Luanda - Embora o processo de reflexão de JES em torno da sua sucessão tivesse momentaneamente bloqueado com a morte de Serra Van-Dúnem, é óbvio, contudo, que de lá para cá evoluiu sensivelmente.

 

Fonte: Semanario Angolense 

 

Principais barões do MPLA deixados de fora

É verdade que em matéria de nomes mantém-se a nebulosidade. Mas, descontando-se qualquer maldade ou bondade em torno do modelo de eleição presidencial despoletado recentemente pelo próprio Presidente da República, há sinais de que estamos a chegar ao fim do túnel.

 

Depois de ter hesitado durante muito tempo se vai ele mesmo ou não, através da sinuosa sugestão das eleições indirectas, José Eduardo dos Santos mostrou que quer correr o pano. Só lhe falta decidir quem é o «afilhado» que lançará ao jogo.

 

Fontes do Semanário Angolense garantem que depois da tentativa frustrada com Pitra Neto e o malogro da ideia Serra Van-Dúnem – duas hipóteses com as quais visava contentar as correntes conservadoras do MPLA e da sociedade em geral –,neste momento JES está a ponderar seriamente em avançar com opções menos conservadoras e que nitidamente satisfaçam os seus próprios interesses.

 

O Presidente do Conselho de Administração da SONANGOL, Manuel Vicente, e José Filomeno dos Santos «Zenu», o mais velho dos seus varões, são os dois nomes à mesa. Mais do que cogitações, segundo as fontes, são já sérias apostas mesmo a rolarem na prancha ainda que em surdina.

 

Consciente, porém, de que são duas opções de alto risco, José Eduardo dos Santos estaria a ponderar uma engenharia que permita um impacto o mais suave junto da sociedade e do partido. Afinal, nem Zenu nem Manuel Vicente reúnem os pressupostos para serem aceites, sem recalcitração, pelas hostes do MPLA, a começar pela própria velha guarda, já que não são membros do Bureau Político.

 

O ingresso no BP não é propriamente um obstáculo que José Eduardo dos Santos não possa ultrapassar, mas no caso do filho, Zenu, as coisas complicam-se em razão da sua ainda tenra idade.

 

Está acima dos 30 anos, mas tem bem menos do que os 37 que JES tinha quando foi empossado Presidente da República, em 21 de Setembro de 1979.

 

Outro inconveniente, além do mais, está mesmo no facto de ser seu filho. Não é propriamente uma «boa credencial» por soar a nepotismo. Para um Presidente que já anda a braços com a corrupção e o enriquecimento sem causa de toda a confraria ligada ao poder, este pormenor não é de descurar.

 

Nesta conformidade, o PCA da SONANGOL configura a solução mais à mão e menos complicada de ser lançada ao jogo sem incendiar a pradaria, isto é, sem provocar distúrbios e instabilidade na sociedade. Com Manuel Vicente são, fundamentalmente, negócios e relações de parentesco que entram no «caderno de encargos», fazendo com que tudo fique «em família».

 

O actual presidente da SONANGOL não é exactamente um parente de sangue de José Eduardo dos Santos, mas é mais do que aquilo que entre nós se chama de «primo como irmão». O pai de Manuel Vicente é também pai de um sobrinho de José Eduardo dos Santos, logo é seu cunhado. Isto diz alguma coisa, pois ao contrário de algumas correntes do MPLA, que não se conformam com as vantagens oferecidas à família do PR, Manuel Vicente é, por assim dizer, parte dos negócios da família. Não iria complicar nem fazer perguntas.

 

Através da SONANGOL , Manuel Vicente cruza-se com Isabel dos Santos, a primogénita de JES, numa «joint-venture» que, juntamente com o português Américo Amorim, fizeram com a Galp.

 

Por outro lado, além de Manuel Vicente, poucos guardam nos seus arquivos o processo da transferência dos activos da SONANGOL que proporcionaram a criação da UNITEL, detida em cerca de 40% por Isabel dos Santos.

 

Manuel Vicente sabe - e não parece que venha a repetir a asneira de Toninho Van-Dúnem de dar com «a língua nos dentes» - do processo que ditou a criação e lançamento da PRODOIL, empresa a que está ligada Marta dos Santos, irmã de José Eduardo dos Santos. Manuel Vicente é ele próprio também um dos accionistas da SOMOIL, a empresa angolana de petróleos mais bem servida de oportunidades na qual também haveria o «DNA» de parentes de JES. Por último e certamente não por fim, tem-se como certo também que as duas fatias recentemente entregues à Falcon Oil decorreram, igualmente, de empurrões de alto nível.

 


Em suma, se Manuel Vicente já estava «geneticamente» comprometido, passa a sê-lo também por razões como negócios e gestão da SONANGOL. Será isto suficiente?

 

Uma opção de alto risco, mas...


ImageSó em termos imediatos, Manuel Vicente configura para JES uma opção menos arriscada que a de Zenu. Na realidade, é uma arma secreta que anda a ser preparada há algum tempo.

