Luanda – É inegável que Agostinho Neto faça parte de um momento muito delicado e importante na decisão do futuro de Angola e logo, é uma figura que merece destaque no painel da Nação, como peça fundamental na sua construção. Angola é um país que foi logo fundado sob bases ideológicas controversas e representadas por diversas posições.

Fonte: Club-k.net
Este foi um problema que inicialmente os próprios movimentos não conseguiram gerir, levando-os a se fundirem para serem mais fortes desde os anos 50 do século passado, chegando a se consolidar depois dos anos 60 e por aí terem mesmo se definido os verdadeiros carris dos movimentos em causa sob o ápice da luta pela libertação nacional.

A posterior o governo português notou uma resistência pesada e não soube como negociar nem de quem se defender, levando-o após o golpe de 24 de Abril de 1974 ter sido forçado a conceder a Independência aos filhos da terra.

É facto que quem foi teu rival nunca te oferecerá de bandeja os direitos de explorar a parceira sem que estejam por detrás novas maquinações para seres um "chifrudo" que ainda finge notar fidelidade do novo monopólio.

Foi assim que Portugal fingiu entregar o país aos movimentos nacionais, mas que as maquinações e negociatas comunistas funcionaram como plateia para aplaudir até o tossir do músico. Angola não teve o mesmo exemplo de Moçambique em que um movimento tenha sido reconhecido pelo colonizador, pois nós por cá tivemos um país que quase nasceria no bom ventre da DEMOCRACIA, se não estivessem sido incluídos os orgulhos e ambições desmedidas do actual falso único herói.

Hoje constata-se que a história é outra, o mundo é diferente. Os heróis são conquistadores e nunca destruidores. Mas temos dum lado um Herói manchado com sangue mesmo numa altura que se julgava acomodado ao poder que usurpara com o uso das máquinas comunistas.

O embrião Angola que era concebido em Alvor foi abortado pelo actual FALSO ÚNICO HERÓI. Agostinho Neto foi entre os 3 líderes dos movimentos de libertação o menos militar. Foi sim revolucionário pacífico, das reuniões, textos e outros meios menos violentos.

A sua resistência militar é questionável, até porque é formado em Medicina e não se compatibiliza com os armamentos já comparativamente com o seu potencial arquirrival Savimbi que fez instrução militar na China além de uma formação superior em Ciências Políticas.

Agostinho Neto foi um político de carteira e não de carreira; foi o espírito revolucionário que o despertou, mas soube explorar mal essa soberana oportunidade; tivemos um médico emprestado à política e os seus conhecimentos em matéria política são do contexto vivido, podendo porém ser considerado um dos heróis, pelo facto marcante de estar presente no grupo dos assinantes dos Acordos de Alvor como líder dum dos movimentos que na altura era pivot para uma Angola livre da colonização, o MPLA.

Não existe tentativa de ofuscar a imagem de Agostinho Neto, antes porém, elevá-lo é um dever patriótico e alto interesse da Nação Angolana pelos feitos positivos protagonizados antes do Nascimento da República (Popular) de Angola.

Agostinho Neto foi um intriguista, ambicioso e obcecado pelo poder ao ter optado por instalar a calamidade em Angola para o nascimento de um conflito pró-poder. Foi o culpado de toda maldade que vivemos até hoje.

Se Angola tivesse eleições livres e transparentes em 1975 jamais haveria guerra. Jamais haveria marimbondos, porque com toda certeza o MPLA não seria o 1º partido a governar esse país e o poderia sim, talvez no critério da rotatividade e periodicidade eleitoral; pelo menos começaria uma governação já com lições dos antecessores.

O texto dos Acordos do Alvor é muito claro e não se compreende quão analfabetismo político reinou na altura para se celebrar a Independência de forma unilateral, tendo nascido o vírus da uinicidade governativa e razão pela qual até hoje o MPLA governa sozinho um país que nunca conseguiu gerir de forma patriótica (com excepção da fachada do GURN que murchou facilmente).

Agostinho Neto terminou o seu heroísmo depois dos Acordos de Alvor, porque mesmo a proclamação da Independência foi ilegal, se tivermos que classificar o acordo de Alvor como um texto pré-constitucional base. Não houve eleições, porque o MPLA violou o direito dos angolanos ao lhes impedir a votar para escolher seus representantes legítimos.

Veja que Agostinho Neto e seu MPLA nasceram na Nova Angola com sangue monárquico em que eles são os únicos representantes do povo Angolano. Se for para exemplificar, olhemos para o que diz o artigo 31º da arrepiante Constituição de 1975: “O Presidente da República de Angola é o presidente do M.P.L.A.”

Com esta premissa constitucional quer dizer que quem não fosse do MPLA, mesmo que liderasse um partido não podia ser Presidente de Angola. E como isso não provocaria conflito? Se o MPLA é apenas um e só tinha um presidente que foi Agostinho neto, logo só ele podia ser presidente de Angola!

