Luanda – Integra da entrevista do vice-presidente da Fundação 27 de Maio, o general José Fragoso, feita pela jornalista Graciete Mayer, censurada pela direcção do Jornal de Angola na edição publicada a 27 de Maio do ano em curso. A seu pedido, o Club K Angola publicada na íntegra tal e qual...

 

Fonte: Club-k.net

"27 de Maio foi orquestrado para depurar os intelectuais  e Neto sabia de tudo isso"


Como e quando ocorre o seu envolvimento no processo político angolano?
O meu envolvimento no processo político angolano começa desde a detenção de meu pai, pela PIDE-DGS, dias depois do assalto do 4 de Fevereiro, onde foi mobilizador e protagonista é preso e deportado para o de Concentração de Mussombo- Kuando Kubango, depois de ter permanecido seis meses na cadeia de São Paulo Luanda, e mais tarde com a criação do Campo de São Nicolau o mesmo é transferido para o referido Campo, libertado 12 anos depois isto é, Dezembro de 1973.
Depois de ter compreendido a razão da prisão do meu progenitor, contava na altura com 12 anos de idade e aos 16 anos, no Colégio da Casa das Beiras, conheci o Lendário Comandante Nito Alves e faço parte da célula clandestina, com os companheiros Mateus Nhanga, Eduardo Pitra, Benvido e João Pedro Júnior, até 1966 altura que Nito Alves escapa das garras dos agentes da Pide e segue para a primeira região Politico-Militar, onde se encontravam os seus progenitores.

Quais os principais eventos políticos ou militares em que participou antes do 25 de Abril de 1974?
Em 1972 conheci Jose Van-Dúnem no Exercito colonial - Grupo de Cavalaria - Dragões no Bié. Eu na qualidade de Enfermeiro fui contactado pelo então Furriel Meliciano, que já tinha ligação com os Guerrilheiros, tendo me solicitado o meu engajamento, no sentido de passar a fornecer medicamentos e outros matérias Médico-cirúrgicos na qualidade de chefe da enfermaria, tinha essa possibilidade. Um ano depois Jose Van-Dúnem é preso e deportado para o Campo de São Nicolau e libertado depois do 25 de Abril de 1974 e voltamos nos reencontrar nas Fapla, onde ocupava o Cargo de Director Nacional da Direcção politica onde eu era Comissário politico. Concomitantemente reencontrei-me com Nito Alves na primeira região no Piri sua terra Natal.

Ao olharmos para a história do MPLA, ressaltamos a existência de momentos de crises que resultaram de conflitos internos, tais como a Revolta do Leste, a Revolta Activa, o 27 de Maio. Qual é a essência destes conflitos e quem foram seus protagonistas?

Não fosse a ingenuidade política na altura teríamos feito algumas reflexões sobre da existência das três facções tais como: A revolta activa, liderado pelo Joaquim Pinto de Andrade (Padre) a revolta do Leste liderada pelo Daniel Chipenda e a liderada pelo Agostinho Neto. A minha adesão ao MPLA se calhar tem a ver com o facto de ouvirmos muitas histórias em Catete sobre Agostinho Neto, que era um jovem promissor, devido do trabalho forçado nas estrad-as sem remuneração na sua terra natal Icolo –Bengo em particular e no pais em geral, tudo isso ouvíamos dos mais velhos e em surdina. A revolta do leste surge porque a direcção do MPLA estava desfasado dos guerrilheiros e Daniel Chipenda na qualidade de Vice Presidente apercebendo-se do descontentamento dos guerrilheiros visitou a região leste, tendo constatado a falta de logística que resultou na revolta conhecida por GIBOIA. É assim que Daniel Chipenda, aproveitando-se deste descontentamento entre Comandante e soldados cria sob sua liderança a conhecida Revolta do Leste, que tinha uma bandeira própria o inverso da Bandeira original do MPLA. Já a Revolta Activa  entrou em colisão com a liderança de Agostinho Neto e pares por desvio de princípios, aqui quero realçar que Viriato da Cruz não concordava com Agostinho Neto numa Angola independente, por um lado e por outro também não concordava que os bajuladores, caluniadores fossem premiados em detrimento daqueles que cumpriam com disciplina os princípios da luta. Lê-se isso na obra literária de Lúcio Lara: MPLA Amplo Movimento. MPLA teve como fundadores, Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz, Gentil Viana, Azancor de Menezes, Eduardo Macedo dos Santos. Esses quando Neto tomou a direcção do MPLA afastou-os. Em relação ao 4 de Fevereiro num encontro tido com os doutores Eduardo Macedo dos Santos, Hugo de Meneses e o Padre Joaquim Pinto de Menezes aquando da sua adesão ao Partido Renovador Democratico ( PRD) de triste memoria informaram os presentes Guine Conacry, aproveitando-se do silencio da UPA protagonista do assalto e emitem uma declaração e assumem a Heróica Acção.

