Luanda - Não me causou estranheza a notícia da “Nova Gazeta”, segundo a qual estudantes do 5º ano do curso de Matemática da Faculdade de Ciências da UAN queriam ver-se livres de uma docente que lhes estava a barrar o caminho para a licenciatura.

Fonte: Club-k.net

Não causou estranheza, porque sou professor na UAN e vivo nesta sociedade cheia de doenças e de egos exacerbados, que o nosso sistema de educação vem inculcando nos jovens desde tenra idade, ao ponto de se acharem os melhores, até com mais sabedoria que os próprios mestres.


Não causou estranheza, também porque já fui vítima desse tipo de comportamento por parte de jovens estudantes mimados, que não se importaram de inventar mentiras a meu respeito, apenas por acharem que deveriam ter melhores notas (uns) ou por não irem com a minha cara ou com o formato das minhas orelhas (outros).


O que causou estranheza foi verificar que existem, na UAN, autoridades que sancionaram esse tipo de comportamento de jovens estudantes, ao invés de os disciplinarem e porem na ordem, como seria seu dever de autoridades universitárias.


Causou, pois, estranheza, que a Dra. Maria de Natividade tivesse sido demitida de Chefe do Departamento de Matemática, por não alinhar pelo diapasão das facilidades que os estudantes tanto desejam. E mais estranheza ainda, quando soube que terá sido suspensa da actividade docente enquanto decorre um processo disciplinar. Para disciplinar o quê e quem não se sabe, pois quem realmente precisa de ser disciplinado está a bater palmas de contente. Sem saber que as decisões terão realmente sido contrárias aos seus objectivos enquanto “futuros profissionais de competência duvidosa”.


Lamentavelmente, os nossos estudantes falam bem de quem lhes facilita a vida e maltratam quantos são rigorosos e exigem conhecimento e disciplina. O sistema de educação e as famílias são os maiores responsáveis por isso – e tudo indica que continue a não haver uma luz no fundo do túnel, contrariamente aos discursos oficiais por parte das autoridades universitárias.


E a Dra. Maria de Natividade, que até merecia uma medalha de mérito universitário por exigir rigor, disciplina e aprendizagem, é mais uma vítima de um sistema caduco, que teima em não mudar.


Não é que este caso também me faz recuar no tempo, para recordar 2010, Benguela e outras gentes a favor da corrupção e da maledicência?

OS TEMPOS MUDARAM MESMO?

Desde o discurso de investidura do novo Presidente da República, notamos uma completa mudança no tom e no discurso. O tom ficou mais cordial e mais de acordo com a expectativa do cidadão comum. E o discurso, mais de acordo com o projecto de desenvolvimento que se pretende para o país.


Mas, do mesmo modo que verdadeiros monstros como os Ministérios da Educação e da Saúde não conseguem organizar um simples exame para concurso público de ingresso, com cumprimento de horários, também ao nível do ensino superior continua sem se cumprir as orientações contidas nos “discursos rumo ao progresso” do Chefe de Estado.


Os discursos das autoridades universitárias até não mudaram muito, mas estão de acordo com a orientação. A prática é que são elas, pois não está em sintonia com a orientação, nem com o discurso. E para quem tinha dúvidas a este respeito, o exemplo da Dra. Maria de Natividade é elucidativo: continuam a vingar a fraude, a maledicência e a incompetência. E os estudantes ditam sim regras, numa instituição que se pretende seja uma faculdade (ou uma universidade, ou um instituto superior).


É, pois, chegada a hora de encerrar para balanço. Verificar o que está a ser mal feito (e há muita coisa que está a ser mal feita no ensino superior!), sanear as instituições onde se vendem diplomas (a troco de propinas ou de comparticipações financeiras, por cima ou por baixo da mesa, ou ainda com medo de ameaças dos estudantes) e afastar a ideia de eleições em instituições completamente viciadas, comparando-as com instituições idênticas lá de fora, onde existe o mínimo de rigor e onde os estudantes cumprem regras e não ditam regras.


Enquanto isso não acontecer, não tenhamos ilusões: nem sequer em 100º lugar estaremos em África, quanto mais num dos dez primeiros lugares…