Lisboa - Depois de ter visto os seus poderes esvaziados na empresa de telecomunicações angolana Unitel, onde deverá arcar com o pagamento da “parte de leão” da dívida de 600 milhões de dólares à brasileira Oi, Isabel dos Santos arrisca-se agora a perder também influência no Banco de Fomento Angola (BFA) e a vir a sofrer os efeitos da mão pesada da Justiça angolana.

*Gustavo Costa
Fonte: Expressa

A sua sistemática recusa em apresentar-se na Procuradoria-Geral da República (PGR) para ser ouvida no âmbito do processo por si movido contra a Sonangol, segundo apurou o Expresso, levou aquela instituição a transformar o inquérito que lhe havia sido instaurado num processo-crime.

 

“Estando a sua atitude na origem da paralisação da ação a deixar-nos de mãos atadas, não tínhamos outra saída senão avançarmos agora com um processo-crime a partir do qual poderemos vir a contar com a colaboração de outras instituições de investigação criminal no estrangeiro com quem temos acordos de cooperação”, disse ao Expresso fonte da PGR.

 

Esgotada a paciência das autoridades judiciais, este processo está longe, no entanto, de ser a única dor de cabeça para a empresária angolana.

 

Posta em cheque pelo Tribunal Arbitral de Paris que exibiu provas referentes à transferência de dividendos a favor da Vidatel — o seu veículo na Unitel — contra a alegada falta de divisas para proceder da mesma forma em relação à Oi, Isabel dos Santos viu há duas semanas ruir as últimas esperanças para permanecer agarrada à sua liderança.

 

E agora vai ter de enfrentar o poder da aliança estabelecida entre a operadora brasileira e a Sonangol: “Ela subestimou o poder do Estado ao ter tentado desafiá-lo e nunca pensou que os conflitos gerados com a sua gestão na Unitel viessem a constituir um fator de união entre dois dos seus parceiros contra a sua liderança”, afirmou um jurista conhecedor do processo.

 

Esta aliança, ao vir a dar lugar proximamente à formação de uma comissão executiva que será constituída por dois representantes da Oi e um representante da Vidatel, deixa a filha de Eduardo dos Santos sem qualquer margem de comando.

 

Com a entrada em funções desta comissão executiva, que vai gerir o dia a dia da empresa, nos círculos afetos a Isabel dos Santos adensa-se o receio de virem a ser destapadas nuvens sombrias que pairam sobre a sua anterior gestão.

 

“Há pagamentos e transferências ordenados por Isabel dos Santos à margem dos restantes acionistas cujos destinos precisam agora de ser devidamente esclarecidos”, defende fonte da Oi.

 

As preocupações da nova liderança da Unitel, segundo apurou o Expresso, estendem-se também a São Tomé e Príncipe onde há suspeitas de alegadas irregularidades praticadas por Isabel dos Santos na gestão da empresa naquele país.

Lugar na administração da Unitel em risco

O seu futuro no conselho de administração da Unitel também pode vir a ser posto em causa por outras razões. “Não podemos ter alguém no conselho de administração que, não vivendo em Angola, não participe nas suas reuniões ou que queira tomar posições à distância por via de teleconferências”, advertiu uma fonte da Sonangol.

 

Perdido o controlo da Unitel, o mesmo poderá agora vir a acontecer no BFA onde é acusada de ter instrumentalizado a parte angolana de um conselho de administração que é partilhado também com os espanhóis de La Caixa.

 

“Ela colocou peões da sua conveniência que lhe permitem ditar as regras do jogo a favor dos seus interesses e não vamos continuar a permitir ter no banco um presidente (Mário Silva) que é um pau-mandado de uma pessoa”, denunciou fonte da Sonangol, que, através da Unitel, em parceria com a Oi e a Geni, detém o mesmo nível de participação no BFA que Isabel dos Santos.

 

Nesta nova investida, à semelhança do que acontecera na Unitel, a petrolífera angolana volta a contar novamente com a Oi como seu principal aliado.

 

Se na maior empresa de telefonia móvel de Angola a frente comum formada pela Sonangol e pela operadora brasileira constituiu o maior obstáculo à tentativa de Isabel dos Santos de se perpetuar na liderança da Unitel, ao nível do BFA são os espanhóis que se sentem agora também incomodados por terem na sua estrutura acionista um parceiro em conflito aberto com o Estado angolano. “Vamos ter que impor uma nova ordem na gestão do banco”, diz fonte da Sonangol.