Luanda - A académica angolana  Maria Luísa Abrantes “Milucha” reagiu pela primeira vez a volta das incompreensões que a sua filha, Tchizé dos Santos estaria a enfrentar nas hostes do MPLA, tendo entretanto revelado que já a aconselhou a seguir o seu exemplo: largar o MPLA.

Fonte: Club-k.net

Tchizé escreve: "Eu sou leal aos ensinamentos do MPLA"

A antiga “patroa” da extinta ANIP, fez este pronunciamento, esta semana, em Luanda,  a margem do programa de análise e opinião “Logo” (transmitido via youtube), do politólogo Herlander Napoleão. Ao ser questionada se não lhe custa como mãe ver esta pressão que se vê na deputada Tchizé  dos Santos, aquela jurista angolana respondeu que “Já passei pelo mesmo. A única coisa que como mãe aconselho, apesar de ela fazer  o que quer, é foi a sair do MPLA”.

 

Questionado novamente sobre o porque aconselha a filha a sair do MPLA, a mesma explicou-se que foi o que “foi o que eu fiz”, garantindo  ser “a melhor coisa”. No ponto de vista de Maria Luísa Abrantes, a filha Tchizé “não está  num meio adequado a vivencia dela e aos seus princípios”.

 

A sugestão de rotura defendida por Maria Luísa Abrantes aparenta não ser a via pretendida pela filha deputada  que no último domingo (19),   fez sair uma declaração manifestando lealdade aos ensinamentos do  MPLA, e vontade de  ir ao congresso partidário de 2021, para defender  múltiplas candidaturas. Na sua mensagem, Tchizé alega não é ela que deseja ter divergências com o MPLA mas sim este “que me está a atacar”.

 

“Eu sou leal aos ensinamentos do MPLA tal como a maioria dos militantes de base que já suamos muito a camisola pelo partido MPLA. Eu tenho uma relação de amor com o MPLA desde a minha infância, dos tempos da OPA”, disse lembrando que “O MPLA não foi escriturado em nome de ninguém. O MPLA pertence a cada militante que paga quotas e eu sou uma delas.”

 

De recordar que no decurso da luta pela Independência Nacional, a mãe de Tchizé, Maria Luísa Abrantes esteve envolvida no núcleo embrionário da JMPLA em Luanda com figuras como Manuel Van-dunem, Cassange e Delfim. Foi também muito próxima ao conhecido grupo de partidários ligados a “Casa de Angola em Portugal”, ao qual fazia parte José Leitão, José Carlos de Carvalho,  Elisario Vieira Lopes e Zuzarte Mendonça “Tilú”, um então recém formado médico de quem tem um filho.

 

Logo após a abertura do multipartidarismo entrou em rotura com o MPLA, a nas primeiras eleições gerais em Angola apareceu ligada a campanha eleitoral do extinto Partido de Renovação Democrático (PRD), uma formação política que aglutinava figuras afectadas pelo “27 de Maio”. O aparecimento da mesma nas vestes de “opositora” foi interpretado em certos meios como um sinal de desilusão para  com o regime.


Ao mesmo tempo mudou-se para Portugal e a seguir, para os Estados Unidos da America. A dada altura, antes de se tornar representante da ANIP, nos EUA, enfrentou algumas limitações de ordem financeira. O então embaixador angolano em Washington, António França “Ndalu” solidarizou-se com a mesma tendo lhe colocado uma viatura protocolar a disposição. A marginalização por que passou são, até hoje, associadas a um sentimento de reservas identificados no modus operandus do regime angolano.

 

Ao tempo em que foi “marginalizada”, foi-lhe vetado o acesso ao “Futungo de Bela”, num processo em que Fernando Garcia Miala teria encabeçado, por alegadas  orientações superiores. No seu então apartamento em Virgínia, arredores de Washington, “Milucha” recusava receber diplomatas ou gente de etnia bancongo sob o trauma de poderem estar ligados ao antigo patrão da secreta. Quando Miala caiu em desgraça do cargo de chefe do SIE- Serviços de Inteligência Externa, ela abriu uma garrafa de champagne para comemorar a queda daquele. Em varias entrevistas às rádios locais, não esconde o seu desafecto para com Miala.

Antecedentes  de alegadas  Perseguições

Em Dezembro de 2018, Maria Luísa Abrantes, concedeu uma entrevista a Ràdio LAC, confidenciado ter sido uma das pessoas mais humilhadas pelos serviços secretos do então Presidente José Eduardo dos Santos (JES) e que a perseguiram quando esteve a trabalhar nos Estados Unidos da América, onde representou a Agencia Nacional de Investimento Privado (ANIP).


“Os serviços dele (JES) sempre fizeram o pior para me humilhar, dentro e fora do país.” Contou acrescentando que “chegaram ao ponto de fazer um telefonema anonimo e mandar agentes (da polícia americana) em minha casa (Virgínia) quando eu cheguei aos EUA dizendo que tinham uma denuncia dizendo que eu vendia drogas”.


Segundo “Milucha”, os agentes da polícia americana que foram revistar a sua casa “entraram, e verificaram que não havia nada” e que por sua vez, “não falaram com ninguém”.


Entretanto, achou estranho que tendo em conta que os agentes não falaram com ninguém e que inclusive pediram desculpas pelo incidente, o assunto em causa apareceu um mês depois estampado no semanário Folha8, em Luanda. Milucha, disse na entrevista não ter duvidas de ter sido um trabalho orquestrado pelos serviços de inteligência de Angola.


“Só que eu também consegui fazer a minha investigação, e chegou-se a conclusão (la mesmo) que eram pessoas ligadas a embaixada e a segurança no tempo do senhor Miala (ex-DG do Serviço de Inteligência Externa)”.


Contou igualmente que depois desta armadilha é que “as pessoas começaram a perceber que havia algo errado com estas pessoas (ligadas ao poder) e que eu era uma vitima destas mesmas pessoas.” Acrescentou ainda que “Não fizeram só a mim. Fizeram também há um embaixador e eu não vou dizer o seu nome.”

 

Em 2015, Maria Abrantes “Milucha”, reformou-se da função pública, depois de no mês de Abril daquele ano se ter tornado na primeira gestora e PCA  de uma empresa pública (ANIP) a escrever ao Presidente da República, pedindo demissão do cargo. Presentemente dedica-se a docência, como professora da Universidade Agostinho Neto.