Onde, como e quando conheceu Nito Alves?
Como disse atrás, conheci Nito Alves como colega, em 1965.

Em que ano se formou como enfermeiro?
Formei-me no ano de 1968, na Escola Técnica de Saúde em Luanda e mais tarde me especializei em laboratório de analises clínica e microbiológica. Depois desta formação tornei-me professor do Instituto Médio do mesmo ramo.

E como entra nas ex-FAPLA?
Depois do golpe do estado em Portugal contra o regime colonial de Salazar –Caetano,fui a primeira região me juntar a guerrilha que ainda não tinha terminado, onde encontrei Nito Alves, Bacaloffos , JAP,Mostro Imortal e tantos outros, na altura liderados pelo Embaixador César Augusto Kiluanje, onde fiz a formação de Comissário Politico

O que esteve na base do 27 de Maio?
A constituição da Republica Popular de Angola já consagrava a instituição do poder popular que hoje chamamos Eleições Autarticas, que o Nito Alves teve a Incumbência, na qualidade de Ministro da Administração Interna liderar a sua realização como experiencia piloto a nível dos Bairros de Luanda. Aqueles que colaboraram com o regime colonial ou seja os Bufos, foram excluídos deste processo, não puderam concorrer pelo facto de terem emperrado o processo da luta de Libertação Nacional. Podemos aqui afirmar, piamente que a não inclusão dos oportunistas que emperravam a luta com atrás disse, criaram intrigas, calunias contra o Nito Alves de que este pretendia entregar o poder aos pés descalços e iletrados, que não foi o caso, porque os que concorreram neste pleito tinha como habilitação literária o primeiro ciclo que hoje em termos de comparação com o Ensino de agora equivale a um individuo licenciado porque escreviam sem erros ortográficos e muitos gramaticais. Em suma foi o cerne do surgimento da da contradição entre ala liderada pelo Lúcio Lara e Nito Alves que resultou nos massacres conhecidos.

Esse pensamento destes homens directo do Neto não entrava em colisão com o próprio líder?
Agostinho Neto era uma pessoa muito dúbia. Quando estivesses com Nito e pares tinha uma linguagem, quando estivesse com Lara e pares tinha outra linguagem. Neto nem sequer era Marxista porque defendia segundo Veriato da Cruizentão secretário Geral do MPLA e seu confudadordo programa maior do MPLA que visava essencialmente o bem estar de todos Angolanos de forma inclusiva, que hoje assistimos exactamente o contrario, pois o pais cada dia que passa degrada social e economicamente. Só para dar um exemplo todas Industrias deixadas pelo colono com excepção de fabrico de bebidas alcoólicas todo o resto desapareceu, por um lado e por outro tudo que consumíamos na noite colonial era produzido aqui no pais e hoje, tudo que consumimos é importado devido a ganância dos Gestores na busca da subfacturação, que colocou o pais numa situação caótica sem precedente, embora se propala a quatro ventos a diversificação da economia que na nossa visão começaria pela agricultura e pecuária, para alavancar a Industria, emprego e consequentemente a economia.

