Luanda - Há muito que os citadinos constatam que a cidade de Luanda tem uma gritante crise de autoridade. Cada um faz o que quer e muitos destes ficam impunes diante da passividade das autoridades.

Fonte: Club-k.net

Vamos hoje fazer uma resenha de coisas que têm sido discutidas um pouco por toda a cidade, para as quais é preciso tomar decisões rapidamente.

Guardas decidem sobre o estacionamento

Há já alguns anos que se chama à atenção para o facto de os seguranças espalhados pela cidade tomarem decisões acerca do estacionamento – uma matéria que não é de sua responsabilidade.


Ora colocam pedras, cones e outros objectos para guardar lugar para os seus, ora estes objectos servem para impedir o estacionamento em locais onde não existe qualquer sinal de proibição de estacionamento.

Por mais que se lhes chame à atenção, discutem por estarem convencidos da sua razão, como se tivessem qualquer autoridade sobre a via pública.
E ai daquele que não cumpra as suas determinações.

Como se não bastasse, jovens lavadores de carros fazem o mesmo um pouco por toda a cidade, com total impunidade e diante do olhar passivo dos fiscais da municipalidade, aos quais pagamos para fazerem alguma coisa de jeito.

Água das fossas a escorrer pelo asfalto

Claro que não voltámos ao que sucedia na década de 1990, mas quem circula pela cidade continua a ver-se obrigado a pisar em águas de proveniência duvidosa.


Muita dessa água faz-se acompanhar de maus cheiros, por provir de fossas.


Há locais onde isso ocorre durante meses a fio, sem que as competentes autoridades assumam o seu papel.

De que autoridades falamos?

O Gabinete Provincial de Saúde tem falhado, porque devia velar pela penalização de quem seja responsável por atentados à saúde pública.

E os fiscais da municipalidade também falham, porque deviam circular pela cidade, reportando a quem de direito as anomalias que se registam.

Cones espalhados pelas faixas de rodagem

É comum vermos cones espalhados pelas faixas de rodagem, não apenas para guardar lugares de estacionamento, mas também junto a esquadras ou postos da polícia, como por exemplo ocorre há anos no Cassenda (na rua que vai dar à estrada da Samba), onde os cones ultrapassam impunemente o espaço destinado a estacionamento, dificultando a circulação de viaturas. Isso ocorre há pelo menos década e meia e ninguém da polícia faz absolutamente nada diante da arrogância das pessoas que tomaram tal decisão (presumo que sejam agentes da polícia).


Nos últimos anos, temo-nos apercebido de se estar a intensificar um fenómeno contrário às regras, que é o de os funcionários de limpeza (daqueles que varrem e recolhem areia junto aos passeios) colocarem cones e carrinhos de mão na faixa de rodagem, a qualquer hora do dia, impedindo a circulação de viaturas.
Recordo-me dos meus tempos de meninice e juventude, quando a limpeza da via pública se fazia em horário (digamos assim) decente: antes das 7 horas da manhã ou depois das 18 horas.


Hoje, a limpeza faz-se a qualquer hora do dia, preferencialmente em horário de grande circulação de viaturas: 8 horas, 10 horas, 13 horas, 16 horas e por aí adiante.
Não há regra. Ou melhor, cada empresa que presta serviço à municipalidade estabelece as suas regras. E aqueles empregados com problemas na cabeça, que se sentem mal (por exemplo) por não disporem de viatura têm total liberdade para colocar cones (não no espaço destinado ao estacionamento, mas) a meio de faixas de rodagem, apenas para dificultarem o trânsito, já de si caótico.


Sugiro que as pessoas que exercem funções de comando nas municipalidades de Luanda circulem pelas vias, para se aperceberem dos transtornos que essa bandalha causa aos automobilistas.

Contentores “da morte”

No quadro do serviço social que a comunicação social deve prestar, o “Jornal de Angola” vem chamando à atenção para um contentor que ficou durante anos nas cercanias do Nzamba 2, em plena via pública, causando transtorno à circulação. À vista de todos.


Só depois de ter causado a morte de 4 pessoas, este “contentor da morte” foi finalmente removido da via pública.

