Luanda - “Tenho muito mais dinheiro do que isso”, afirmou o alegado bilionário tailandês, Raveeroj Rithchoteanan, ontem, durante a segunda audiência de julgamento do mediático “Caso Burla à Tailandesa”, que corre os seus trâmites no Tribunal Supremo, em Luanda

*PAULO SÉRGIO
Fonte: Opais

O arguido, considerado líder do grupo de expatriados, surpreendeu a audiência e deixou o juiz da causa perplexo ao confirmar a autenticidade do cheque e que os 50 mil milhões de dólares que investiria em projectos sociais e humanitários em Angola ainda se encontram na sua conta bancária domiciliada no Bangko Sentral das Pilipinas (Banco Central das Filipinas, em português).

 

O juiz da causa, Domingos Mesquita, indagou-o sobre como foi que conseguiu construir uma fortuna dessa dimensão, ao que, sem rodeios e seguro de si, o arguido, de 51 anos, respondeu que começou a trabalhar aos 10 anos de idades e, desde então, só ficou parado um ano, por se encontrar preso no país. “Sou muito boa pessoa e trabalho a ajudar os outros”, enfatizou. Disse que depositou o referido cheque, com o número, 4518164, datado de 24 d Novembro de 2017, numa conta bancaria domiciliada no Banco de Negócios Internacional (BNI), criada em nome de uma empresa que estava a ser constituída, simplesmente para o guardar. Essa decisão foi tomada para manter o cheque e os documentos que o acompanham em segurança, evitando ter que andar com ele onde quer fosse.

 

Segundo o suposto bilionário, o cheque de 99 mil milhões de dólares, apreendido pelos efectivos do Serviço de Investigação Criminal no seu quarto no hotel Epic Sana, também é autêntico e só não foi depositado por não ser destinado a aplicar em Angola. Explicou que o Banco Central das Filipinas passou o cheque de 50 mil milhões de dólares em nome da sua empresa, Centennial Energy (thaland), Company, somente para provar às pessoas que o convidaram para vir investir em Angola, bem como ao Executivo, da sua capacidade financeira. Entretanto, citou o nome da directora administrativa desse banco central, que horas antes de ele vir ao nosso país, viajou de Manila, capital das Filipinas, à Bangkok, capital da Tailândia para lhe entregar os documentos, incluindo o cheque, no aeroporto dessa cidade.

Dinheiro só viria à Angola após assinatura de acordo com o Governo

Surpreso por ter sido questionado se não depositara o cheque no referido banco para que o dinheiro fosse transferido da Tailândia para Angola, respondeu “Oh…. Não era para isso. Nem o próprio BNI tem capacidade para receber essa quantia”, frisou. Domingos Mesquita voltou a questioná-lo sobre o mesmo assunto, ao que respondeu que o dinheiro não veio à Angola antes de ele ter sido preso porque tal só aconteceria quando a sua empresa, Centennial Energy Thailand, Company e o Estado angolano assinassem o acordo. Instado pelo juiz da Câmara dos Crimes Comuns do Tribunal Supremo a esclarecer por que razão foi ao BNI dizer que havia sido transferido os valores para a conta da empresa Centennial Energy Angola, que ainda nem sequer tinha personalidade jurídica, negou.

 

De forma calma e pausada, sob a tradução de um jovem de 32 anos contratado pelo Tribunal, contou que sete dias depois de terem aberto a conta, o banco enviou-lhe uma carta anunciando a sua suspensão por dois motivos: designadamente, estavam ilegais porque o visto de fronteira já havia caducado; em segundo, pelo facto de o estatuto da empresa ainda não ter sido oficializado em Diário da República. Face à essa situação, solicitou à pessoa que gere a sua conta bancária que enviasse o swift e as coordenadas bancárias que, posteriormente, apresentou ao BNI. Raveeroj Rithchoteanan esclareceu que o documento que tem os swuift, que dizem ser falso, foi é scaneado e enviado para si, em Angola, por uma funcionária do Banco Central das Filipinas. Sem causar prejuízo a partilha de código entre as instituições bancárias dos dois países.

O juiz recorreu a uma declaração do BNI, que diz que entrou em contacto com o Banco Central NG das Filipinas, que alega não reconhecer nenhuma conta bancária em dólares norte- americanos e nem ter emitido o cheque em nome da Centennial Energy Tailand, Company. Surpreso, o alegado bilionário tailandês questionou se o documento foi impresso pela máquina de imprimir swift do BNI, tendo obtido um sim como resposta. “Posso ter um exemplar? Está autenticado? A máquina reproduziu o documento autenticado?” Ante a confirmação do juiz Domingos Mesquita de que o documento foi passado pelo banco acima mencionado, pediu que passassem- no ao seu advogado para consulta. Era a primeira vez, ao fim de três horas de interrogatório, que Raveeroj Rithchoteanan recorria ao seu defensor. Os advogados analisaram os dois documentos e mais um elemento despertou a atenção deles: o original data de 13 de Novembro de 2017 e a tradução, feita em Angola supostamente por profissionais do BNI, data de 11 de Novembro do mesmo ano.

 

Isso é, aparentemente a tradução foi feita antes da emissão do documento. “Eu conheço os documentos originais deste tipo”, frisou. A seu pedido, o oficial de diligência exibiu-lhe o documento para que pudesse analisar e a sua reacção foi inesperada. “Não reconheço esse documento como original. Impresso por uma máquina de swift. Este documento não é aceitável”, declarou, para, de seguida, questionar aos juízes se gostariam de saber o porquê da sua afirmação. A resposta positiva era justamente a que esperava naquele momento. “Porque sempre que o banco quiser acusar alguém deve enviar o documento autêntico impresso pela máquina que imprime swift. Deve ser assinado por dois directores. Parece que essa é fotocópia de um documento e vocês acreditam”, frisou, mais ou menos nesses termos. O seu desabafou não parou por aqui. Acrescentou de seguida que “estão a me acusar por isso? Porquê que o BNI quer me meter em problemas com esse país? Isso é inaceitável. Esse documento não é autêntico. Querem incriminar-nos. Somos inocentes”.

Bilionário justifica pagamento das suas contas

Adão Pedro, um dos três integrantes da instância do Ministério Público, indagou-lhe: “se tem tanto dinheiro como diz, como é que se alimentava à custa de outros”? Respondeu que utilizaram as despesas de outras pessoas mas também tiveram as suas. Tal ocorreu porque, por estarem a trazer dinheiro a Angola, os seus parceiros, os angolanos e canadianos, quiseram lhes agradar e entreter. “Deixaram-nos à vontade ao seu próprio custo. Eles estão felizes. É uma situação em que eles ganham e nós ganhamos”, frisou, tendo acrescentando que tal felicidade se deve ao facto de estarem a trazer dinheiro e os seus parceiros ficariam com percentagens do negócio que variam entre cinco, dez e 50 por cento. “Isso é uma prática normal.

 

As pessoas que nos convidam gastam connosco. Faz-se isso para provar que também têm algo para nós dar”, frisou. De realçar que a cooperativa Ondjo Yetu gastou mais de 56 milhões de Kwanzas com o alojamento e alimentação da delegação de expatriados no hotel Epic Sana. Este processo tem como arguidos quatro cidadãos de nacionalidade tailandesa, quatro angolanos, um eritreu e um canadiano, sobre os quais pesam acusações de crimes de tentativa de burla por defraudação na forma frustrada, associação criminosa, falsificação de documentos e uso de documentos falsos, promoção e auxílio a imigração ilegal, entre outros.