Luanda - A ministra do Ensino Superior, Maria do Rosário Sambo, pode correr em contraponto ao discurso político do momento, assente no estímulo à meritocracia e no fim ao facilitismo no subsistema do Ensino Superior, caso trabalhe com coração ao invés de cabeça na análise de uma reivindicação de docentes que não transitaram de categorias no último concurso de provimento administrativo.

*Livanga Manuel
Fonte: Club-k.net

MINISTRA ENTRE A MEDIOCRIDADE E O RIGOR CIENTÍFICO

O alerta veio de um membro do Sindicato de Professores do Ensino Superior que acompanha o processo e se mostra contrário à falta de rigor e ao pretenso populismo nesse subsistema de ensino superior.


A ministra recebe esta terça-feira, às 9h00, no seu gabinete, em Talatona, um grupo de docentes da Universidade Agostinho Neto que, por manifesta incapacidade de cumprir com os requisitos para a sua promoção na carreira docente (de professores auxiliares para associados e/ou de associados para catedráticos), foram chumbados no concurso.


As normas do concurso estabelecem que, para se sair de professor auxiliar a associado, exige-se a publicação de apenas um artigo científico durante os últimos três anos de avaliação, enquanto para catedrático, além do mínimo de um artigo, o candidato é submetido a uma prova pública que consiste na apresentação de uma aula magna.


Pasme-se o leitor, os docentes não transitados, num número inferior a dez, endereçaram carta à ministra do Ensino Superior para a sua promoção, alegando o facto de terem ficado desde 2012 sem promoção. Ou seja, até 2012, reuniam requisitos para transitarem de categoria, já que muitos deles têm artigos escritos até àquele ano.


O argumento desses docentes assenta no princípio de não retroactividade de lei que defende o não prejuízo do réu pelo surgimento de uma nova norma que contrarie a anterior. Mas o que a direcção da reitoria da Universidade Agostinho Neto considera é apenas uma publicação dos últimos três anos, na medida em que um Ph.D. (a maioria dos queixosos tem o grau de doutor) deve ser um produtor e não apenas um reprodutor de saberes.


Uma outra fonte contactada pelo Club-K considera repugnante a atitude desses docentes que “no lugar da vergonha, estão a exigir a legitimação da sua incompetência académica, espelhada inclusive nas próprias cartas que enviaram a entidade superior do sector – erros de todo o tamanho e de bradar ao céu”.


A fonte diz que a ministra, competente que é e defensora da produção científica, estando alinhada ao discurso político do momento, “deverá solidarizar-se com a universidade e não dar azo a uma reivindicação, sem nexo, de professores com insuficiências que põem
em causa a sua própria formação. É que alguns deles nem sequer foram capazes de apresentar uma aula magna. Pareciam meninos chegados do ensino médio”, asseverou.


A fonte diz ainda que, fruto da sua não transição de categoria, o grupo desses docentes está a enveredar por chantagens, denunciando, com o amadorismo que lhes assiste, práticas inexistentes. “O objectivo é obrigar a ministra a exonerar as actuais direcções (mais rigorosas) da reitoria e faculdades e, em contrapartida, se levarem ao topo indivíduos que acomodem o facilitismo, a mediocridade e, inclusive, práticas de fraude académica”, atirou.