Luanda - Com o tenebroso e peçonhento concurso de uma doença, a morte levou, nesta quinta-feira, em Luanda, o corpo do radialista (era assim que ele, em bom rigor, estimava apresentar-se às pessoas) Mário Inácio, até então ao serviço da Luanda Antena Comercial - LAC.

Fonte: Facebook

A voz do Mário Inácio sumiu da brisa desta vida escabrosa, facto que desperta uma dor que tortura o meu coração com requintes que só é possível adjectivar com o apoio de uma Gramática que por ora não tenho à mão.


Todavia, fica o consolo do legado técnico-profissional do Mário Inácio; que fez escola entre muitos que hoje “dão cartas” na nossa profissão. Mário Inácio morreu, o seu corpo vai ser enterrado nas próximas horas. Mas a sua obra estará, segura e garantidamente, imortalizada na memória de quem teve o privilégio de privar com ele e de trata-lo por “Tu”.


Tive a subida honra de ser colega, amigo e, em muitos casos, cúmplice do Mário Inácio. Guardo comigo memórias das nossas aventuras e desventuras nos becos e vielas de Luanda e nas avenidas e não menos córregos da cidade de São Filipe de Benguela.


O que dizer, na verdade, nesta hora de pesar à dor da Dona São e aos filhos?


Manda a verdade dizer (à Dona São, aos filhos – e não só! - que o País perdeu um “homem bom”, que ainda tinha muito a dar para esta nova Angola; as redacções perderam um radialista (jornalista) que tinha noção de classe, de facto; não lixava colega nenhum e muito menos se deleitava quando um jornalista caísse em desgraça ou estivesse em apuros. Numa só palavra: Era um camarada!


Impele-me a verdade a dizer que o radiojornalismo angolano perdeu um excelente profissional.


Obriga-me a verdade a revelar que quem não provou o “pato à Mário Inácio”, jamais provará iguaria igual, pois foi-se um cozinheiro de mão cheia nas horas livres.


A verdade compeli-me a dizer que as artes marciais perderam um amante e praticante sem igual.


A verdade impõe-me a dizer que quem nunca privou com Mário Inácio perdeu a oportunidade de saber como era fino o humor do homem nascido em Malange, mas que se fez menino, moço e homem em Benguela.


A verdade não me quer deixar terminar esta modesta prosa sem dizer o seguinte: por estes dias em que a convivência entre profissionais da mesma classe é profundamente marcada pela canalhice e insincera camaradagem de muitos pulhas, sentirei, eternamente, a tua falta como amigo verdadeiro e verdadeiro amigo.


Adeus Mário Inácio, adeus Marito, adeus camarada e, como não poderia deixar de ser, vai com Deus! Por cá, vou-me quedando, projectando o melhor, esperando o pior e aceitando de ânimo igual o que Deus quiser!