Luanda - Factos são factos, mas é preciso que enxerguemos para além dos factos. João Lourenço investiu muito na sua imagem lá fora. Quem não viu? É um facto.

 

Fonte: WhatsApp

Andou a viajar pelos quatro cantos do mundo para mostrar um discurso de ruptura ao seu antecessor, quando se questiona se há mesmo ruptura entre eles, quando ele diz que a sua relação com JES é boa. Se é boa, por que se queixou dos "cofres vazios", obrigando o outro a reagir com "Reservas Internacionais Líquidas"? Pura contradição. Ou não têm comunicação ou estão a gozar com a cara dos angolanos! São factos.


É claro que a "surpresa" (de promessas) agradou o mundo, visto que ele assumiu combater a corrupção dentro do seu próprio partido. No entanto, é um presidente que, cá dentro, deixou muito a desejar neste ano. Ao nível da imprensa, só para citar um exemplo, a TPA programou entrevistas com os presidentes dos partidos com assento no Parlamento. João Lourenço não deu o seu exemplo, embora o seu opositor directo (Samakuva) também não tenha ficado bem na fotografia ao não ter dado o seu exemplo. João Lourenço desprezou a TPA, onde ele próprio é o chefe, já que é ele que nomeia o Conselho de Administração da TPA. Contradição. São factos. Investiu na sua visibilidade lá fora, ignorando os órgãos de comunicação social angolanos. Não deu nenhuma entrevista exclusiva a nenhum órgão nacional, priorizando os estrangeiros.


Como não se torna a "figura internacional do ano"? Quem mais fez isso? Jair Bolsonaro? Xi Jinping? João Lourenço foi o único que investiu muito na sua imagem fora de Angola, acima dos outros que aparecem em segundo e terceiro lugar, respectivamente. São factos. Todo o mundo já sabe o que significa a "colectiva" em que os angolanos participaram. Ao nível do combate à corrupção, deu um tempo de moratória para o repatriamento de capitais. No entanto, na colectiva, não conseguiu dizer quem já repatriou, se alguém repatriou, quanto já foi arrecadado, apenas ficou no discurso, para não variar, apontando que ainda é cedo para se fazer balanço, numa pura contradição. Depois de um timing dado por si, que ele próprio é que decidiu, tinha, sim, a obrigação de fazer o balanço da medida. Surtiu ou não efeito?


O governador do BNA disse que ainda não há repatriamento, mas o ministro da Justiça disse que já há repatriamento. Há ou não há? E o presidente da República também não diz se houve repatriamento? Como pode haver transparência nesse combate com discursos contraditórios?


Como agora diz que só tem início, não tem fim e que quem vier a substituí-lo vai dar continuidade a uma medida que faz parte da sua cabeça? Ou está a assumir que a estratégia que está a seguir no combate à corrupção pertence aos seus chefes (os donos do mundo) e os seus sucessores serão obrigados a seguir também? Se os donos do mundo estão atrás desse combate, qual é o espanto que João Lourenço seja a figura internacional do ano se eles é que mandam no mundo? São factos.


Podia apontar outras contradições de João Lourenço, como os "cofres vazios", etc., que afinal não eram zerados, que afinal tinha sim dinheiro para pagar exactamente 6 meses de salário - se tomou posse em setembro, podia pagar setembro, outubro, novembro e dezembro (4 meses) e contar com as receitas que entrariam no OGE deste ano para a Conta Única do Tesouro e ficaria com um remanescente de dois meses de salário do país para outras coisas (que não explicou) - mas fico por aqui. Tudo para dizer ser normal que lá fora olhem para João Lourenço como a figura internacional do ano, mas que cá dentro não significa grande coisa, pois ele investiu, com os "cofres vazios", na sua imagem em mil e uma viagens que fez, com "pactos" com estrangeiros que nós, angolanos, desconhecemos.


Portanto, essa indicação de "figura internacional do ano 2018" para João Lourenço não me diz rigorosamente nada. E penso que nenhum angolano - que pensa fora da caixa - devia estar feliz, quando a nossa vida interna não mudou. Pelo contrário, piorou.