Em que circunstancia conheceu Agostinho Neto? Quantas a vezes já privaste conversas com ele? Qual é a leitura que faz de Agostinho Neto?
Ouvi falar do Agostinho Neto através dos mais velhos na aldeia e mais tarde através da emissão radiofónica de Angola combatente a partir do Congo Brazzavile.
Conheci pessoalmente, Agostinho Neto, numa Reunião com os comissários políticos no Cine Miramar, onde analisamos a situação politica e militar com a presencia da tropa da FNLA na província do Bengo, foi neste encontro onde lançou a Palavra de Ordem Resistência Popular Generalizada e cria a Organização de Defesa Popular-ODP- que foi um Orgão Para-Militar, que se espalhou em todo país com maior incidência nos kimbos para impedir o avanço e a organização das forças da UNITA no Centro e Sul do país.
Neste encontro Agostinho Neto, apresentava sinais de desespero porque as forças de Holden Roberto coligadas com os mercenários Portugueses e Ingleses e as FAPLA coligadas com as tropas Cubanas, Moçambicanas e Guinenses que impediram a entrada da tropa da FNLA que pretendia tomar a cidade de Luanda para no dia 11 de Novembro de 1975, proclamar a independência, data aprazada pelos Acordos do Alvor entre os três movimentos de libertação de Angola nomeadamente, FNLA, MPLA e a UNITA assinados no dia 31 de Janeiro de 1975, que previam entre outros princípios Governo de Transição, Exercito Unificado e as Eleições Gerais em Outubro e quem ganhasse as eleições proclamaria a independência na data referida.

Como surge essa confusão que levou ao famoso "golpe" ou manifestação?
Não se tratou de golpe de Estado contra Agostinho Neto e sequazes mas sim, de uma Manifestação Popular, que visava unicamente persuadir o Presidente Agostinho Neto no sentido de depurar alguns elementos que lhe rodeavam que já naquela altura desvirtuavam a linha politica programada pelo então Movimento, assim como a sua ideologia Marxista-Leninista que era de facto a linha orientadora e a bandeira que o MPLA propalava demagogicamente numa aliança entre camponeses e operários como condutores das politicas sócias, económicas e culturas.
O propalado golpe de Estado, existiu de facto, mas no sentido contrario, aqueles que não tinham hipóteses de ascensão de atingir cargos nos Aparelhos do movimento e do Estado, viram nesta manifestação popular como grande oportunidade de eliminar os seus companheiros de luta anti-colonial, porque se assim não fosse a intenção os estudantes que se encontravam nos então países do Leste da Europa nomeadamente-URSS, Romenia, Alemanha, Bulgaria, Polonia e Cuba não teriam sido repatriados e alguns deles serem fuzilados.
Por outro lado, o 27 de Maio foi festejado entre 1977 e 1990 como feriado nacional e o país parava, com a mobilização coerciva e forçada de toda população de Cabinda ao Cunene com maior destaque daqueles que faziam parte das Organizações de Massas do MPLA, OPA, OMA,JMPLA e os Sindicatos.
Com o surgimento do Sistema Politico Multi-partidario forçado pelos Acordos de Bicesse-Potugal, rubricados entre as Fala Braço Armado da UNITA e as FAA, e com a descoberta de que os Comandantes mortos a madrugada do 27 de Maio tinham sido mortos pela Ala presidencialista, cujo o intuito era de atribuir esta macabra acção aos que ousaram chamar de fraccionistas e concomitantemente enganarem as comunidades nacional e internacional.
Se assim não fosse verdade o 27 de Maio continuaria feriado nacional por um lado e por outro, o BP do MPLA não teria em duas ocasiões emitido Declarações tornadas publicas, tratando os ditos fraccionistas no seio do MPLA de patriotas imcomprendidos e outros adjectivos que qualificavam a sua participação heróica na luta de libertação do país, que não passou de mais de uma falácia, e alias as duas Declarações referidas datadas de 26 de Maio de 2002 e 27 de Maio de 2013 tinham o mesmo teor e conteúdo a única diferença foi a alteração das datas e quem tiver duvidas podem consultar nas minhas Obras Literárias, como anexos.