 

As notícias a que as pessoas, com equilíbrio e sensatez, foram jogando para o lado, quando não para o lixo, recusando-se a dar-lhes crédito, passaram do dia para a noite a ser inteligíveis e a fazer sentido. Muito sentido mesmo.

 

Podem carecer de confirmação, mas já não são informações para descartar o que se tem dito nos últimos tempos acerca do varão do Presidente da República. Com uma personalidade que se aproxima muito do pai, Zenu nunca foi «muito dado», mas, não sendo nenhum eremita nem tendo défices de sociabilidade, mantinha em dia as suas amizades na sua faixa etária e aparecia com relativa frequência nos locais «in» da cidade.


 

De súbito, Zenu rareou drasticamente as suas aparições, e encontrá-lo «na batida» passou a ser um exercício pior do que procurar agulha em palheiro. Há quem diga que é um sinal de maturidade e crescimento, mas também há quem assegure que o «recolhimento» de Zenu decorre de uma acção de industriamento por que estaria já a passar exactamente na perspectiva de, gradualmente, ir ganhando um novo perfil social, mais adaptado ao papel que se reserva a um «herdeiro» de trono presidencial.


 

Mas a «retracção social» parece ter uma justificação mais sólida e plausível. Fontes com conhecimento apropriado do assunto garantem que o filho do Presidente da República passou vários meses em Israel onde se supõe que tenha feito um curso de estratégia e inteligência.

 

Já mais recentemente constou que Zenu teria sido um dos integrantes de um grupo restrito que frequentou um seminário formativo de capacitação em Alta Direcção realizado em tempos na capital do país, Luanda.

 

Há ainda outra explicação para o súbito «recolhimento» de Zenu. Há referências segundo as quais, ele passa muito tempo num gabinete que lhe foi destinado na SONANGOL, onde estaria a ser adestrado não em altos negócios – pois isso é coisa com a qual já anda familiarizado há muito tempo – mas em assuntos relacionados com a alta política.

 

Mas uma das parcelas que completam esta intrigante equação reside na informação, ainda mais fechada que as outras, segundo a qual o varão de José Eduardo dos Santos, este mesmo cujos passos nunca foram do conhecimento público, foi promovido a brigadeiro na reserva.

 

Temos, por conseguinte, quatro parcelas conhecidas da «equação Zenu»: drástica desaparição pública + curso de inteligência e estratégia em Israel + formação em Luanda em direcção de ponta + gabinete pessoal na SONANGOL+ acesso ao escalão máximo da classe castrense como brigadeiro na reserva.

 

Só há um termo incógnito para que a equação possa, finalmente, ser completa e conhecer-se o resultado: Zenu ainda não é membro do BP do Comité Central do MPLA.

 

Não é nada que também não se possa concretizar. O país desconhecia que a sua meia-irmã Tchizé militava em algum Comité de Acção do MPLA quando, surpreendentemente, foi vista entre os «camaradas» que participaram na Terceira Conferência Nacional desse partido, realizada o ano passado em Luanda.

Sabe-se, agora, que era a antecâmara de um passe de mágica ainda mais surpreendente: a sua ascensão como deputada do partido maioritário.

 

Para onde corre Assunção dos Anjos?


ImageJosé Eduardo dos Santos nunca dá ponto sem nó. Nas contas para a sua sucessão tem as suas preferências, mas não se tem dispensado de jogar com cenários alternativos. É provável que Assunção dos Anjos, o actual ministro das Relações Exteriores, seja uma carta na manga.

Assunção dos Anjos sempre foi um dos homens do Presidente. Mas jamais teve tanto protagonismo como o que tem tido nos últimos tempos. É neste momento o MIREX mais influente, comparado com quantos passaram pela pasta.

 

Esse protagonismo pode ser coisa da sua iniciativa e talento, mas seja como for sente-se que há também no meio disso tudo um certo «antum» que vem da parte do Presidente da República.

 

Assunção dos Anjos sempre teve na grande oratória um dos seus pontos fortes, mas nos tempos que correm tem demonstrado um total à-vontade, mesmo nos palcos mais sensíveis, que se confunde muitas vezes com o Chefe de Estado, coisa que nem a sonhar o seu antecessor, João Miranda, se permitiria fazer.


Involuntariamente ou não, Assunção dos Anjos está claramente a confundir todo o mundo. E a confusão será ainda maior se JES resolver guindá-lo ao Bureau Político no próximo congresso do MPLA.


Todos os ministros das Relações Exteriores que tivemos fora membros do Bureau Político. Mas muitos analistas só estão à espera de que isso também aconteça com Assunção dos Anjos para serem levados a concluir que José Eduardo dos Santos sempre teve um projecto maior para ele. Algo que estaria a ser maturado desde os tempos em que foi seu director de gabinete na Presidência da República, antes de ser lançado para o mundo da diplomacia.

 

Enfim, para as conclusões definitivas melhor será aguardar pelo congresso de Dezembro, altura em que saberemos quem entra e quem sai do BP do MPLA. Seja como for não será nada de transcendental e que Jose Eduardo dos Santos não possa resolver.