Luanda - É com grande surpresa que continuo ouvindo indivíduos que se debatem sobre este badalado Caso Cabinda, pelo que achei por bem dar uma olhadela e exprimir o meu sentimento de pavor sobre a minha terra-mãe Khabinda, AKA Tchiowa que tanto amo. Porém, o meu comentário visa os meus compatriotas e irmãos que estão a temperar tudo para mais uma passeata/manifestação pacífica em forma de reclamação de uma independência total de Cabinda em alusão ao 1o de Fevereiro, data histórica da assinatura do Tratado de Simumbuco.

Fonte: Club-k.net


Irmãos, também sou filho desta terra, nasci e cresci aqui e conheço bem as ruas e becos desta pequena cidade e aldeias do interior.

Falar da independência de Cabinda em plano século XXI, acho ser uma manifestação da falta de visão política, falta de visão estratégica e quiçá uma falta de entendimento da actual conjuntura política do mundo em que vivemos e que se desenvolve a velocidade de cruzeiro.


Primeiro, não devemo-nos esquecer que a Constituição da República de Angola – CRA, abrange também o território de Cabinda e que no seu Artigo 3.o, ponto 1 diz: A soberania (da República de Angola é) Una e Indivisível, pertence ao povo, que a exerce através do sufrágio universal, livre, igual, directo, secreto e periódico, do referendo e das demais formas estabelecidas pela Constituição, nomeadamente para a escolha dos seus representantes (...).


No ponto 6 do artigo em epígrafe ainda realça que: O território angolano é indivisível, inviolável e inalienável, sendo energicamente combatida qualquer acção de desmembramento ou de separação de suas parcelas, não podendo ser alienada parte alguma do território nacional ou dos direitos de soberania que sobre ele o Estado exerce.


Aqui vemos bem estampado de que Angola é uno e indivisível, logo, qualquer político e/ou cidadão que tenta transgredir esta lei, não só estará a praticar um crime punível pela lei deste país, mas sim estará a cometer um atentado contra a segurança nacional do mesmo.


Eis aqui onde reside o grande perigo, pois a segurança nacional de Angola está assente na sua estabilidade política e por sua vez, a estabilidade política de Angola não é só do interesse dos Angolanos, mas sim do interesse dos EUA, da Rússia, da União Europeia, da China, da Região dos Grandes Lagos assim como da SADC e da África como um todo. Certamente estes gigantes não têm o menor interesse de ver Angola (re-)mergulhada em algum conflicto militar de grande escala, não só pelo facto de terem imprescindíveis interesses político-económicos, mas sim pelo papel decisivo que Angola conquistou na arena política internacional/regional, tornando-a num parceiro estratégico e credível para solução e pacificação da África.


Outrossim, querer Cabinda independente é sermos não menos ingénuos. Ora analisemos os factos:


Cabinda tem uma população de 712. 000 (dados do INE, senso 2014), sendo que cerca de 40% desta são crianças, i.e. menores de 16 anos assim como os mais velhos/idosos acima de 55 anos, o que nos resta com uma possível densidade populacional de 427.200 habitantes. Deste grosso, se subtrairmos os deficientes, doentes, os que não sabem ler nem escrever, os que estão mal formados (assumindo a realidade da qualidade do ensino nacional), hipoteticamente arrisco dizer que rondaríamos aos 30%, i.e. teríamos uma população de 299.40 habitantes útil para se formar um estado de direito (Exército-3 ramos, Polícia Nacional – Todas as suas divisões, Instituições de estado, função pública, técnicos do sector petrolífero..., etc, etc.). Há alguém que acredita que esse estado teria alguma sobrevivência?


Querem criar uma república tendo os cantores e dançarinos de Kintueni (adoro o Ntunga Nzola) como Engenheiros das petrolíferas e funcionários públicos das variadas especialidade que se necessita para fazer um dado departamento funcionar com profissionalismo?


Por outro, qual é a probabilidade de que uma vez Cabinda independente (nas condições supracitadas), os Congoleses de ambos os lados não nos invadem em menos de 24 horas e sermos submissos talvez a piores sistemas políticos e piores condições sociais? Será prudência ou ignorância nossa se optarmos por andar de cavalo à jumento? Qual é a probabilidade de haver uma intensificação de conflitos internos pós-independência (típicos da região)?


Ainda alguém acredita que em caso de um conflito de grande escala em Cabinda, as potências mundiais estariam indiferentes? Ou há alguém que pensa que essas grandes potências, a África e o mundo inteiro estão interessados em ver uma Cabinda independente mas em guerra?

COLOCANDO OS PONTOS NOS ÍS E OS TRAÇOS NO TÉS!


É sabida a muda e/ou passiva animosidade que existe entre nós os Cabindas (Woyo, Yombe, Linzi e Sundi). Desde que Cabinda tivera ganho o estatuto de Província, não me lembro ter visto um Muyombe, um Mulinzi ou Mussundi ocupando algum cargo de renome no Executivo Central nem Provincial (os mais velhos que me corrijam caso esteja equivocado). Todos os Governadores, Ministros e Vice-Ministros que alguma vez representaram a Província de Cabinda SEMPRE foram da mesma tribo Woyo. Algumas vezes já ouvi o termo YOMBE LIANGA TEBE (Muyombe que come banana

– Uma referência pejorativa que caracteriza os Bayombe, Bassundi e Balinzi como gente do mato).


Esta luta interna de poderes tem sido reflectida até as estruturas militares que supostamente lutam e clamam para uma independência total de Cabinda, como no caso das FLEC-FAC, FLEC-RENOVADA, FLEC-FDC assim como na própria realidade da presente sociedade Cabindense.


No actual governo, se há algum Cabinda (independentemente do seu partido político) é certamente da tribo Woyo. Uma pergunta que não se cala: SERÁ TUDO ISSO COINCIDÊNCIA? Onde andarão os Bayombe, Balinzi e Bassundi nesta hipotética república de Cabinda quando estes nunca foram tidos nem achados na actual história política que se vive com a República de Angola?


Não estou sendo tribalista nem estou a fomentar o tribalismo em Cabinda nem em outras partes do território nacional, mas sim estou aqui para apontar que existem grandes perigos camuflados por trás destes intentos de uma independência de Cabinda.


Escuso-me citar nomes, mas todos sabemos que, todas as vozes que se levantaram sobre este caso tiveram um objectivo único: Serem acomodados no Governo Central e Provincial e à estes cabe também o dever de virem a tona e se pronunciem dos seus verdadeiros planos individuais quem têm realizado e deixarem de se servir da inocência dos pobres cidadãos com promessas de uma Cabinda independente como escada para alcançar os céus.


Acho que já é mais do que tarde em se pôr termo às propagandas baratas, evitarmos emoções e finalmente compreendermos que temos sido enganados este tempo todo pelos nossos próprios irmãos que por sua vez se deixam redondamente enganar, pensando que uma possível independência de Cabinda é assunto particular da República de Angola e de Portugal.


É preciso percebermos que não só mudaram os tempos, mas sim também a forma de fazer política. A actual conjuntura política é muito mais abrangente, mais aberta, mais diplomática e até táctica-tecnológica e, no caso dos meus irmãos que clamam por uma Cabinda independente, suscitam fortes reticências...


Quando a política deixa de ser uma missão e se torna uma profissão, os políticos se tornam mais egoístas do que servidores públicos. «Emmanuel Macron»

MBOTE YENO!