Luanda - O Presidente da República concedeu, recentemente, em Luanda, uma interessante entrevista ao semanário português “Expresso”. Na sobredita entrevista, magistralmente conduzida pelo jornalista Gustavo Costa, João Lourenço admite sem tergiversações que conhece todos aqueles que traíram a Pátria e tiveram acesso irrestrito à restrita “mesa dos arcanjos”. Dito de outro modo: as autoridades do Estado angolano conhecem todos aqueles que sabendo que a corrupção mata(va) mais que a guerra, não se coibiram de fazer deste fenómeno a arma primacial para caucionarem a morte de inúmeros e inermes angolanos.

Fonte: Facebook

Por exemplo, o Estado angolano deveria ser processado pela morte do poeta e funcionário bancário António Panguila, no último fim de semana, à porta do Hospital Josina Machel por falta de dinheiro. Falo disso, acreditem, com a dor lancinante de um menino politicamente acanhado num País em que as autoridades resistem em dar espaço à tão propalada e abençoada Justiça Social há muito prometida.

 

Os traidores da Pátria e adeptos incondicionais da corrupção acapararam-se dos dinheiros de todos nós para se transformarem na putativa “elite” dos dias de hoje, com o fito de dar sequência à política colonial portuguesa de triste memória: a de subjugar os milhões que têm pouco ou mesmo nada, roubá-los e dar-lhes “fuba podre/peixe podre e porrada se refilarem (sic!) ”. Ou seja: os traidores da Pátria e larápios escondidos atrás de “gravatas e de colarinhos brancos” andaram a (re)colonizar-nos ao longo destes anos todos, desta feita com a cobertura jurídico-constitucional de um Sistema Judicial mafioso composto por magistrados mafiosos que também se dedica(vam) a negócios, sobretudo ao contrabando jurídico que, por sinal, soma e segue de vento em popa sem a contraposição da albujarrona para fazer com que a galera não mais continue a sulcar as agitadas águas políticas angolanas.

 

(Faço este desabafo com um gemido (in)contidamente calado!).

 

Ora, a questão é a seguinte: se são conhecidos os traidores da Pátria e todos aqueles que andaram a delapidar o património de todos nós, então por que razão as autoridades dos Estado não cumprem a sua obrigação?

 

Por que razão os Serviços de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) e a PGR não entram em cena para ajudar o Titular do Poder Executivo, João Lourenço, a mostrar, de facto, que estamos num outro estágio e que já é possível acreditar, no modus faciend, de quem está à testa da direccção política e administrativa do Estado ?

 

A inacção das autoridades do Estado traduzem, quanto a mim, a mais perversa das prevaricações e um insulto de todo tamanho à inteligência de todos nós. É que se são conhecidos os traidores da Pátria e todos aqueles que se apropriaram indevidamente do dinheiro de todos nós, então quer dizer que as autoridades estão a ser relapsas no que tange às medidas que deviam ser tomadas para moralização da Sociedade.

 

(Escrevo, neste momento, chorando, com a dor de não puder chorar).

 

Há – salvo melhor opinião – um patrocínio tácito à ideia segundo a qual o crime em Angola, afinal, compensa. Só assim se pode entender que todos aqueles que traíram a Pátria e se abotoaram com dinheiros públicos andam pelas ruas das cidades angolanas, impunes, serenos e a assobiar para o lado, com o olhar sobranceiro a destratar o povo porque as detenções já não mais irão acontecer.


19.11.2018
Jorge Eurico