Luanda - A CEI trabalhou como berço de movimentos anti – coloniais, aquilo que era encarado apenas como um farol para abrilhantar a mente dos estudantes, desde cedo veio à virar o seu esboço, de centro de estudantes do império para centro de nacionalistas e revolucionários do império, foi na CEI onde variadas figuras do nacionalismo angolano tiveram a primazia de conhecer – se de antemão, desde logo, no seu cruzamento de amizade, brotou iniciativas que davam conta da luta clandestina contra o fascismo de Salazar. Foi um importante espaço cultural, foi inventado nesse movimento a antologia da Poesia Negra de expressão portuguesa organizada por Mário de Andrade e Francisco Tenreiro. E a publicação da colecção Autores ultramarinos que foi dirigido por Costa Andrade e Carlos Ervedosa. Nesse momento foi se intensificando uma relação entre literatura e resistência a colonização. E essa ligação poderá ser vista no boletim denominado Mensagem que também era publicado pela CEI, como também em algumas produções posteriores em Angola. Essas preocupações dos estudantes e do movimento “Vamos Descobrir Angola”, políticas e culturais ficam visíveis no discurso de Agostinho Neto numa palestra proferida em 18 de Novembro de 1959, na Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa:

Fonte: Club-k.net

É mais triste que espantoso que uma grande parte de nós, os chamados assimilados, não sabe falar ou entender qualquer das nossas línguas! E isto é tanto mais dramático quanto é certo que pais há que proíbem os filhos de falar a língua dos seus avós. É claro, quem conhece o ambiente social em que estes fenómenos se produzem e vê no dia a dia o desenvolvimento impiedoso do processo de “coisificação” não se admirará de tanta falta de coragem. Este desconhecimento das línguas que impede a aproximação do intelectual junto do povo cava um fosso bem profundo entre os grupos chamados assimilados e indígena”. E confessa que “a maior parte dos poetas tem sido capaz de manter um contacto mínimo com as populações do seu meio e identificar-se, traduzir a vida desses homens nos seus poemas. (...) A poesia que neste momento podemos conhecer é moldada nos mesmos quadros estéticos da poesia portuguesa, acompanhando esta na sua evolução e sendo quase sempre poesia de compromisso. O poema angolano quase sempre toma uma posição perante a realidade social. Vemo - lo revoltado, ansioso, rejubilante por contribuir para a construção de uma vida harmoniosa entre os homens”. Sobre as questões estéticas, é peremptório ao afirmar que “os poetas formalistas são raros entre nós.

 

Coube à Viriato da Cruz o mérito da sua formulação teórica e estética. O movimento, escreveu ele mais tarde, deveria retomar, mas sobretudo com outros métodos, o espírito combativo dos escritores africanos do século XIX e dos princípios do actual. No espaço de 1948 os jovens Viriato da Cruz e outros, se reuniam em casa de Ilídio Machado e começaram a trabalhar no sentido de uma literatura nova de uma África portuguesa presa no berço do colonialismo luso, expressavam os seus descontentamentos com a ditadura nascida de Salazar contra os negros, para fazer face à ditadura Salazaristas os angolanos, nascidos nas roças da ditadura, num País que era seu, mas sentiam – se escravos, criaram assim em Luanda o movimento cultural “Vamos descobrir Angola”, um movimento que teve como factor central Viriato Clemente da Cruz, que é visto como artífice criador desse movimento. O movimento “Vamos descobrir Angola” visava estudar a terra que lhes fora berço, aquela terra que eles tanto amavam e estavam dispostos à morrer por ela. Este movimento notabilizou vozes icónicas de figuras emblemáticas duma Angola recôndita, como Viriato da Cruz (1928 – 1973), Agostinho Neto (1922 – 1979) e Mário António (1934 – 1989), entre outros (Ibidem).

A real missão desse movimento era a de descobrir Angola, ou desde então, encontrar a Angola proclamada por eles através da angolanidade ou processo de angolanização de Angola, fazer de Angola cada vez mais Angola. Esse movimento combatia o respeito exagerado pelos valores culturais do Ocidente (muitos dos quais caducos); incitava os jovens a redescobrir Angola em todos os seus aspectos através dum trabalho colectivo e organizado; exortava a produzir-se para o povo; solicitava o estudo das modernas correntes culturais estrangeiras, mas com o fim de repensar e nacionalizar as suas criações positivas e válidas. Este movimento de intelectuais visava destruiu a reinante literatura colonial que falsificava a realidade angolana através de uma Angola montada de forma virtual, este movimento preocupava – se em expor a Angola verdadeira com todos os seus problemas clamados nos musseques pelos negros e povos oprimidos pela ira colonial, entrando no âmago das realidade e sentimentos do angolano.

Esse movimento chamava a participação da juventude angolana oprimida à revoltar – se contra o colonialismo, a descobrir a sua própria terra amarrada no bunker colonial, através de um trabalho colectivo e organizado, apelava à produção literária dirigida ao povo, exigia a expressão dos sentimentos populares e da autêntica natureza angolana, mas sem que se fizesse qualquer concessão à sede de exotismo colonial. Tudo deveria basear – se no senso estético, na inteligência, na vontade e na razão angolana, enquanto estudavam o mundo angolano que os rodeava e dele faziam parte. Começou assim a germinar uma literatura que seria a expressão da sua maneira de sentir, o veículo das suas aspirações, uma literatura de combate pelo povo e por Angola. Começou assim a dar por aparecido as primeiras composições de natureza literária marcadas pelas condições ambientais resultantes de um conhecimento perfeito do homem e da terra. Visto deste ponto, compreender – se como o grito do “Vamos descobrir Angola”, tendo correspondido ao mais forte desejo e à mais premente necessidade do homem angolano se reencontrar consigo mesmo. Angola e os seus filhos estavam de facto, longes uns dos outros.