E o senhor esteve lá na Cidadela chegou as que horas. Esteve acompanhado
As expectativas eram enormes porque o povo estava ansioso em saber das conclusões do inquérito contra José Van-dunem e Nito Alves acusados de fraccionistas e quero recordar que tal inquérito foi solicitado pelos acusados afim de demonstrarem que os fraccionistas eram liderados pelo Lucio Lara, então secretario do BP e pares .
Para responder a pergunta da Senhora Jornalista, estive na Cidadela horas antes da chegada do Presidente Agostinho Neto e dos demais membros da Direcção porque nós tínhamos a responsabilidade de levar as populações no local, ávidos de ouvirem as conclusões que foram desilusão, pois, foram conclusões fictícias e fabricadas. Consta que, tais conclusões apresentadas não reflectiam as verdadeiras conclusões.
Depois da leitura, as populações presentes sentiram-se chocadas e a partir desta confusão que se instalou os homens da DISA começaram a massacrar e prender todos aqueles que mostravam não estar de acordo com as conclusões que visaram a expulsão de Zé Van-dunem e Nito Alves.

Quem convocou essa manifestação?
A manifestação não foi convocada por ninguém porque a expulsão de Nito Alves e Zé Van-dunem por se tratarem de indivíduos que defendiam a linha programática por um lado, e por outro lado, os militantes do MPLA em particular e em geral a população viam nestes ilustres filhos de Angola como seus defensores e encarnavam o seu sofrimento, pois já naquela altura para se adquirir qualquer que fosse em termos de produtos alimentícios ou matérias logo pela manha as pessoas ficavam nas bichas das lojas e muitas das vezes regressavam para as casas sem um kg de Arroz ou um outro produto qualquer.
Foi por esta e outras razões que o povo de Luanda dirigiu-se ao palácio e com a intervenção dos Cubanos aliados a Guarda Presidencial, o povo dirigiu-se a Radfio e a Televisão onde foi repelido pelas referidas forças transportadas pelos Blindados, tendo a partir daí começado a carnificina que perdurou até a morte do Presidente Agostinho Neto no dia 8 de Setembro de 1979, embora divulgada apenas no dia 10.

Como vocês ficaram a saber que neto havia concordado? Quem estava a negociar com Neto?
A situação politica no seio do MPLA, era do domínio publico porque Nito Alves em sua defesa escreveu as 13 Teses que distribuiu a todos membros do Comité Central e posteriormente foram distribuídos amplamente de Cabinda a Cunene. Como já disse atrás, Agostinho Neto, para além de ter sido um homem complexado, era também dúbiu e tinha duas faces, porque quando estivesse com o Nito e pares concordava com que defendiam e quando estivesse com o Lúcio e pares também concordava com eles.

Esteve também no Palácio a que horas chegou lá?
Não podia estar alheio uma vez que tínhamos a Missão de levar as massas ao Palácio para junto do Presidente Neto não só para persuadi-lo a depurar alguns elementos que emperravam o processo revolucionário em curso, mas também repor a justiça da injustiça praticada contra Nito e Zé.
E quando cheguei no Largo Hoji-Ya-Henda, defronte do Ministério da Defesa já os manifestantes tinham sido dispersos em direcção a Rádio.

Havia palavras de ordem?
Sim, por exemplo avante o poder popular, o requadramento do Nito e Zé no Comité Central, e outras palavras de ordem transmitidas através do Programa da Rádio Kudibanguela, que depois da presencia da tropa Presidencial que esmagou os manifestantes a Rádio foi tomada.

Houve mortes na RNA e no Palácio? Quantos mais ou menos?
Houve mortes na Rádio principalmente e no Palácio não vi mortos talvez por precipitação não observei e tomei o rumo para a Rádio, depois da informação das pessoas que se dirigiam para o mesmo local.

Qual foi o propósito de se dirigirem a RNA e TPA
Não havia um plano previo para uma concentração dos manifestantes junto a radio e televisão, o único local escolhido foi o palacio presidencial.

Onde que o senhor vivia?
Eu vivia, até então no bairro Popular, na rua de Sá Viana Rebelo, n.º 111.

Como entrou nas Faplas? Qual a patente que ostentava?
Como atrás referi, acabava de sair do Exercito colonial em 1973 e com advento da revolução dos Cravos que resultou no golpe do Estado em Portugal levado ao cabo pelos oficias capitãs que derrubaram o regime anacrónico que submeteu aos povos de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo-Verde e São Tomé e Princípe a Escravatura secular, em Maio de 1974 a juntei-me a guerrilha como atrás já referi. Na altura o patenteamento estava em curso apenas exercia a função de Comandante e Comissário Politico das FAPLA.

