Luanda - Por força da crise pós-eleitoral de 1992, Abel Chivukuvuku não conseguiu retirar-se de Luanda, onde na companhia de militantes oficiais generais actualmente nas FAA e na polícia teve de permanecer.

 

Fonte: Club-k.net


No balanço dos  acontecimentos que ensombraram o período a seguir as eleições, lembro-me como se fosse hoje da imagens transmitidas pela televisão, reportando um Abel enclausurado numa enfermaria cadeia do hospital militar de Luanda, com a tíbia de uma das pernas partida, engessada. 


Das sequelas, para  um observador atento não passa despercebido o seu andar mancado. Naquela altura, a visita que recebeu no hospital onde se encontrava acamado do amigo, o embaixador  norte-americano Jeffrey Davidow foi, creio, de uma valia inestimável. Em muito terá contribuído para o aliviar do sofrimento da pressão a que de repente se viu sujeito naquela contingência, passando de mero farrapo à reputação para um tratamento mais digno, enquanto prisioneiro e sobrevivente traumatizado por ver companheiros de jornada partir.


Abel Chivukuvuku formado em ciências políticas pela UNISA, Universidade Sul Africana e mestrando pela mesma instituição é um dos exemplos acabados de resistência às tentações de um regime bem calculista e oportunistamente aliciador.


À seu tempo jovem dinâmico com visão extraordinária do futuro que cativou corações da juventude de todos os extractos sociais, não era por acaso que Jonas Savimbi se referia ao  trabalho de mobilização que desenvolvia. Disse-o no Lubango.

Porém, os seus dotes que o colocam como jovem prodígio que chegou, viu e conquistou o meio urbano,  custam-lhe todos os dias manifestações de ódios, sobretudo  por parte de um reduzido grupo, que foi ao longo dos anos, capaz de influenciar a actual direcção.


Enquanto Secretário para os Assuntos Constitucionais e Eleitorais, o homem tornou o seu trabalho tão notável  que cedo começaram as intrigas sobre uma pretensa candidatura à presidência da República. Cansado deste ambiente, resolveu pôr o seu lugar à disposição!


Este indigesto quadro, explica que Abel, para não entrar num ostracismo, como os seus carrascos gostariam, se veja na necessidade de se apresentar solícito à intervenção pública, lá onde é convidado a fazer.


Tão perceptível é a pretensão de  “liquidá-lo politicamente” através de um sistema de intriga de sobrevivência.


A derrota do Chivuku não foi obra do acaso, urdida na base de um discurso de segregação anti-intelectual e sustentado num conservadorismo protestante ortodoxo de figuras que consciente ou inconscientemente estão a diluir o partido.


Abel Chivukuvuku neste momento dedicado a investigação é um reiterado convidado das organizações da Sociedade Civil . O homem, tudo indica, é na verdade mais querido na sociedade, fora dos tais pequenos algozes no seio do seu partido.

 

A sua mais recente intervenção que teve lugar no auditório da Universidade Lusíada, com transmissão em directo na rádio Ecclesia. Foi muito interessante. Com Chivukuvuku a ser solicitado para responder a questões colocadas quer da plateia, de onde arrancou fortes aplausos, quer dos ouvintes que puderam fazê-lo através da internet.

 

Com a figura à  “monta”  pelo regime directamente, ou através de tentáculos seus bem infiltrados em  sectores do seu partido, Abel merecia ter uma oportunidade para que faça da UNITA uma força dinâmica.

 

Não seria bom ver este partido desfalecer numa transição prolongada. Sejam muitos a apoiá-lo para que não se realize a vontade de uns poucos: a de extingui-lo a si e a sobrevivência da organização.