Luanda - A posição é da escritora e jornalista Cesaltiva Kulanda, que falava esta sexta-feira, 09 de Agosto de 2019, no lançamento do seu livro “Dicionário de Verbos Conjugados em Umbundu e Português – Três tempos num só modo”, que ocorreu em Luanda, na União dos Escritores Angolanos (UEA), numa cessão bastante concorrida, pela presença de artistas nacionais, com destaque do músico Ondaka Yowiñi, e o renomado escritor Lopito Feijó.

*Adriano Kanganjo
Fonte: Club-k.net

A cerimónia contou igualmente, dentre outras individualidades, com representação do MED, INIDE, docentes universitários, Deputados a Assembleia Nacional, e amigos de longa data da escritora.


De acordo com Cesaltina Kulanda, “Seria bom que, o Estado Angolano, dentro das preocupações que tem, no que a onomástica angolana diz respeito, devia rever a questão da toponímia, e também o Ministério da Justiça ter em consideração os nossos nomes, aqueles que nos identificam”.


“É importante que se considere que, os nossos nomes africanos não são atribuídos por mero acaso. São atribuídos em função de circunstâncias, desde características fisiológicas ou fisionómicas, aspectos do meio que envolve a família onde nasce esse bebê. Enfim”, disse.


A Especialista exortou para a necessidade da contextualização da ortografia das línguas nacionais, prestando-se especial atenção a questão dos topónimos.


“Olhando para questão da toponímia precisamos ver a questão da ortografia contextualizada. Cada língua tem a sua ortografia, de acordo o seu contexto, de acordo a representação dos seus sons fonéticos. Então, dizer que, a questão da toponímia angolana, quando se vem a público e se diz caem os Ks e entram os Cs, estamos a excomungar valores; estamos a esvaziar a alma do topónimo. Os topónimos são divididos por classes. As tais chamadas classes prefixais, ou então digo, classes taxonómicas”.


“Vamos encontrar topónimos de origem humana, que são os àntropo-topónimos; vamos encontrar os hidro-topónimos, que vêm das realidades pluviais ou hídricas, fito- topónimos, são topónimos que vêm das plantas; animo-topónimos que vêm dos animais. Por aí a fora. Todos esses são classificados em função dos vários elementos que nortearam o surgimento deste topónimo: desde questões geográficas, questões psicológicas, culturais, semânticas, sintáticas, e outras realidades”, afirmou.


A linguista chamou também a atenção dos Deputados a Assembleia Nacional, para a inserção imediata das Línguas Nacionais (denominadas Línguas de Angola) no Sistema Nacional de Ensino.
“Estou a dizer que, a Língua é uma dádiva divina, então é importante, ela também é passível de desenvolvimento científico. Então nossos representantes na Assembleia Nacional, faz favor, vejam a questão da inserção imediata das línguas no sistema de ensino, que passa pelo reconhecimento urgente das nossas ortografias harmonizadas”.


A escritora que defendeu a harmonização da escrita da Língua Umbundu apelou para que já não haja ortografia da Igreja Católica, nem a da Igreja Evangélica, mas sim, a escrita correcta da Língua Umbundu.


“Então, essa questão do “Tch” vai ser superada na escola. Hoje é vergonhoso ir para Aliança, são eles que estão a ministrar as Línguas Nacionais, e são os que mais têm a vontade de aprender. Nós não. Já abrimos o nosso espaço do Etumbuluko, na internet, com muita tristeza, lamento mesmo, os nossos irmãos não querem adoptar a ortografia harmonizada: continuam a escrever o a e u, nas nossas línguas não há ditongação. Entre o A e o U, tem que haver aí uma semivogal”.