Luanda - Em Setembro de 2008 os angolanos tiveram direito a eleições legislativas livres para quem votasse pelo MPLA - não tanto assim se abertamente o votante anunciasse que ia votar num partido da oposição -, e nessa altura foram feitas promessas de melhorias em todos os aspectos da vida social. O Governo prometeu construir em 4 anos 1 milhão de casas e hoje já sabemos que a promessa se parecia como lágrima a uma gota de orvalho a uma isca com que se apanham os peixes. Tudo mentira. 

 

* William Tonet & Ankara Sangala
Fonte: Folha 8

Filha do Presidente da República não pára

De facto até hoje não houve melhoria nenhuma, promessas levou-as o vento e casas os angolanos que as construam. O Governo diz agora, em jeito de sacudir a água do capote, que vai ajudar, e assim está dada a volta completa ao significado da ex-promessa-isca de construção de 4 milhões de habitações por parte do Estado.

 

Contudo, o pesadelo da pré-potência dos nossos dirigentes continua a fazer estragos entre a população, como se o tempo não tivesse passado e os angolanos ainda estivessem na estaca zero.

 

O Governo está hoje empenhado numa política parecida com o negativo duma bonita fotografia, em vez de construir está a demolir. Em alguns casos sem se referir minimamente à lei por ele próprio lavrada.

Depois das exacções cometidas na província de Benguela – Lobito, Bairro do Compão, local da feira junto ao cinema Flamingo - com a expropriação massiva de terrenos, demolições de habitações, desalojamento e assento forçado de cidadãos sem qualquer referência à lei nacional, nem tão-pouco às leis internacionais ratificadas pelo Estado angolano, depois dos compulsivos despejos e demolições no Bairro do Iraque, com o caso a cheirar a esturro quando as coisas se agravaram, como atempadamente noticiámos, a pontos de ter chegado a uma rotura, com uma manifestação que se propunha clamar o desespero dos desalojados em frente do palácio presidencial, depois dessas e outras, as coisas em vez de melhorarem, pioraram, e nos tempos que correm deparamo-nos com a ameaça aparentemente irreversível doutras expulsões, expropriações e atinentes demolições de casas, agora no Bairro do Katambor e parte do Prenda.


Trata-se de um terreno muito extenso, que era pertença, no período colonial das firmas Gomes & Irmãos e Cunha & Irmãos e que depois da Dipanda, foram confiscados pelo Estado de Angola, como consta do acto na Conservatória do Registo Predial.


Terrenos desse tipo, como é sabido, com o advento da revolução e da política socialista e de esquerda, então evocada e cantada aos quatro ventos pelo MPLA os seus habitantes, o povo, que o refrão ideológico, catalogou de "heróico e generoso", beneficiaram do usufruto, uns da terra então devoluta e outros das casas, mas nunca tiveram direito de acesso ao título de propriedade.


Recebiam as chaves e ficavam sujeitos aos desideratos de quem viesse a governar o país.
Pois agora que se amolem, tudo indica que vão brevemente “apanhar corrida” para dar azo à implementação de mais um novo projecto imobiliário. E, ao invés do que tem vindo a acontecer em casos de expropriações para contento e realização de projectos do Estado, mesmo assim polémicos, desta vez a jogada não é do Governo, e a emenda é bastante pior que o soneto pois trata-se de um negócio privado.


Tchizé dos Santos, ou Welwitcha dos Santos Pego, deputada na Assembleia Nacional pelo MPLA é apontada como tendo se engraçado com o terreno e, por intermédio de uma das suas inúmeras empresas, terá comprado, toda a zona habitacional do Katambor.


Se fosse o Xico da Fonte Santa, era vai-te curar e desembrulha-te, mas como é a Tchizé vai ser o “diabo”, um caso sério para a impedir, caso tudo já esteja na sua esfera jurídica, de levar avante o seu projecto de aí implantar uma nova zona nobre, com vivendas e casas de luxo e poucos prédios com apartamentos duplex, para uma classe média - alta.


Tchizé dos Santos, gostaríamos que aqui fosse sublinhado, tem direito inteiro e incondicional  à nossa simpatia, por razões várias, entre as quais por lhe reconhecermos  uma postura pouco vinculada a jogos de cintura. Essa é a nossa opinião, motivada por algumas das suas intervenções públicas, nomeadamente as sua tomadas de posição em relação à oligarquia angolana, as suas reticências em relação à TV Zimbo, os seus apelos à tolerância em Angola e, é claro, o seu pedido de suspensão do mandato de deputado depois de ter aceite, alegadamente com o acordo da bancada do MPLA, integrar, em Junho passado, a comissão de gestão da TPA 1, o canal público de televisão, a convite do ministro da Comunicação Social, Manuel Rabelais.

 

Coerente, afastou assim todas as críticas, a começar pelas de Luisa Rogério, que sobre ela pesavam a propósito de cumulação de funções.


Portanto, que não venham por aí apregoar que estamos embebidos em ódio pelo poder, não, pelo contrário, temos todo o respeito por muitos dos seus membros, segundo o que nos parece que eles merecem, mas o que ele, o Governo, não merece, é ser afastado das suas responsabilidades por um silêncio cúmplice e bajulador.


Isso não está nas nossas cordas, a guitarra aí é outra, certamente a de alguém que algo quer obter como benesse do poder instituído!

 

Neste caso, estamos perante um exemplo que constitui uma tremenda bofetada, para não dizer um “arraial de porrada” com o devido desprezo à mistura, ao aforismo do “guia imortal”, Agostinho Neto, que dizia, mas só dizia, porque poder não podia, “ O importante é defender os problemas do povo”. Tudo mentira!


E hoje, o que vemos é um Governo obcecado por lucros financeiros imediatos a intervir na defesa do Capital e nos interesses dos seus apaniguados, familiares e amigos, entre os quais alguns da “onça”. 


Um governo doente, assolado por um acesso de “gananciatite” aguda, sem cura, um verdadeiro desastre para o mwangolé.


Assim sendo, porque o é!, dentro de alguns dias, a exemplo do que aconteceu aos autóctones do Bairro do Iraque, o Katambor será cercado por militares e polícias com missão para retirarem dali, à força e sem qualquer indemnização digna desse nome, a totalidade dos populares que ali vivem, alguns deles há mais de 30 anos! E com direitos constitucionalmente adquiridos, mas que este Governo ao arrepio da Lei, principalmente do Código Civil, não cura de reconhecer os direitos das populações e as trata, muitas vezes piores que as autoridades coloniais portuguesas.


Eles não têm vergonha. Não resolvem nenhum problema do povo. Desprezam-no.  Se toda esta história não vier a superar a do Iraque e Bagdad, o melhor que as populações do Katambor podem fazer é ir tentando arranjar soluções alternativas, pois nada aponta para que haja o bom senso de virem  ser indemnizados, pelo facto desta palavra não fazer parte do dicionário dos novos ricos e dos filhos das elites, tão carentes, mas tão sedentos do poder e dos cifrões de dólares, única razão da sua nova existência, enquanto angolanos.

 

-- Nota: Consulte --
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