Luanda - Como cidadão angolano gostaria de expressar a minha solidariedade à greve dos médicos, devido o estado lastimável e a pouca vergonha que se vive nos hospitais do país.

Fonte: Club-k.net

É consabido por todos, a situação das nossas unidades hospitalares que vão desde o mau atendimento, as enchentes de pacientes, há falta de médicos, medicamentos, equipamentos, falta de recolha adequada do lixo hospitalar, material cirurgico e até de alimentos para os pacientes internados, factos que propiciam o contágio de novas infecções ou doenças.


Nada mais, nos resta, senão reconhecer os riscos a que os médicos estão sujeitos no exercício da sua profissão, sobretudo neste país, onde tudo falta, desde os meios técnicos de diagnóstico aos materiais de bio segurança.


Na verdade, a saúde em Angola, tal como a educação e outros sectores do Estado, padecem de uma epidemia denominada de “Paralisia do Estado”. A mesma, afecta todo o sistema nacional de saúde, que vem se degenerando de forma gradual e acentuada ano, após, ano. Afectando, deste modo as políticas do sector, as infra-estruturas, o sistema de abastecimento, distribuição de medicamentos, equipamentos, médicos, enfermeiros e pessoal técnico administrativo.


Apresentado o diagnóstico do sector da saúde, facilmente podemos concluir que o Sistema Nacional de Saúde em Angola, precisa de uma terapia de choque, a fim, de sair do estado moribundo em que se encontra. Não é concebível, que um país da dimensão de Angola não tem uma política nacional de “seguro de saúde obrigatório”, para os funcionários públicos, e quem quer que seja, assegurando como é óbvio a saúde dos próprios médicos, que trabalham em condições de alto risco, sujeitos a contaminação de diversas doenças. Mas, mais alarmante do que isso, é a forma indigna e desumana, como o governo angolano trata os médicos, com salários de miséria, sem subsídios atractivos para o exercício da profissão, sem condições condignas de habitabilidade, fora das localidades para que os médicos lá possam permanecer, exercendo as suas actividades de modo condigno e adequado.


Todos sabemos da crise económica ou financeira que o país atravessa, e da necessidade que qualquer angolano, de bem, tem em querer trabalhar, como forma de suprir as suas necessidades e dos seus famíliares. Mas, por incrível que pareça, recentemente, o Ministério da Saúde efectuou um concurso público para admissão de novos médicos para o interior do país, ou seja, fora das sedes municipais. Resultado, quase ninguém se candidatou para o preenchimento das vagas existentes no interior do país. Isto, deve servir de aviso para aqueles que têm a função de governar e de administrar o sector.


Como é possível, o país não tem médicos e o Estado não está a conseguir atrair a contratação destes profissionais? Sinceramente, algo vai muito mal, e deve ser corrigido com urgência!


Nada mais nos resta, senão, apoiar os médicos pelo sentido patriótico, corajoso e humilde que, os mesmos, tiveram em constatar a doença que afecta o sector, do qual são parte integrante, exigindo medidas curativas, por parte de quem tem a responsabilidade de disponibilizar, as doses dos antidótos necessários, para mitigar ou extirpar os efeitos malignos que este vírus, vem causando ao sector e ao actual sistema nacional de saúde, por sinal, já caduco, e não se recomenda aos desafios actual do país.


É preciso que o governo trace novos objectivos na cooperação da saúde com Cuba e traga outros players, para estabelecer novos acordos no domínio do equipamento técnico e gestão hospitalar, formação contínua para os médicos e treinamentos de acordo ao uso das novas tecnologias neste sector, com países mais desenvolvidos e avançados nestes domínios.
O meu apelo vai á todos funcionários públicos, trabalhadores, empresários e sociedade angolana em geral, devemos todos nos juntar a esta greve dos médicos, para que os políticos saibam que a saúde é uma questão estruturante e fundamental em qualquer sociedade. Logo, não pode estar sujeita aos caprichos legalísticos, por parte, daqueles, cegos que só olham para legalidade dos grupos ou das organizações sindicais, ignorando a legitimidade e o sentimento, daqueles que labutam todos os dias no terreno, e que há muito clamam no deserto, para que os governantes olhem a questão da saúde em Angola com seriedade.


Uma grande franja de angolanos, hoje, sente-se obrigada a viajar para a Namíbia, África do Sul, Tanzania, Portugal, Brasil em busca dos serviços de saúde, as vezes, até os mais básicos, porque o país, não oferece condições adequadas em termos de saúde.


Se, os nossos governantes apostassem no sistema de saúde do país, a nossa classe média, se, sentiria aliviada do peso financeiro que são obrigadas a ter de suportar, nas idas ao estrangeiro, em busca de cuidados médicos básicos. Tudo isto acontece, devido à inacção do Estado, e daqueles que têm a responsabilidade de nos governar. Será, que este dinheiro que é gasto no estrangeiro pelos angolanos em busca de saúde! Não se poderia gastar aqui no país? Para benefício da nossa economia, dos médicos angolanos e dos expatriados e técnicos que trabalham com sacrifício abnegado em prol da saúde e da nação? Bem-haja a greve dos médicos heróis angolanos.