Lisboa - A informação foi avançada por um programa da televisão israelita, segundo o qual Joseph Kabila contratou os serviços da Black Cube, que integra ex-agentes dos serviços secretos israelitas, em 2015, para acompanhar as movimentações dos seus inimigos políticos. No ano seguinte, 17 opositores do regime congolês foram mortos a tiro durante protestos

Fonte: Expresso

Uma investigação de uma jornalista do programa televisivo israelita “Uvda” acusa o antigo Presidente da República Democrática do Congo (RDC) Joseph Kabila de ter espiado os seus adversários desde 2015, através da filial de Telavive da Black Cube, uma empresa que disponibiliza serviços de informação secreta.

 

De acordo com o trabalho jornalístico, Kabila contratou os serviços daquela empresa privada, que integra antigos agentes dos serviços secretos israelitas (Mossad), para acompanhar as movimentações dos seus inimigos políticos.

 

“Kabila queria saber tudo o que se estava a passar nas reuniões da oposição, quem participava nelas e quem atacava o Presidente. Ele queria saber se havia pessoas próximas que o traíam. E havia traidores”, revelou à reportagem um ex-funcionário da Black Cube.

“REPRESSÃO SANGRENTA NOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS”

Uma dezena de agentes da empresa instalaram um serviço de informação não oficial num grande hotel da capital da RDC, Kinshasa, ainda segundo o trabalho da “Uvda”. O programa de televisão lembra que, em 2016, 17 opositores do regime congolês foram mortos a tiro durante protestos.

 

Em declarações à rádio francesa RFI, Olivier Kamitatu, antigo ministro de Kabila que passou para a oposição, disse que “estes métodos resultaram numa repressão sangrenta nos últimos três anos” e que faziam parte dos planos para o Presidente “se manter no poder”. “Sabemos muito bem que a República Democrática do Congo, no tempo de Kabila, de democrático só tinha o nome”, acrescentou.

 

A Black Cube nega as alegações e apresentou uma queixa por difamação num tribunal britânico contra a jornalista, exigindo 14 milhões de libras (15,7 milhões de euros) por danos, escreve o jornal “The Times of Israel”.

PRESIDENTE NOMEIA PM COMO PARTE DO ACORDO COM KABILA

Em maio, o Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, nomeou um primeiro-ministro quatro meses depois de ter tomado posse. Sylvestre Ilunga Ilukamba “estará à frente do novo Governo, cuja estrutura está a ser desenvolvida”, revelou então a presidência.

 

Ilukamba agradeceu ao atual chefe de Estado e ao seu antecessor, Joseph Kabila, que o propôs como primeiro-ministro, assegurando-lhe “a sua confiança”. “Considero a minha nomeação uma responsabilidade pesada neste momento crucial da história do nosso país”, acrescentou.

 

O nome de Ilukamba foi designado no âmbito do acordo político entre Tshisekedi e Kabila, revelou o porta-voz presidencial. Veterano da política, Ilukamba começou a sua carreira na época do ditador Mobutu Sese Seko e deverá ser o elo de ligação entre os dois Presidentes, o cessante e o atual, proclamado vencedor das controversas eleições de dezembro do ano passado.

 

Kabila mantém vários instrumentos de poder, a começar por uma grande maioria no Parlamento. No Governo de Ilukamba, os apoiantes do ex-Presidente serão maioritários.