Luanda - Quando duas pessoas criam uma “sociedade conjugal”, o grande objectivo é serem felizes. No rigor, é isso que as pessoas tacita ou expressamente combinam, muitas vezes sobre os auspícios de homens ou mulheres do clero e olhar silencioso de Deus, que os abençoa independentemente de ser um casamento formal ou um enlace tradicional, este último comummente designado alambamento.

Fonte: Club-k.net

Contrariamente o que se pode pensar, na interação bilateral ser feliz não significa necessariamente ter muito dinheiro ou algo similar, mas sim, poder ter a benção de acordar todos dias, receber o carinho do(a) parceiro(a), ter filhos e poder vê-los crescer tranquilamente, respeitar e ser respeitado(a) e, de modo geral, realizar o projecto que inspirou-os a intensificarem o vínculo amoroso.

 

Infelizmente, tenho constatado que muitos casamentos (uniões de facto incluídas), não geram aos seus protagonistas a desejada felicidade, devido a arrepiante e abominável violência doméstica, mais concretamente, a violência contra mulher.

 

Esta última, constitui um grave desvio aos propósitos da união conjugal e geralmente ocorre devido a irritante e “incompreensível” resistência que alguns homens têm de reconhecerem o relevante papel da mulher na nossa sociedade(para muitos a mulher é vista como uma propriedade), emancipação, desajuste nos padrões educacionais de base, ciúmes, embriaguez, desemprego, sem esquecer a aversão ao término do relacionamento.

 

As consequências destes fenómenos negativos redundam em verdadeiros crimes contra a dignidade da pessoa humana, disseminados em violência física (socos, bofetadas, chutos) psicológica (humilhações, ataques verbais, insultos) sexual (sexo contra vontade ou privação de sexo) e patrimonial (não prover o sustento), tudo com o intuito de provocar dor.

 

Obviamente que isso carrea um permanente estado de tensão emocional, mutilação psicológica dos menores, degradação do ambiente familiar e, nos casos mais graves, a morte.

 

Quem ama não provoca dor, sofrimento e mal estar. Muito pelo contrário, dá carinho, atenção e se esmera para o alcance da felicidade da pessoa amada e, consequentemente, contagia o agregado familiar, incluindo os filhos.

 

Estes, devem ser gerados, nascer e crescer num ambiente de paz e harmonia, elementos que os ajudam a tornarem-se naquilo que a nossa Angola precisa: bons cidadãos.

 

A questão que se coloca prende-se em saber como combater a violência contra a mulher.


A vítima de violência deve assumir este combate como seu e estar na linha da frente. É ela que mais sofre com a irracionalidade violenta do parceiro e com os prejuízos que dai derivam para os filhos.


Por este facto, é fundamental compreender quando, subitamente, ela decide abandonar o lar ou a companhia do parceiro, actos que manifestam uma negação de continuar a viver da aparência, cujo fim último é agradar terceiros.


Com isso, não estou a dizer que o primeiro exercício deve ser o abandono do lar ou fazer uma participação criminal (embora para nós esta última deve ser o caminho), mas sim, que é importante renunciar ambientes física e emocionalmente violentos que instam a pessoa a permanecer mais tempo fora de casa, porque sabe que nesta não encontra a desejada paz.

Outrossim, existem vários instrumentos jurídicos que repelem a violência doméstica, incluindo aquela praticada contra mulher. O principal é a Lei nº 25/11 de 14 de Julho, Lei contra a Violência Doméstica, diploma que, entre outros, visa prevenir, combater e punir os agentes dos actos da violência objecto deste tema (alínea a do artigo 1º).

Portanto, é nosso entendimento que, em sã consciência, nenhuma mulher aceita um pedido de casamento para ser objecto de violência física e/ou psicológica. Quando ela ocorre (ou se possível, antes disso), é preciso coragem para pôr um liminar fim, independentemente de existir sentimentos ou outro elemento menor, comparado com o bem vida.