Em que circunstancia entra para MPLA ?
Eu entro no MPLA em 1974, porque o processo politico e revolucionário exigia de todos nós o nosso engajamento volontario que culminaria com a independência de Angola e consequentemente com bem estar geral para todos os Angolanos sem discriminação de qualquer espécie e todos nós, com excepção de uns poucos fomos mergulhados numa pobreza extrema, imprevisível fora do nosso imaginário enquanto lutávamos contra o colonialismo Portugues.
Quero lembrar ainda que a juventude e adolescência da época a maioria aderiram voluntariamente aos Movimentos da Luta de Libertação de Angola, FNLA,MPLA e UNITA, que infelizmente terminada a Guerra e envelhecidos sem era e nem beira, pululam de um lado para outro, a procura do sustento das suas famílias.
O Estado como pessoa de Bem, demitiu-se das suas responsabilidades que lhe-é conferido pela Constituição da Republica.

Quantos encontros teve com Nito Alves? O que é que discutiam nesses encontros?
Os encontros com Nito Alves são incontáveis, porque sempre que houvesse necessidade estávamos sempre juntos e o Cerne da nossa conversa era essencialmente os propósitos da nossa luta contra o colonialismo Portugues que até então, tais propósitos não se vislumbravam na pratica.

Em algum momento sentiu que Nito Alves tinha sede de poder, ou seja queria ser Presidente da República?
Nito Alves, não ambicionava o cargo de presidente da Republica, primeiro morria pelo Neto, nutria e admirava-o porque, enquanto uns defendiam o golpe de Estado, Nito e outros defendiam tão somente a depuração de alguns elementos nocivos ao processo então em curso, e hoje feitos em milionários e o tempo nos deu razão.

O Nito Alves eram assim tão querido?
O Nito tinha uma verborreia que mobilizava as mentes do povo porque o que dizia tocava as sensibilidades das pessoas .
Nos seus Comicios eram fortemente concorridos sem, no entanto, precisar, de mobilização, bastava para tal um Comunicado.
Os seus discursos eram de improviso, sem repetição, e sobretudo quando disse e cito-enquanto brancos, negros e mulatos, juntos e nas mesmas circunstancias não varrerem as Ruas das cidades ou escritórios o racismo não desaparecerá, fim de citação.

Nito estava ocorrente da Manifestação?
Sim. Ele esteve corrente da manifestação, tanto mais, fazíamos reuniões de concentração para se encontrar a melhor forma e metodologia para a realização da referida manifestação primeiro prevista para o dia 25 de Maio que passou mais tarde para o dia 27.
Se não houvesse o plano B por parte da Ala presidencialista, que visava o aniquilamento da Ala Nitista, tal manifestação não teria lugar, porquanto, no dia 21 de Maio, a Reunião do Comité Central do MPLA prevista no Museu de História Natural junto do Kinaxixi foi transferida para o Futungo de Belas, quando se aperceberam da manifestação defronte ao referido Museu.

Qual era a relação do Nito com os militares das FAPLA
Nito gozava de uma extraordinária simpatia no seio das FAPLA inquestionável tanto mais em Luanda os quartéis ficaram vazios e juntaram-se a manifestação desarmados como foi o meu caso porque apelávamos uma manifestação pacifica e ordeira.

Os militares apoiavam Nito?
Como disse atrás, o apoio dos militares é inconstestavel e quem afirmar o contrario está a derturpar os factos históricos há muito manipulados, escamoteados, desenquadrados nos espaço e tempo.

Depois da dispersão da manifestação onde te refugiastes?
Eu estava na minha casa e no dia seguinte fui detido e levado ao Ministerio da Defesa onde permanenci dois dias e levado ao campo da morte, depois de assistir o fuzilamento dos outros e a consequente a carbonização dos corpos com gasolina, o meu Salvador por sinal meu primo depois da agressão brutal para fingir dos seus companheiros, disse a eles que se tratava de um elemento altamente perigoso e a sua morte deve ser lenta razão que deve regressar para ser lentamente morto porque de outra forma não vai sentir.
Findo o fuzilamento eu e quatro elementos fomos colocados num camião como de animais se tratassem e permitidos a fuga e fiquei na casa de uma irmã no bairro Golfe até que Agostinho Neto proclamou a politica de Cleméncia em 1978 em Cabinda e apareço publicamente como tivesse saído da cadeia.

