Luanda - Ontem/hoje o Titilá Do Rangel (António Campos) teve de fazer 50 anos para unir uma classe desunida: a jornalística.

*Carlos Alberto
Fonte: Club-k.net

No meio de amigos e inimigos de um sistema político

Apesar de me ter parecido mais "juntamento" do que propriamente "união" de uma classe que se atrasa muito no mundo do quarto poder, no meu primeiro olhar, não há qualquer dúvida de que o gesto de juntar várias sensibilidades dos orgulhos e egoísmos no quintal do Centro Cultural Kilamba, que foi pequeno, por sinal, para acolher, num lado contrário da moeda, grandes rostos da nossa Comunicação Social - não apenas jornalistas - terá sido uma "Missão Impossível 8" na hora da selecção dos nomes de quem teria de estar nos 50 anos de um profissional da Rádio Nacional de Angola, que já deu "golpe de Estado" na embaixada de Angola na Rússia, chegando mesmo a fazer refém o embaixador de Angola, na altura, num território que vivia a ressaca da separação da União Soviética (URSS). O lado de "Tom Cruise" do Titilá do Rangel deve ter vindo ao de cima na hora da escolha dos convidados. Só assim consigo perceber o facto de ter seleccionado "inimigos públicos" para estarem ao lado dos "amigos do sistema".


No meio de amigos e inimigos de um sistema político que sempre investiu no "dividir para melhor reinar" na classe jornalística, esteve um pivô de calções de marca "Titilá". Aliás, já é marca do Titilá usar só "Titilá". Até o seu carro é "Titilá". O bolo dos 50 anos foi feito, também, pela empresa "Titilá". Todos conjugavam em palco o verbo "titilar".


O pivô conseguiu distribuir bem as jogadas da missão impossível. Na verdade, houve vários pivôs. Alguns agiam na clandestinidade, mas faziam as coisas acontecer sem que as mesas do centro do salão se apercebessem. Até os inimigos públicos subiram ao palco para tecer algumas considerações sobre o antigo bolseiro Tom Cruise na Rússia que chegou a reportar para a RNA um golpe de estado que ele próprio tinha dado.


A classe das grandes diferenças, invejas, ciúmes e estrelatos à mistura esteve representada por todo o tipo de olhar. Sentiam-se os olhares suspeitos do costume, mas também uma alegria disfarçada no fundo dos olhares que acabaram por se deixar contagiar pela alegria e satisfação do anfitrião.


Os jornalistas da geração do Reginaldo Silva e a do Titilá do Rangel aproximaram-se aos da minha geração. Os comunicadores da minha geração fizeram-se representar. A sociedade civil fez-se representar. A "Missão Impossível 8" estava a acontecer por meio de meio século.


O Reginaldo Silva, um dos mais velhos na classe e na festa, sabendo que goza do meu respeito - aliás, é dos poucos da sua geração a quem faço a minha vénia - mandou-me inclusive conversar com um jornalista da sua geração, com o sentido de se quebrar alguns hiatos na nossa comunicação. E, de facto, serviu. Conseguimos tirar alguns fantasmas que existiam na nossa cabeça. Às vezes é preciso conviver mais com as pessoas para tirarmos as verdadeiras ilações sobre o carácter de cada um.


A MI8 do Titilá do Rangel surtiu os seus efeitos. A classe jornalística ontem esteve mais unida. As diversas gerações aproximaram-se. Oxalá não haja necessidade de vermos mais 50 anos do Titilá do Rangel para que os inimigos públicos tenham também oportunidade de estar no mesmo espaço com os amigos do sistema (de ontem e de hoje).


Só não se aproximou aos outros os que ainda se acham com o rei na barriga. No meio das aproximações, existem ainda os que se sentem os donos do jornalismo, desprezando os mais novos que conseguiram impor-se sem bajular ninguém. Também observei os seus olhares. Na verdade, a MI8 não podia ter um desfecho perfeito. No entanto, os que têm a alma mais leve conversaram, fizeram as pazes e inclusive comeram no mesmo prato e beberam no mesmo copo. É obra da MI8.


Oxalá houvesse mais Titilás a fazerem 50 anos todos os dias para que as grandes diferenças, orgulhos, egoísmos e estrelatos na classe jornalística fossem ultrapassados. Parabéns pelo sucesso na "Missão Impossível 8", Tom, desculpa Titilá. Eu gostei.

Carlos Alberto
04.08.2019