Luanda - A juíza conselheira jubilada do Tribunal Constitucional, Luzia Sebastião, atribui a “espectacularização” de casos em investigação pela Justiça com a “juventude” de alguns actores dos processos e apela à tolerância nesta fase de transição política.

Fonte: Vangarda

Em entrevista ao jornalista José Rodrigues, da rádio Luanda Antena Comercial (LAC), a juíza defendeu que “a espectacularização dos processos tem a ver um pouco com a juventude dos actores em concreto que estão a fazer o trabalho”.


“O que se passa é que alguns dos actores, recentes e jovens nestas lides, exacerbam um pouco a postura da Procuradoria Geral da República (PGR)”, afirmou, sem citar nomes.


“Há necessidade de se fazer um trabalho no sentido de baixar um bocado determinadas posturas e maneiras de agir e de comportamento”, avançou, admitindo que há alguma “vaidade” por parte de alguns magistrados. “Os magistrados usam gravatas”, ironizou.


“Não acho que haja alteração do papel da PGR, que é de efectivamente deduzir a acusação num processo e depois defender a sua posição em julgamento, ou então concluir que os factos não servem de prova e até requerer a absolvição do arguido ou réu”, adiantou.


A também directora-geral demissionária do Instituto Nacional de Estudos Judiciários (INEJ) diz haver actualmente na sociedade angolana uma “total intolerância”, que justifica com o facto de as pessoas terem ficado “cansadas”.


“Às vezes estamos preocupados com o conteúdo, o que é importante, mas a forma também é importante”, disse. “Quando queremos ralhar ao nosso filho, se queremos que ele nos ouça, a forma como nos dirigimos a ele é muito importante. As palavras a usar, a expressão no nosso rosto, a posição em que o colocamos é importante, não é ele sentado e nos de pé, devemos ouvir as razões dele”, avançou.


“Muitas vezes, a forma como nos dirigimos a pessoas é de tal maneira humilhante e degradante que não vamos obter muito, e nós precisamos que essas pessoas [alvo de processos ligadas ao anterior Governo] reconheçam que fizeram mal, que a sua conduta criou sérios problemas ao País. Precisamos mais uma vez de nos reconciliarmos connosco mesmos”, prosseguiu a juíza.


Transição devia ser mais cuidada


A responsável defendeu que a transição de poder em Angola “devia ser mais cuidada” e lembrou que a transição “tem que levar tempo, são coisas que se vão fazendo”.


“O País tem melhorado, tem que melhorar e vai melhorar, e para isso é necessária a contribuição de todos nós, cada um de nós deve, na sua área, fazer as coisas com sentido de responsabilidade e seriedade para que o País melhore”, disse.


“Gostaria muito que os meus netos, que pela ordem natural das coisas vão ficar aqui mais tempo do que eu, tivessem um País melhor do que aquele que estou a ter”, explicou Luzia Sebastião, lembrando que participou na luta de libertação colonial.


“Estou a assistir, a viver este momento de mudança e talvez não quisesse que fosse como está a ser. Estamos todos muito angustiados, muito ansiosos, precisamos de serenar, mas também precisamos de ver o País a andar verdadeiramente”, afirmou a juíza jubilada.