Lopitanga - O jornalista português Xavier de Figueiredo defendeu sábado que, tal como acontece frequentemente, a História de Angola irá engrandecer o líder histórico da UNITA, Jonas Savimbi.

Fonte: Lusa

Segundo o antigo diretor do Africa Monitor, Savimbi, que, 17 anos após ter sido morto em combate foi sábado enterrado na terra natal dos pais, em Lopitanga, 30 quilómetros a oeste do Andulo, na província do Bié, foi uma personalidade "absolutamente marcante" nos 45 anos de História de Angola.

 

"É uma personalidade absolutamente marcante naquilo que foram estes 45 anos da História de Angola, pelo papel que aqui exerceu, pelas causas que se bateu e fazendo isso de uma forma exemplar. Acompanhei na minha vida profissional de jornalista aquilo que foi a ação dele como líder e como grande inspirador de causas", sublinhou Xavier de Figueiredo.

 

Convidado pela direção da União Nacional para a Independência Total de Angla (UNITA) para as exéquias fúnebres do fundador do partido do Galo Negro, Xavier de Figueiredo disse admirar em Savimbi o facto de "nunca ter vacilado" e de ter seguido uma vida "dando critérios de exemplo".

 

"Acho que marcou muito e teve um papel determinante naquilo que foram as grandes mudanças que ocorreram em Angola a seguir ao fim da Guerra Fria", que, tal como noutros países africanos, opôs os Estados Unidos, a apoiarem a UNITA, e a então União Soviética, ajudada por militares cubanos, a ajudar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), destacou.

 

Questionado pela Lusa sobre se a História há de reconhecer o papel de Savimbi em Angola, Xavier de Figueiredo lembrou que, "tal como as grandes figuras", a "grandeza acaba sempre por prevalecer e por se impor".

 

"Isso aconteceu sempre assim. Na História, em geral, sempre se viram figuras que, numa determinada fase das suas vidas, ou após as suas mortes, ainda eram muito desprestigiadas, lançavam ónus sobre elas, mas, depois, a sua grandeza acabava por prevalecer e por se impor", sustentou.

 

"Mas, apesar de ainda existir esse fenómeno de diabolização de Savimbi, o conceito que há dele na sociedade angolana já é muito diferente daquilo que era há alguns anos. Estamos diante de um processo que vai levar, seguramente, a uma reabilitação plena dele", acrescentou.

 

Instado sobre se teria sido possível uma homenagem como a realizada sábado em Lopitanga no regime de José Eduardo dos Santos (1979/2017), o jornalista, atualmente na reforma, lembrou que o antigo presidente angolano "não estava recetivo" à ideia.

 

"Julgo que não. [Eduardo dos Santos] deu sempre mostras de que não estava recetivo a isso, a começar pela forma como, indiretamente, se mostrava contra a entrega das ossadas [de Savimbi, depositadas no cemitério do Luena, província do Moxico, sempre sob a alçada do Governo angolano]. Acho que não era possível", opinou.

 

Para Xavier de Figueiredo, a "luz verde" dada pelo atual Presidente angolano, João Lourenço, à entrega dos restos mortais de Savimbi à família e à UNITA, "só se tornou possível no quadro de um processo de reformas que está em curso em Angola".

 

"Acho que é importante fazer parte de um novo espírito de concórdia e de reconciliação nacional, que passa por coisas também como estas", sublinhou, aludindo à aceitação de João Lourenço de um pedido feito pela família e pelo líder da UNITA, Isaías Samakuva, em 2018.

 

Para Xavier de Figueiredo, a abertura política que João Lourenço está a tentar impor em Angola é um "passo" na direção certa, apesar de ainda lidar com "fenómenos internos" dentro do MPLA, partido de que o Presidente angolano também é líder.

 

"[João Lourenço] Ainda lida com fenómenos internos, que têm a ver com uma relação precárias de forças. Ainda persiste [no MPLA] uma certa mentalidade [ligada a Eduardo dos Santos] e isso será uma coisa que irá evoluindo com o tempo", referiu.

 

Para Xavier de Figueiredo, o Presidente angolano já deu "passos importantes" nesse sentido, sendo, por isso, inevitável" que outros se sigam.

 

"É importante que Angola modifique completamente aquilo que foi a sua reputação de um país onde existia uma democracia limitada, onde havia aquele ambiente de corrupção. É essencial que Angola saia deste tormento económico em que se encontra", concluiu.