Este absurdo da primeira constituição não é o único e aparece em vários artigos onde o MPLA é tudo no governo e no país (cit. artigos 6º, 32º, 36º, 48º, 57º, etc.). Até a própria Independência proclamou perante o Comité Central do MPLA. Que aberração!

Com estas malandragens ditatoriais é de se acreditar que ou Agostinho Neto foi forçado a se tornar déspota, e se for, ele foi um incompetente que não soube usar sua própria cabeça para ser autónomo nas suas medidas pelo menos as básicas, ou então, foi ele quem agendou o plano de toda maldade ocorrida naqueles anos e logo, é um tirano imensurável: “não vamos perder tempo com julgamentos”. Que violação!

Hoje vemos que a nova Constituição neste aspecto mudou apenas as palavras, mas quem faz tudo é a mesma organização, por essa razão não existe nenhum “Marimbondo” fora do circuito do MPLA. Como ser marimbondo é ter acesso às verbas do Estado e usá-las a seu bel-prazer, ali todos são do MPLA.

Mas no “holocausto” à moda angolana do 27 de Maio morreram tantos angolanos, mesmo não sendo do MPLA, pois foi uma oportunidade sublime do tirano para ceifar vidas de seus opositores internos e eliminar fisicamente alguns opositores externos com a mesma acusação de golpistas, até pessoas conhecidas como inocentes.

Desde logo, começamos a perceber que a matriz ideológica do MPLA não é de uma organização de bem, queiramos ou não acreditar, pois embora se trate de uma história dum período ímpar, o MPLA continua a ser uma máquina de matança, mas com apenas tácticas diferentes.

Por exemplo, nos últimos anos, desenvolveu-se a cultura do desvio do dinheiro para deixar a população sem água, sem hospitais, se educação e sem o mínimo para viver: outra forma de matar de forma silenciosa, em grande escala e a longo prazo!

Enquanto não se fazer encontro com a história, não se reinventar a pessoa de Agostinho Neto e não se inverter esse culto para homenagear um conjunto de cidadãos que deram tudo para a Independência, essa geração actual não será conservadora dessa diabolização e ofuscação dos outros nossos heróis e crê-se, num futuro muito próximo a ruptura com o passado é inevitável para se estabelecer uma ordem onde todos se sintam como defensores das causas nobre dessa nação sofrida e sofredora.

Mia Couto, um conceituado escritor moçambicano enumera os sete sapatos sujos, os quais cabem todos no pé do MPLA, como sintetizaremos abaixo com pelo menos um exemplo:

1 - A Ideia de que os culpados são sempre os outros: O MPLA só se assume autor das conquistas e nunca das derrotas. A Independência e a paz são deles, mas a guerra é dos outros.

2 - A Ideia de que o sucesso não nasce do trabalho: Para O MPLA, basta ser do partido é suficiente para ser dirigente, onde são muitas vezes desprezados outras componentes de carácter técnico, científico, e ético-moral.

3 - O preconceito de que quem critica é um inimigo: É isso. Basta uma crítica, é suficiente ser rotulado como oposição. Para o MPLA, não há apartidários. Só há militantes e oposição. Mesmo os nomes de amigos e simpatizantes são uma mega conversa, porque no fundo, mesmo como amigos te exigem vergar a camisola.

4 - A ideia de que mudar as palavras muda a realidade: Tivemos recentemente os pronunciamentos do presidente João Lourenço a desfazer o conteúdo de que não havia em Angola fome, mas sim, mal nutrição. Para um homem preciso, deve apenas responder se no Sul de Angola há o quê. Mudou as palavras, amas a realidade mantém-se, são pessoas morrendo pro não ter o que comer.

5 - A vergonha de ser pobre e o culto das aparências: Vejamos que com o MPLA somos um país mendigo, mas o PR freta aviões caríssimos mesmo com voo presidencial milionário subaproveitado; se falava dum país que crescia a dois dígitos, mas com mais de 20 milhões de pobres; organizamos o CAN com sucesso construindo novos estádios, mas o povo morrendo por falta de hospitais.

6 - A passividade perante a injustiça: Angola desde a sua Independência nunca teve uma justiça republicana. Nenhum tribunal condenou os actos de Agostinho Neto, quando desprezou os julgamentos; cidadãos são sentenciados e injustiçados, sob cumplicidade e passividade dos dirigentes.

7 - A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros: Nesse último sapato, temos visto os dirigentes angolanos (que por sinal todos do MPLA) a quererem viver uma vida europeia quando se encontram numa Angola martirizada pelo saque. Com tudo isso, era mais lógico que o dia do Herói fosse comemorado nesse data ou noutra acordada nacionalmente (mesmo que seja no parlamento após um inquérito), mas que fossem homenageados todos os heróis da libertação e pós-libertação, como também se criar monumentos dos líderes proeminentes dessa luta.

Enquanto tudo continuar a ser “MPLA como povo e povo como MPLA”, acredite-se que o projecto de construção de uma Nação para todos jamais terá pernas para andar.

*Professor, escritor, investigador, activista, conferencista, fazedor de opinião e desenvolvedor tecnológico