Durante o período que esteve deito em casa tinha informações sobre Nito Alves?
Em casa eu ouvia os discursos de Agostinho Neto, que eram muito inflamados, vão perder tempo com julgamento, seremos implacáveis, os que foram encontrados já foram fuzilados e outros serão fuzilados.

Depois da famosa clemência de neto que hilves?
Sei que Nito Alves apresentou-se as autoridades três meses depois, compadeceu-se com as matanças. Fizeram uma encenação sobre a captura de Nito Alves. Foi fuzilado e que o seu corpo esta enterrado no museu das forças armadas logo a entre juntamente com Sita Vales e Jose Van-Dunem. Aquela historia que diz que foi atirado no mar é mentira. Nos estamos nessa luta há 28 anos desde 1991 com o partido politico Partido Renovador Democrático (PRD) de triste memória, porque depois o partido acabou porque muito dos nossos foram corrompidos. Nos como não tinham concordados com esta aliança fomos expulsos a mando do MPLA administrativamente. Eu era funcionário do Conselho de Ministros fui expulso por ter criado um partido. Enquanto o MPLA estiver no poder você esta erradicado da função pública. Tanto que a minha reforma que tenho direito por lei, os antigos combatentes me deu 28 anos de tropa de serviços prestados a pátria mais 27 anos que prestei serviço ao governo de Angola e portugueses não tenho reforma.Recorri ao Ex-ministro doMapessPitra Netopara resolver essa situação ele diz que" se o senhor quiser beneficiar de qualquer coisa dirija-se ao Minars." Não fosse os meus filhos ajudarem se nãoteria morrido.E em 1977 fui expulso das ex-Fapla por causa do 27 de Maio.

Quem foram os algozes do 27 de Maio?
São vários, os mais sonantes que temos o controle são cerca de 150 elementos, que o momento que estamos a viver não nos aconselha a enumerar os seus nomes nesta entrevista, porque já foram tornados públicos em varias ocasiões das nossas actividades.

Comissão de Lágrimas

A Comissão de Lágrimas surge dias depois do 27 de Maio. A Comissão tinha como objectivo de prender os intelectuais, como maior incidência os universitários e os que tinham o 5º e o 7º ano para forçar depoimentos, mas na base de torturas. Depois dos depoimentos forçosos o individuo e a gravação eram encaminhados para o Ministério da Defesa para ser ou não fuzilado e tudo dependia da sorte.

Como foi criada essa Comissão?
Eu não sei como ela foi criada e em que circunstancias . grande parte desses indivíduos pertencentes que faziam parte eram trabalhadores Seniores da Comunicação Social, RNA; TPA, Jornal de Angola, e cito alguns nomes, como Pepetela vice ministro da Educação, Manuel Rui Monteiro na altura ministro da Informação, Ndunduma, João Melo actual Ministro da Comunicação Social, era o mais jovem do grupo, Manuel Berenguel, Francisco Simons, Rui de Carvalho, Mendes de Carvalho Wanhenga Xito, Diógenes Boavida minstro da Justiça, Ambrósio Lukoki. A Comissão teve a duração de cerca de um ano. Havia um Programa na Televisão que exibia pessoas a falar inverdades porque eram exigidos em troca da liberdade. Mas eram forçados a falar coisas que desconheciam.
Por exemplo, vimos na Televisão o então Comissário Provincial de Luanda Pedro Fortunato, Betinho da Comissão do Bairro Operário acusado de ser o futuro primeiro Ministro, Minerva então Ministro do Comercio acusado de engarrafar os produtos alimentícios que na altura escasseavam dia após dia e para enganar as populações foram abertos os Armazens que em pouco tempo as lojas chamadas de Povo voltaram as moscas, Paulito da Força Aérea que era financeiro ao lado de sacos com dinheiro para lhe incriminar como o causador do descontentamento que havia nos Quartéis sem salários e fardamentos, todos eles inflamados com roupa rasgada.

