Luanda - Depois de já terem sido feitas denuncias públicas sobre a destruição do jardim principal da centralidade do Kilamba, que de espaço verde destinado ao lazer saudável dos citadinos, fonte de ar puro, local de estímulo à cultura do exercício físico, assim como da preservação da sanidade mental das pessoas e do contacto das crianças com a natureza, foi convertido num amontoado de barracas de madeira, barracas de PVC, barracas de capim e estruturas metálicas sucateadas, dando um aspecto horripilante a um espaço concebido para ser um espaço verde aberto com a finalidade de purificar a circulação do ar nas vias que separam os prédios e quarteirões.

Fonte: Club-k.net

Para além de constituírem obstáculos visuais que alteram negativamente uma paisagem que já foi terapêutica só de ser vista, as referidas barracas representam um autêntico perigo para os transeuntes no período nocturno, uma vez que oferecem esconderijo aos delinquentes que vêem nestas estruturas o cenário perfeito para a prática de crimes. Qualquer tese sobre o suposto fomento ao empreendedorismo é diluída pelo facto de existir nos arredores da centralidade, espaços baldios onde podiam ser instaladas tais aberrações, para além de ser do conhecimento geral, que os quarteirões do Kilamba já possuem estruturas adquadas para qualquer iniciativa comercial. Então, com que interesse se altera a função social de jardim para o fomento do consumo de bebidas alcoólicas, poluição sonora e produção de lixo?


Durante décadas, verificou-se em Luanda o surgimento de bairros de forma desordenada, reflectindo uma autêntica manifestação da ausência ou incompetência do Estado em manter a ordem urbanística. Este cenário, foi muitas vezes justificado pela situação de conflito armado que o país vivia. No entanto, num contexto como o da centralidade do Kilamba que diversas entidades governamentais têm apregoado como um modelo outras localidades do país, como explicar uma descaracterização grosseira de um traço urbanístico que conferia algum tipo de civilidade à vida de milhares de famílias? Será que com este descaso e desrespeito aos moradores do Kilamba, se pretenderá dar a entender que estamos condenados a ter barracas e maratonas permanentes nos centros das nossas vidas? Estarão a dizer aos moradores do Kilamba que somos um povo incapaz de viver de forma civilizada?
Se termos em consideração os discursos que têm sido feitos pelo Presidente João Lourenço e por entidades do partido MPLA, sobre a moralização da sociedade, sobre a gestão da coisa pública, perguntamos: Quem interesse público estará intrínseco na privatização de parcelas de um espaço que pertence aos citadinos? Que entidade autorizou tamanha barbaridade? De quem é a empresa que tem praticado impunemente estas atrocidades no jardim principal do Kilamba? Terá sido contratada com que fundamento? Terá a Administração do Kilamba ou o Governo Provincial do Luanda realizado algum concurso público ou se procedeu adjudicação direita? Terá havido algum parecer do Tribunal de Contas?


A agenda política do páis prevê a implementação das Autarquias em Angola nos próximos anos. Com uma medida como esta em que os citadinos do Kilamba nunca foram ouvidos e vêem os seus interesses completamente desrespeitados, estará o partido MPLA a dar indicações de que é desta forma que os seus dirigentes deverão tratar os cidadãos e o interesse público nas localidades? Aonde está a governação participativa anunciada pelo candidato João Lourenço durante a campanha eleitoral?


O acto de destruição ambiental prossegue, assim como a perturbação da vida pacata dos habitantes que já não têm um parque digno. Os moradores da centralidade do Kilamba, esperam as devidas medidas e pronunciamento dos órgãos acima referidos e não só, pois, ao serem ignoradas as suas reivindicações legítimas agora, sabemos todos que consequências políticas que poderão daí surgir. Exigimos a paralisação destas obras hediondas e a reposição da característica original do jardim. Ao partido MPLA, gostaríamos apenas de recordar que as eleições autárquicas são já amanhã.


O colectivo de moradores da centralidade do Kilamba, em Luanda, aos 19 de Abril de 2019.