Luanda - O comissário Francisco Massota afirmou ontem, em tribunal, que encontrou em folhas de salário da Escola de Polícia de Protecção e Intervenção 3.508 efectivos fantasmas que recebiam ordenados desde 2005.

Fonte: JA

Francisco Massota, 59 anos, está a ser julgado no Supremo Tribunal Militar desde o dia 18 deste mês, por crimes de burla por defraudação, conduta indecorosa e abuso no exercício do cargo de director da Escola de Polícia de Protecção e Intervenção.


Disse ter descobrido as falcatruas nas folhas de salário, durante as formaturas com todos os efectivos, inclu-indo doentes, no sentido de apurar a existência física dos mesmos.


Francisco Massota revelou que as formaturas eram realizadas à sexta-feira, durante três anos seguidos, tendo constatado a presença em parada de menos de 500 efectivos, quando nas folhas de efectividade da escola existiam 3.508.


Esta situação, sublinhou, levou-o a exonerar os responsáveis dos Recursos Humanos e Finanças da Escola de Polícia de Protecção e Intervenção, tendo o director-geral passado a fazer, durante três anos consecutivos, o controlo rigoroso dos efectivos em paradas, e que confirmou a existência de fantasmas desde 2005.


Perante esta realidade, Francisco Massota disse ter apresentado a questão ao então comandante-geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, referindo que não assumiria a responsabilidade pela irregularidade verificada na escola.


Segundo o réu, o ex-comandante-geral prometeu resolver o assunto com o director de Recursos Humanos, Luís Cadete. “Numa altura em que estava a descobrir muitas irregularidades na Polícia Nacional, fui retirado da escola e para meu espanto, nomeado conselheiro do comandante geral até hoje”, disse.


Questionado pelo juiz da causa, tenente general Domingos Salvador, se teria recebido da ré Elisandra Tomás, 200 mil kwanzas como agradecimento pelo facto de a ter ajudado a ingressar na Polícia Nacional, negou categoricamente. Confirmou, no entanto, a recepção de 70 mil kwanzas daquela agente, para compra de recarga de telefone, mas sem saber que o dinheiro era um gesto de agradecimento, uma vez que não a ajudara a ingressar na corporação.


Francisco Massota disse ter recebido das agentes Elisandra Tomás e Márcia Crispim, arroladas no processo, em dias seguidos, dois envelopes com documentos para ajudar a colocar jovens na Polícia Nacional, que depois os fez chegar ao ex-chefe do Posto de Comando da Unidade de Protecção Diplomática, Manuel Kanumuene, falecido três semanas depois, em 2016.


Disse que não chegou a abrir os envelopes e que foi o malogrado que prometeu levar o processo aos Recursos Humanos da Polícia Nacional, onde dizia ter pessoas de confiança. Frisou ainda que foi este sub-comissário Manuel Kanumuene que o informou que em cada envelope havia 900 mil kwanzas, perfazendo a quantia de um milhão e 800 mil kwanzas.


O réu disse em tribunal que como os casos não foram agilizados, após a morte do chefe do Estado Maior da Unidade de Protecção Diplomática, entendeu tirar do seu dinheiro a quantia de um milhão e 800 mil kwanzas para fazer a devolução às lesadas, através do seu guarda-costas.