Qual é a justificação que dava as autoridades?
Nós os sobreviventes, filiados no Partido Renovador Democratico-PRD em 1992 endereçamos uma carta ao Ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos no sentido de nos informar sobre as pessoas que não tinham compadecidos no convívio das suas famílias até então.
A resposta que obtivemos no dia 10 de Abril de 1992, foi cínica e provocadora que citamos 11 elementos foram condenados, julgados e fuzilados, e dão como exemplo os nomes de Nito Alves, Sita Valles, José Van-Dunem, Betinho, Monstro Imortal, Bakalov, Pedro Fortunato, Mbala Neto, Luis Kitumba, Sianuck ,e os outros desapareceram das cadeias, por um lado e por outro lado, a mesma carta dizia que é proucupação do Governo Angolano criar uma Comissão de Catarse, para resolver o passivo decorrente dos acontecimentos em alusão, só que de lá para cá, volvidos 27 anos, tal Comissão nunca foi tida e nem achada não passou de um mero charme politico.

Qual é sua opinião sobre essa Comissão criada por João Lourenço para homenagear as vitimas de conflitos políticos?
A Comissão é bem vinda, mais é difícil prever e compreender que essa Comissão vai resolver o passivo do 27 de Maio na sua plenitude. Nós defendemos essencialmente, a Construção de Monumento Memorial e a criação de um Cemitério exclusivo para as vitimas a semelhança das vitimas da guerra do Kuito, porque as Valas Comuns espalhadas por todo território são conhecidas e localizadas por nós e pelos seus Algoses que maioritariamente estão vivos.
Conhecemos algumas Valas, nomeadamente, do Cemitério do 14 onde construímos provisoriamente uma Campa Memorial que se presume terem sido enterrados cerca 2500 mil pessoas, segundo informações do Tractorista em serviço que permaneceu no local cerca de um mês, Tundavala na Huila, Nas Palmeirinhas localizada depois do Museu de Escravatura, no Moxico na localidade de Kalunda onde foram deportados mais de 5 mil e regressados para o convívio das famílias cerca de 900 elementos que por falta de emprego e porque não puderam estudar e terem ingressados maioritariamente com a idade adolescente e como consequência vivem enormes dificuldades de varia ordem.

Depois da clemência dada por Agostinho Neto qual foi a sua rotina o que é que fez?
Como disse atrás depois do pronunciamento do Presidente Agostinho Neto em Cabinda, creio ser em 1978, não posso precisar o dia e o mês, saí da residência da minha malograda irmã que Deus a tenha próximo, como tivesse saído da cadeia.
A rotina foi de reorganizar a vida, estudar e trabalhar no Hospital Militar onde reabri o Laboratorio de Analises Microbiológicas e ao mesmo tempo Chefe do mesmo.

Como chegou a trabalhar no Conselho de Ministro?
Regressado ao país depois da formação na então Republica Democrática Alemã fui colocado primeiro na Assembleia do Povo, que abdiquei porque achava incompatível laborar no local onde Lúcio Lara, era o Secretario Geral do Orgão em referencia, embora tivesse defendido a TESE, sobre o Parlamento e as suas Comissões de Trabalhos, que achava absurdo, pois na altura o Presidente da Republica, os Ministros, os Comissarios Provinciais hoje Governadores por inerência de funções eram todos Deputados, quer dizer que o que está acontecer no Parlamento actual, o Executivo não prestar contas é um vicio que vem de longe, razão do descaminho do Erário Público razão bastante para a minha abdicação e colocado depois no Secretariado do Conselho de Ministro que por pensar diferente em 1992 com advento do Sistema Politico Multipartidario eu e os companheiros sobreviventes fundamos o Partido Renovador Democrático, fui expulso e erradicado da função Publica em Janeiro de 1992.

Perfil:

Nome completo: José Adão Fragoso, politólogo, apartidário, activista cívico e dos Direitos Humanos, então funcionário sénior do Secretariado do Conselho de Ministro, erradicado da Função Pública por pensar diferente

Ano e localidade onde nasceu: Kaxikane acidentalmente devido da calamidade natural, seca, municipio de Icole Bengo, aos 14 deAgosto de 1948
Formação: Diplomado em Ciências politicas e Administração do Estado
Actual ocupação: Activista Cívico e Vice-Presidente Instituidor da Fundação 27 de Maio