka mais.


Falando a partir do Kunene, penso que a Senhora ministra não conhece minimamente a realidade desta província e de outras províncias, desta Angola profunda, com as mesmas caraterísticas geográficas como as nossas, com as distâncias dos diversos municípios para as sedes provinciais, no nosso caso Ondjiva. Trabalhar num gabinete em Luanda, com ar condicionado, com o carro à porta e motorista a espera, com estradas asfaltadas e com os bancos ao alcance da mão, não é a mesma coisa como trabalhar num município aonde não chega nenhuma estrada e nem há nenhuma agência bancária para levantar dinheiro quando se precisa. Pena é que a Ministra não visita todas as outras províncias de Angola. Por isso, erra sempre nos timings e nos procedimentos.

 

Senhora Ministra, como é possível, nesta altura mais delicada do ano letivo, com provas e exames a decorrerem, com problemas ainda não resolvidos de suspensões de salários, convocar para as sedes provinciais os Diretores, Subdiretores, Coordenadores de Curso, de Turno e de Disciplina?

 

A Senhora ministra não sabe que são esses agentes educativos que asseguram o normal funcionamento das escolas e, sobretudo, com mais incidência no final de cada ano letivo?

 

A Senhora ministra percebe o constrangimento que causa às escolas nesta altura?

 

A Senhora ministra sabe mesmo qual é a distância e as dificuldades de ir a Ondjiva vindo do Curoca, das comunas do Cuvelai, das comunas da Cahama, das comunas de Namacunde, lugares aonde não chega estradas e, por isso sem carros, e andar a pé ou de bina ou de motos a longas distâncias com o risco de ficar pelo caminho e de não voltar às escolas?

 

Para citar algumas sedes provinciais, a Senhora ministra sabe as distâncias e dificuldades de ir a M’banza Congo saindo de Nóqui ou do Soyo; ir ao Uíge saindo de Quimbele ou de Bembe; ir ao Luena saindo do Cazombo ou do Lumbala; ir ao Huambo saindo de Bimbe ou do Cuima; ir a Menongue saindo de Luina, Savate ou do Mucusso; ir a Lucapa saindo de Luremo, Xa-Muteba ou do Cuangar? Sinceramente, penso que a ministra devia pensar mais nas províncias onde os professores tem sérias dificuldades, do que pensar que Angola é só Luanda onde há estradas e meios de transportes para chegar até à sede provincial. O processo pode ser bom para a carreira dos professores, mas é feito numa altura delicada e desapropriada. Tratar de documentos e, pior ainda, submeter os diretores e outras chefias à entrevistas, é desgastante emocional e psicologicamente nesta altura.

Não é esta altura do campeonato que se devia tratar desse processo. Senhora ministra, deixe os alunos e os professores fazerem as suas provas e exames sem perturbações. Os cadastramentos são desgastantes em Angola e ainda mais convocar os agentes educativos a percorrer longas distâncias com sérias dificuldades nas suas escolas nas aldeias recônditas para as sedes provinciais, é extremamente desumano. Porquê não manda os seus agentes ao encontro dos diretores e outros, ao menos às sedes municipais?

 

Os seus agentes do MED têm subsídios de deslocação, de alojamento e de alimentação, por isso, deviam ser eles a irem aos municípios em vez de ficarem sentados nas sedes provinciais, na boa vida a espera dos diretores. Só falta o cúmulo de ouvir dizer que todos os professores são convocados, nesta altura dos exames e provas a deixarem os seus alunos, para se apresentarem em sedes provinciais para o cadastramento. Senhora ministra, tenha a prudência e o juízo que lhe exige a responsabilidade de gerir os recursos humanos em condições de sapatos sem sola.


Viva a Revolução de paradigmas Viva Angola para os angolanos.