Luanda - A discriminação de pessoas albinas em Angola ainda é grande e a associação da palavra "negócio" aos portadores de albinismo está a constituir uma preocupação no seu seio, revela um estudo.

Fonte: Lusa


A informação foi hoje avançada durante a I Conferência Pró Albinismo em Angola, organizada pelo Movimento Pró Albino em Angola e a Associação de Apoio de Albinos de Angola (4As), realizada em Luanda, no tema sobre "O Albinismo e a Dimensão Sócio Psicológica".

 

Segundo Aníbal Simões, autor do estudo qualitativo, que visou identificar, através de um questionário a 168 estudantes universitários finalistas, que imagem têm sobre as pessoas com albinismo, as palavras melanina, kilombo e diferente foram as mais citadas.

 

"Esta é a imagem, a representação, a ideia, que os estudantes universitários têm sobre as pessoas com albinismo", disse Aníbal Simões, referindo que uma pessoa portadora de albinismo é "kilombo", ou seja, "um indivíduo diferente e que tem problemas ao nível da melanina".



O estudo adianta que na sociedade este fenómeno concretiza-se com a ideia de que os albinos "são pessoas mais sensíveis, e que, por vezes, sofrem algum desrespeito", o que leva, em alguns casos, à sua segregação e amaldiçoamento.

 

Relativamente às agressões que os albinos sofrem, o estudo aponta o termo "negócio", citado pelos estudantes.

 

"Não entendi e vou continuar a fazer essa investigação, porque fiquei muito intrigado com este termo, que apareceu na representação dos estudantes universitários", referiu.

 

De acordo com o investigador, há da parte dos inqueridos a representação social da pessoa com albinismo, "como alguém que pode ser usado para negócio".

 

"E isto já é um aspeto preocupante. Acho que as políticas públicas no nosso país têm de começar a prestar uma séria atenção a esta categoria 'negócio' que aparece numa amostra de estudantes universitários, que, logicamente, é a camada um pouco mais abalizada no país", salientou.

 

"Será que já está a nascer aqui em Angola esta tendência da Tanzânia e do Quénia de fazer negócio com órgãos de pessoas com albinismo", questionou o pesquisador.

 

Aníbal Simões concluiu que, em Angola, ainda há um "olhar preconceituoso" da sociedade sobre esta camada da população, havendo mesmo famílias que têm sido submetidas à humilhação e rejeição.

 

Em declarações à agência Lusa, o presidente do Movimento Pró Albinismo em Angola, Guilherme Santos, disse que o estigma sobre o albinismo depende dos estratos sociais, podendo ser mais presente ou não no meio rural, em famílias de fé cristã ou com maior ou menor acesso ao conhecimento ou na sociedade urbana.

 

"A variabilidade é muito grande. Podemos é fazer comparação entre países. Não vou comparar Angola com a Tanzânia, o que não significa que em Angola não haja problemas de discriminação: Não posso é ousar e dizer que na Tanzânia a discriminação é muito maior que em Angola. Temos de pesquisar", referiu.

 

Questionado sobre qual a principal preocupação entre os albinos em Angola, Guilherme Santos afirmou que são as políticas públicas sociais que devem refletir as especificidades e particularidades inerentes aos portadores de albinismo, nomeadamente a questão do preconceito, por via da comunicação, educação e ensino, o cancro da pele e a baixa visão.

 

"Vai fazer uma consulta, os óculos custam 100.000 kwanzas (259,3 euros), famílias pobres, o salário mínimo é de 23.000 kwanzas (59,6 euros). São essas coisas concretas que as políticas públicas podem resolver", disse.

 

Guilherme Santos defendeu igualmente a realização de uma estatística sobre o número desta população em Angola.

 

"Em Angola tem de se fazer pesquisas sobre isso, o INE [Instituto Nacional de Estatística] pode fazê-las. Até não é preciso incluir isso no censo, pois, hoje, a estatística evoluiu de tal maneira que se pode fazer um inquérito e aferir-se o número de albinos por regiões, por províncias", frisou.

 

No ato de abertura da conferência, a secretária de Estado para a Ação Social, Família e Promoção da Mulher, Ruth Mixingi, informou que está a decorrer nas províncias do Uíje, Bié e Moxico um trabalho de cadastramento das pessoas com albinismo em situação de vulnerabilidade, processo que se vai estender a outas regiões do país.