Abu Dhabi - Íntegra do discurso pronunciado nesta terça-feira, Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, pelo Presidente da República, João Lourenço, na Cimeira do Futuro "Futuro de África".

Fonte: Angop


Abu Dhabi, 15 de Janeiro de 2019

-Sua Alteza

Sheik nahyan bin Mubarak Al Nahyan,

Príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Vice-Comandante Supremo dos Emirados Árabes Unidos,

-Excelências Chefes de Estado e de Governo,

-Distintos Convidados,

-Minhas Senhoras, Meus Senhores,

Agradeço o convite que me foi endereçado para participar nas actividades da Semana de Sustentabilidade de Abu Dhabi, na cerimónia de entrega do Prémio de Sustentabilidade Zayed aos vencedores deste ano, e falar perante tão ilustres personalidades internacionais sobre “O futuro de África”.

Como sabemos África é o berço da humanidade, continente populoso e com tendência a crescer se tivermos em conta que tem das mais altas taxas de fecundidade e de natalidade, e ainda é a maior reserva de recursos minerais do mundo, incluindo o bem mais precioso de todos, a água.

Paradoxalmente, com todo este potencial somos o continente menos desenvolvido do ponto de vista económico, e, portanto com menos capacidade de satisfazer as necessidades básicas das suas populações.

Embora não seja consequência directa e que justifique, a verdade é que viemos assistindo ultimamente a um êxodo massivo de emigrantes em direcção à Europa e outras paragens, em busca de melhores condições de vida, oportunidades de emprego e de superação na vida.

No entanto, este sonho muitas vezes não se realiza, criando quase sempre um profundo sentimento de frustração e revolta.

É caso para nos interrogarmos, em que falhamos, o que nos falta para traçarmos os caminhos de um futuro promissor para África?

A verdade é que, ao longo do tempo, o continente perdeu a favor de terceiros, aquilo que de melhor sempre teve e citei no início desta minha intervenção.

Se, por um lado, perdeu pela via da escravatura os seus melhores filhos, sua mão de obra, continua hoje a perder seus melhores quadros formados nas Universidades dos países mais desenvolvidos, e que os aliciam a ficar para desenvolver as suas economias.

Continuamos a perder nossos recursos minerais, que são exportados em bruto sem criar nos nossos países valor acrescentado e postos de trabalho qualificados.

Excelências

Minhas Senhoras, Meus Senhores!

África precisa de vencer três grandes desafios: Acabar com o analfabetismo, electrificar-se e industrializar-se para se desenvolver.

E, para isso acontecer, precisamos de alterar o sentido das coisas que, como dizia, o que é bom, “mão de obra qualificada e não só, quadros superiores, cientistas e investigadores, valorosas peças de arte, matéria prima em estado bruto, e até fortunas pessoais que deviam servir nossas economias”, continuam a sair de África para o resto do mundo em condições desfavoráveis.

Precisamos de ter a capacidade de fazer o inverso, atrair para África o que há de melhor no mundo como o conhecimento, os avanços da ciência e da tecnologia, o capital, o investimento privado e know-how para transformar localmente nossas matérias-primas. Por outras palavras, precisamos de industrializar o nosso continente.

Só assim vamos criar riqueza e bem-estar para os nossos cidadãos, e emprego como principal fonte para todas as oportunidades.

Vejo o futuro de África com optimismo, porque este sonho é realizável se tivermos em consideração que outros continentes como a Ásia, por exemplo, que conseguiu dar este salto em menos de meio século, tendo passado de importadores para exportadores de produtos de alta qualidade para o mercado internacional, competindo com os países do dito primeiro mundo.

O país que alberga este importante evento, os Emirados Árabes Unidos, e outros países do Golfo, são também um bom exemplo, de como a boa utilização das receitas do petróleo para a diversificação das economias, pode se constituir em caso de sucesso.

África vai se desenvolver, mas defendemos um desenvolvimento sustentado, que respeite e preserve a natureza ainda quase virgem em alguns dos nossos países, nossa flora e fauna protegidas e preservadas, nossos rios protegidos da poluição.

Em benefício do futuro da Humanidade, África com os abundantes recursos hídricos de que dispõe, sol por todo ano e vento a se desperdiçar, deve privilegiar o desenvolvimento e utilização das fontes limpas e renováveis de energia.

Bons exemplos não nos faltam, podemos mudar o quadro actualmente vigente no continente, dependendo sobretudo das decisões corajosas que em primeiro lugar nós, os africanos, viermos a tomar.

Muito obrigado pela vossa atenção!