Luanda – Que o alcance da paz trouxe muitos benefícios ao país? Sim. É, de facto, indiscutível. Mas a grande questão não se resume somente ai, pois, apesar do esforço do Executivo angolano em abrir as portas para os investidores locais e internacionais no sentido de gerar empregos, ainda existe uma alta taxa de desemprego.

Fonte: Club-k.net
Pois, esta é a nova guerra que milhares de cidadãos – sobretudo jovens – se encontram mergulhados, uma vez que as politicas de empregabilidade criadas pelo governo ainda são deficientes. O quê fazer para ver o tempo a passar a passos de camaleão? Nada.

Como resultado da falta de ocupação, milhares deles envergaram-se no consumo exagerado de bebidas alcoólicas, vulgo, espirituosas, fabricadas localmente [em Angola] comercializadas a preço de igreja [como se diz na gíria] que variam de 50 a 100 kwanzas.

E as consequências hoje são visíveis. Pois, aumentou-se assustadoramente o nível de crimes violentos, causando uma insegurança quase total à população.

É bem visível que o consumo destas bebidas espirituosas – cujos proprietários das fabricas são na maioria estrangeiros (indianos e libanês) – causam danos irreparáveis a nossa pobre sociedade, desestruturando milhares de famílias angolanas (e não só), deixando inúmeras vítimas (as vezes mortais) em cada esquina, segundo os relatos dos órgãos de comunicação social.

Ora, vejamos extractos de algumas notícias divulgadas pelos órgãos de comunicação social:

- A 17 de Novembro de 2011, a agência Angola Press divulgou que um jovem (não identificado) morreu e outros quatro foram internados, no bairro Bita Vacaria, no município de Viana, em Luanda, depois de terem participado num concurso de consumo de bebidas alcoólicas.
Em declarações prestadas à imprensa o responsável da comissão de moradores, Gonçalves Mulumbila, afirmou que o concurso denominado "Quem bebe mais" foi organizado pelo cunhado do jovem que faleceu. O mesmo adiantou que cada concorrente, para vencer o concurso, devia consumir 12 garrafas de Whisky.

- A 12 de Fevereiro de 2013, a agência Angola Press noticiou que três pessoas morreram no Mussulo, por consumirem uma bebida denominada ‘Trungungo’, que é uma composição de whisky de pacote, quimbombo, e algumas folhas, no Mussulo, em Luanda.
Segundo o chefe da repartição da saúde do município de Belas, Domingos Cristóvão, garantiu, na altura, que“esta bebida estava a fazer com que as pessoas tenham uma intoxicação rápida, desenvolvendo um estado semelhante a pancreatite aguda”.

- A 21 de Novembro de 2013, a agência Angola Press voltou a noticiar sobre a morte de um outro jovem. A vítima de nome Nicolau António Manuel, 22 anos de idade, morreu em Ndalatando, Kwanza Norte, vítima de intoxicação alcoólica.
Segundo o porta-voz do comando provincial do Kwanza Norte da Polícia Nacional, superintendente Gaspar José, o facto sucedeu-se no bairro Hoji-ya-Henda, arredores da cidade de Ndalatando, quando a vitima ingeriu 15 pacotes de whisky "The Best" – fabricado pela empresa “National Distillers”–, na sequência de uma aposta no valor de mil e quinhentos kwanzas de um concurso de quem bebe mais.
O malogrado que após a ingestão da referida bebida entrou em coma etílica, tendo sido transportado para uma unidade sanitária onde viria falecer minutos depois. A notícia chocou membros da sociedade local que pedem medidas urgentes para se evitar situações do género.

- A 29 de Outubro de 2017, segundo o diário Jornal de Angola, um jovem que respondia pelo nome de Adolfino Manuel Tiago, de 21 anos, morreu durante uma competição de beber o famoso whisky “The Best”, na cidade de Ndalatando, província do Kwanza Norte.
Constou que a vítima consumiu 15 pacotes de whisky “The Best”, durante uma competição de ingestão de bebidas alcoólicas, promovida por um grupo de amigos, a troco de cinco mil Kwanzas, em caso de vitória. A vítima não aguentou, deu uma recaída e minutos depois foi levado urgentemente à uma unidade hospitalar, já inconsciente, onde acabou por falecer por intoxicação alcoólica.

- Um cidadão de 45 anos de idade morreu a 22 de Maio de 2018, na aldeia Cachimbimbi, na comuna do Ussoque, município do Londuimbali, 113 quilómetros a norte da cidade do Huambo, depois de consumir exageradamente whisky ‘Indica’. Em declarações à imprensa, Balbina Essovo, filha do falecido, informou que o consumo de álcool ocorreu num convívio entre amigos.
Disse que a morte ocorreu em plena via pública, quando o seu pai, já inconsciente, decidiu regressar à casa, tendo caído momentos depois de separar-se dos seus amigos, que não deram conta do ocorrido, por se encontrarem embriagados.

A par estes cinco casos específicos, existem dezenas de outros semelhantes que acontece(u) noutros lugares que não vale aqui mencionar para não cansar o caro leitor. O facto curioso é que, nunca ninguém foi responsabilizado civil ou criminalmente devidos estes acontecimentos. E a culpa morreu, como sempre, solteira.

Segundo as nossas pesquisas, existem dezenas de empresas que produzem, diariamente, milhares litros destas bebidas espirituosas sem o devido controlo do Governo, através dos Ministérios da Indústria, Saúde, Comércio e a Procuradoria Geral da República, ganhando lucros avultados por conta da desgraça de quem as consomem e de quem não as consomem [este último pode se dar o caso dos familiares que perdem o seu parente por justa causa].

Obviamente, como a cobra não prova o próprio veneno, os proprietários destas empresas estão se marimbando com os danos que as suas bebidas espirituosas causam aos seus consumidores, uma vez que eles – acredito eu – nunca as provaram. Talvez porque com o dinheiro que ganham, a custa da desgraça alheia, lhes permitem comprar bons whiskys de 12 anos, claro.

Algumas destas empresas, pesquisadas por nós, que produzem whiskys da morte são:

- Coastline - Comércio e Indústria, Lda. produz o whisky ‘Bolton Café’.

- Faive, Lda. produz os whiskys ‘XXX Rum’ e ‘John Whisky’.

- Unique Beverages S.A. fabrica ‘Kizomba’, ‘Café Rum Real Bull’, ‘Real Bull Força’, ‘Doctor Gin’, ‘Indica Tangawisi’ e ‘Indica Red’.

- Adega Cooperativa de Azueira, CRL. produz vinho ‘Vega’.

- Sofogor, Lda. produz ‘Vodka Queens’.

- Kicando, Lda. produz ‘Stark’ e ‘Casa Velha – Aguardente bagaceira’.

Estas empresas juntas, produzem e vendem milhares de litros de whiskys, sem a qualidade comprovada, a população. Fruto disso, temos as cadeias superlotadas das suas vítimas que, por este ou outro motivo, cometeram crimes violentos depois de usarem seus produtos.

A quem cobrar a responsabilização? Qual é o papel do Ministério Público diante deste atentado à saúde pública?