Mas não é o único. Há dezenas de “contentores da morte” espalhados pela cidade, colocados em faixas de rodagem, sem que as competentes autoridades cumpram a sua missão.

Apesar de estar de parabéns, numa coisa o “Jornal de Angola” falhou: atribuiu a culpa à empresa que colocou naquele local o afamado contentor do Nzamba 2. Ora, diante dos cidadãos, a empresa não tem qualquer responsabilidade sobre isso. O responsável é a entidade que firma contrato com tal empresa e que permite que seja a empresa a tomar decisões em relação à ocupação de faixas de rodagem – um departamento que deveria ser de responsabilidade exclusiva das autoridades municipais e policiais.

Desordem nos semáforos

Durante muito tempo, chamou-se à atenção para o facto de os semáforos não funcionarem, em toda a cidade. Com todos os transtornos que daí advinham para a circulação automóvel.


De repente, começaram a funcionar. E até parece que colocaram semáforos onde não havia.

Contudo, uma vez que os semáforos se colocam em todos os cruzamentos, sem qualquer regra nem ordem, temos hoje semáforos que só causam transtorno à circulação e acidentes. Quando a missão do semáforo é exactamente oposta: facilitar a circulação e diminuir os acidentes.


Em bairros como a Vila Alice, Maculusso e parte do Patrice Lumumba, até em locais onde não havia dificuldade de trânsito, passou a haver engarrafamento causado pelos semáforos.

Ora, não é possível sobrevivermos assim, quando as autoridades tomam a decisão de colocar semáforos onde eles simplesmente não são necessários.


Vejamos o exemplo da Igreja Sagrada Família. Há uns anos, chegou a haver engarrafamentos nesse local. Mas isso nada tinha a ver com a ausência de semáforos, tanto que isso já foi ultrapassado faz tempo. Voltámos a circular normalmente, até porque aquela área funciona como uma rotunda gigante. E, como se sabe, na maior parte das rotundas, os semáforos só atrapalham o trânsito. Aquele local não é excepção a esta regra.


Pois agora, graças ao “iluminismo dos semáforos”, voltámos a ter dificuldade de circular pela Sagrada Família, tal como aliás ocorre nos já citados bairros Maculusso, Patrice Lumumba e Vila Alice (que agora são simplesmente de evitar por quem não queira perder tempo no trânsito).


A responsabilidade, neste caso, é da Delegação local do Ministério do Interior.

O que fazem os fiscais?

Uma pergunta que nós, munícipes, nos fazemos é: o que fazem os fiscais?


Volta e meia, ouvimos falar da perseguição a zungueiras , com roubos à mistura. E da impunidade que grassa por esse sector, já lá vão anos de actuação indevida e de muita correria e muito choro pelo dinheiro perdido por zungueiras, com o beneplácito das autoridades.

É preciso que a municipalidade (e, neste caso, também o Governo da província de Luanda) revejam a pauta dos fiscais.

Fiscal tem de trabalhar e não andar a perseguir as pobres coitadas das zungueiras. Até porque, se quiserem perseguir alguém, que se transfiram então para a polícia e persigam então os gatunos que circulam pela cidade.

Fiscal é para circular pela cidade, detectando e corrigindo irregularidades.

Fiscal é para penalizar os cidadãos que tomam decisões sobre estacionamento, que permitem o escoamento de águas pela via pública ou que colocam cones na via pública, sem estarem autorizados a fazê-lo.

Fiscal é para verificar se há funcionários de limpeza da via pública, a trabalharem em horário de grande circulação de trânsito. E a colocarem desnecessariamente cones e carrinhos de mão em plena faixa de rodagem.

Fiscal é para detectar e reportar objectos que impeçam a circulação de viaturas, em plena faixa de rodagem (contentores incluídos).

Fiscal é para verificar irregularidades e não para pactuar com irregularidades.

Fiscal é para prevenir actos contrários à lei e não para praticar actos contrários à lei.

Numa só palavra, fiscal existe para fiscalizar. Mas também para ser fiscalizado.

Paulo de Carvalho
31/8/2019
WhatsApp