Os fortes ecos do “Vamos descobrir Angola” nascidos de Luanda, voaram e contagiaram a atmosfera de Portugal, dinamizando os jovens lá existentes, os africanos comovidos com o grito que ouvia do vamos descobrir Angola, despertaram – se do sono que os tornava inertes. Motivados pelo exemplo que de Luanda partia, anunciaram o nascimento de uma autêntica poesia angolana, eles iniciaram uma actividade literária que os Cadernos da Casa dos Estudantes do Império ficaram possessos pelo espírito do “Vamos descobrir Angola” desde 1951 […], e assim começou a revolução no ultramar! “Vamos descobrir Angola”.

O Movimento Anticolonialista (MAC) permitiu a criação de uma conjuntura política disposta a lutar contra o imperialismo colonial em todas as províncias do ultramar, neste âmbito, se tornara numa organização para fins que visassem colocar livre e independentes toda África Lusa. Edmundo Rocha terá afirmado que:
“Lembro-me que, em 1957, quando lançamos o MAC, do qual faziam parte estudantes das várias colónias portuguesas africanas, como Agostinho Neto, eu próprio, Lúcio Lara, Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Carlos Pestana e Iko Carreira, começamos por desenvolver um profundo trabalho de consciencialização e de mobilização de muitos jovens na Casa dos Estudantes do Império e de trabalhadores no Clube Marítimo Africano.”
Em 1960 o encontro dado entre os membros que albergavam o MAC e Fanon voltou à contagiar o tom de realce das necessidades do nacionalismo africano português, visando a criação de movimentos nacionais independentes, versando – se numa luta regional e não global, que viesse priorizar o povo de cada nação, Fanon realçava que o MAC era inoperante nestas questões em virtude do mesmo estar composto por variadas facetas anticolonias, nesta sorte, o MAC não viria à ser um movimento capaz de dar luz ao futuro do nacionalismo africano luso.

O PCP nesta ópitica, assim como o MUD, serviram de maquinaria opositória ao regime de Salazar, e são estes partidos que serviram para instrumentar, desde o ponto de vista político inúmeras figuras angolanas, onde muitas das quais vieram até desenvolver tarefas centrais na luta anti – fascista. Não é por acaso que se formou o MUD juvenil e que Lara no V Congresso do PCP defendia uma ideia oposta aos interesses desta organização relevando o interesse da luta armada pela independência focada para os africanos. Adolfo Maria, antigo membro do MPLA terá afirmado que:

O Agostinho Neto pertence a esse tal MAC, era um grupo de intelectuais africanos que aqui estava a estudar, que tinha uma solidariedade quer ideológica, quer de objectivos, quer de idade. Eles tinham uma diferença de sete a dez anos para a nossa geração, a minha e do Gentil Viana.

Há que ter presente que o MAC não cumpriu nenhum papel para a luta de libertação das províncias do ultramar, porque não conseguiria de fazê – lo, era de facto, uma visão dos fundadores do MAC tornar esse plano prático, pela ironia do destino, isso não foi possível. Quando presentes em Tunes, a visão de seus fundadores, tomou o peso da evidência contrária, os seus fundadores, afirmavam ser imperativo novas formações partidárias, que tivessem um peso nacionalista e voltadas para cada nação, foi assim, que o projecto de tornar o MAC num partido que viria fazer livre Angola, Cabo Verde, Guiné – Bissau, Moçambique e São Tomé acabou sepultado no silêncio. O médico angolano José Eduardo Macedo dos Santos teria afirmado nesta altura que:

“O movimento revolucionário anticolonialista, em cada um dos nossos países, não depende, nem pode depender de qualquer outro movimento revolucionário de países vizinhos ou afastados, qualquer que seja o regime social destes. O MAC está muito bem [...], não pode deixar de o criar, mas é urgente começar a pensar em movimentos nacionalistas para cada nação”.

O papel desempenhado pelo MAC na luta pelas independências dos países africanos de expressão portuguesa acabou por sofrer uma erosão maior do que a do tempo – o reescrever da história. Para a historiografia oficial, interessava ao MPLA surgir como pioneiro na organização da luta anticolonial em Angola e, para tal, estabeleceu como data fundadora o 10 de Dezembro de 1956 em Luanda, data essa que se tornaria incompatível com o surgimento do MAC em 1957. No sedimentar dessa história estão nomes que contribuíram para as discussões em torno do manifesto do MAC, como Lara e Mário de Andrade. Quando os membros fundadores do MPLA chegaram à conferência de Túnis o Hugo de Menezes, o Lúcio Lara, o Amílcar Cabral – foram ali como MAC, e é isso até que serve para demonstrar que o MPLA não existia naquela ocasião, conta Adolfo Maria, que em 1959 se cruza em Paris com Mário Pinto de Andrade, depois de já calejado nas lutas anticoloniais em Benguela. Mário de Andrade confessou em 1990, pouco antes de morrer, que essa fora uma mentira necessária em que participara porque «o movimento precisava de se legitimar internacionalmente sob pena de desaparecer» e que «o ardil político» visava dar-lhe «um cunho de maior autenticida.

 

BEM – HAJA!