Luanda - Há dias, numa palestra numa universidade, Lopo do Nascimento, o primeiro primeiro- ministro de Angola independente, revelou um estado de espírito da mulher que se mantém há 40 anos: não consegue perdoar. Os irmãos de Maria do Carmo Nascimento foram mortos pela Unita e ela até conhece quem foi um dos mentores dos assassinatos. Convive com ele na Assembleia Nacional, mas, ainda hoje, não consegue estender-lhe a mão.

Fonte: Nova Gazeta

Esta incapacidade de perdoar (ou de esquecer) ainda valoriza mais o esforço de João Lourenço em querer reconciliar-se com a História e com os protagonistas. Mas, por outro lado, revela a impossibilidade (ou a grande dificuldade) de se fazer um amplo movimento de reconciliação, como ocorreu na África do Sul. Não só pelo passado mais distante como pelo ’27 de Maio’, que tantas feridas tem ainda para sarar. Somos diferentes. Temos culturas e origens religiosas distintas.

 

Não se pode condenar Maria do Carmo Nascimento por isso. Certamente, há pouca gente com essa qualidade de perdoar quando nos matam alguém que amamos.

 

Ainda hoje, ‘Dinho’ Chingunji, o sobrevivente da família Chingunji, esforça-se todos os dias para recordar quem lhe dizimou os parentes, da forma mais cruel e violenta: Jonas Savimbi. Está prometido para o próximo ano o lançamento do livro com a tragédia da família contada ao detalhe.

 

 

Daí que também seria impossível – como muita gente defendeu – juntar na lista de homenageados,como heróis nacionais ou combatentes pela independência, _guras como Jonas Savimbi ou mesmo Holden Roberto, ao lado de Viriato da Cruz, Deolinda Rodrigues e tantos outros. Por exemplo, uma das escolhas de João Lourenço foi precisamente Eduardo Jonatão Chingunji, o patriarca da família. Imagine-se o que seria juntar, na mesma lista, o carrasco e a vítima.