Luanda - O deputado da UNITA, maior partido na oposição em Angola, Raul Tati, disse hoje que há um "descontentamento crescente", sobretudo dos jovens, sobre a situação da província angolana de Cabinda, afirmando não acreditar "nas promessas das autoridades".

Fonte: Lusa

"Há um descontentamento crescente, sobretudo da parte dos jovens, relativamente à situação geral em Cabinda, e aqui não podemos falar apenas de situações sociais, como são os casos de desemprego, os projetos que não vão para frente, mas a própria situação política de Cabinda ainda prevalecente", disse hoje em Luanda.

 

Eleito em 2017 pelo círculo eleitoral de Cabinda, enclave no Congo a norte de Angola, o deputado da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), falava em conferência de imprensa de balanço sobre a visita de constatação relativa aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos em Cabinda, efetuada nos dias 01 e 02 deste mês.

 

Pelo menos 63 jovens do autodenominado Movimento Independentista de Cabinda (MIC) estão detidos por pretenderem fazer uma marcha alusiva ao dia 01 de fevereiro, o 134.º aniversário da assinatura do Tratado de Simulambuco, segundo as autoridades.

 

Em finais de fevereiro, O Governo angolano confirmou à agência Lusa a existência de detenções de membros de um "autodenominado movimento independentista" em Cabinda, que "pretendiam alterar o quadro institucional de unicidade" de Angola, pelo que o processo corre os trâmites judiciais.

 

Questionado pela Lusa, o ministro do Interior angolano, Ângelo da Veiga Tavares, indicou que a situação no enclave de Cabinda "está tranquila" e que os respetivos processos estão "em segredo de justiça", pelo que resta agora aguardar pelas decisões judiciais.

 

Nesta conferência de imprensa, a UNITA denunciou que "continuam a morrer" angolanos em Cabinda, "vítimas de um conflito mal resolvido", considerando que naquela província, os cidadãos são tratados de forma "arbitrária e autoritária".

 

"O grupo parlamentar da UNITA já não pode aceitar que em tempos de paz morram angolanos em Cabinda vítima de um conflito mal resolvido", disse hoje, Adalberto Costa Júnior, presidente do grupo parlamentar da UNITA.

 

Segundo Raul Tati, os jovens em Cabinda, muitos nascidos depois de 1975, após a independência de Angola, "aos poucos vão ganhando consciência de que o conflito não foi bem resolvido".

 

"E até mesmo fazem afrontas à geração que está a passar, e agora entenderam arregaçar as mangas e, segundo a sua estratégia, pensam que se pode resolver definitivamente o problema com o ativismo atual", realçou.

 

O deputado da UNITA disse "não acreditar nas promessas das autoridades", situação que deixa as populações locais sem "qualquer entusiasmo".

 

"Quem já recebeu muitas promessas que não foram cumpridas certamente não terá muito entusiasmo em aceitar novas promessas, este é o estado de ânimo da nossa população", apontou.

 

"Nós em Cabinda recebemos muitos projetos de impacto social, projetos que a maior parte nunca saiu da cartola, alguns começaram e paralisaram, portanto, há qualquer coisa que não funciona", considerou ainda o deputado.