Lisboa – O depoimento do general Francisco Higino Lopes Carneiro, durante o recente interrogatório de terça-feira (12), na Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DNIAP) da Procuradoria Geral da República (PGR), terá sido marcado com declarações que no ponto de vista de “insiders” comprometem a imagem do regime agora liderado por João Manuel Gonçalves Lourenço.

*António Gonçalves
Fonte: Club-k.net

 Dinheiro do GPL usados para campanha do MPLA  

O general, segundo confidenciaram ao Club-K, ao responder sobre o tema da corrupção acabou por dar pistas sobre informações relacionadas aos métodos que o MPLA recorre para ganhar eleições em Angola.

 

No início da sessão de interrogatório, Higino Carneiro alertou que não tinha muito por dizer sobre o que lhe estava a ser confrontado, mas acabaria por dar a sua opinião sugerindo que se a PGR pretender, de facto, desbaratar o tema em causa (combate à corrupção) teria de convocar a então porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), Júlia Ferreira, e interroga-la sobre em que moldes o actual Presidente da República foi declarado vencedor para “ocupar a cadeira em que se senta.”

 

Carneiro, segundo a fonte, terá exaltado as suas credenciais militares em prol do país, realçando que não se deveria combater a corrupção de forma selectiva, como se esta a fazer, tendo desafiado a convocação da então responsável da CNE para explicar o que ele, na altura dos factos, secretário provincial do MPLA em Luanda, terão feito para o João Lourenço ser declarado vencedor, nas últimas eleições gerais. A mensagem atribuída ao general foi de que o seu partido recorreu a meios desonestos para ganhar às eleições gerais.

 

Higino Carneiro foi formalmente acusado de alegada gestão danosa de bens públicos, praticados enquanto governador da província de Luanda, no período entre 2016 e 2017.

 

O seu processo decorre desde meados do ano passado. Porém, foi em finais de Novembro de 2018, que instrutores da PGR teriam interrompido as investigações após terem realizado um rastreio das contas do GPL, em que terão dado conta de fundos que entraram para contas controladas pelo Comité Provincial do MPLA de Luanda, e por sua vez, usados para a campanha eleitoral deste mesmo partido, para pagamento dos seus fiscais eleitorais.

 

O uso de recursos do Estado para apoiar as campanhas do MPLA tem sido uma realidade em Angola, levando com que a UNITA apresente queixa ao Tribunal Constituição para a impugnação dos resultados. Nos outros países chama-se a isso de corrupção eleitoral.


A par do favorecimento do MPLA por parte da CNE, o Tribunal, nas últimas eleições, desvalorizou as queixas do maior partido da oposição, alegando que tal não implica qualquer nulidade dos resultados.

 

De lembrar que João Lourenço ganhou as eleições de 2017 com 61,70% dos votos. Os resultados foram inicialmente anunciados pelo porta voz do MPLA, Jú Martins, sem antes ter havido contagem dos votos. Na altura, o dirigente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior reagia alegando que “de certeza que a CNE tirou os resultados do gabinete do Jú Martins, secretário dos assuntos eleitorais e políticos do MPLA, não tem outra forma porque eles não saíram de nenhuma província”.