Luanda - CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO PRESIDENTE ISAÍAS SAMAKUVA AOS 08/10/2019.



Angolanas e angolanos


Como é do conhecimento geral, a UNITA programou para o período de 13 a 15 de Novembro do corrente ano, a realização do seu XIII Congresso Ordinário.

 

Trata-se de um evento que está a despertar o interesse de muitos angolanos por ocorrer num momento de certo modo complexo, dinâmico e fértil da vida política do nosso País.


Tendo terminado o prazo da formalização de candidaturas para o cargo de Presidente da UNITA para o próximo mandato, decidi fazer esta breve comunicação aos angolanos para clarificar o tão badalado equívoco sobre um alegado "silêncio" e "indecisão" de Samakuva sobre uma hipotética candidatura a mais um mandato.

Recordemos os factos.


Em 2016, e não obstante a não limitação de mandatos estabelecida pelos nossos Estatutos, declarei aos angolanos, pela primeira vez, a minha vontade de não continuar no cargo de Presidente da UNITA.


Em 2017, antes e durante a campanha eleitoral, afirmei aos angolanos que, depois das eleições de Agosto, deixaria o cargo de presidente da UNITA para servir o partido numa posição diferente. No dia 27 de Setembro de 2017, aquando da abertura da quarta reunião ordinária do Comité Permanente da Comissão Política, reafirmei esta posição, tendo considerado que era chegado o momento de se desencadear o processo conducente a materialização desta decisão. Afirmei na altura que, e cito, "Esta reunião deverá hoje (27.09.) proceder à definição da data em que a Comissão Política do Partido vai reunir, para que além de analisar o relatório da campanha eleitoral, possa também, nos termos dos Estatutos, ser ouvida quanto à realização de um Congresso extraordinário para eleição do novo presidente do partido".


A Comissão Política reuniu-se em Dezembro de 2017 e deliberou que, não obstante a vontade expressa pelo Presidente eleito de deixar a presidência após as eleições gerais de Agosto de 2017, ele deveria continuar a presidir a UNITA até o término do mandato, em 2019. Após essa deliberação, em Janeiro de 2018, suspendi o meu mandato como Deputado para poder servir o Partido com a plenitude das minhas forças e do meu tempo.


Chegados a Fevereiro de 2019, o ano do fim do mandato, mais uma vez, reafirmei aos angolanos, ao longo de uma entrevista à Rádio Mais, bastante publicitada, que cumpriria a deliberação da Comissão Política e deixaria a liderança do Partido no fim deste mandato, após a tomada de posse do terceiro Presidente da UNITA, a ser eleito pelo XIII Congresso Ordinário

Ainda assim, por diversas vezes, diversos jornalistas me perguntaram se havia de voltar a candidatar-me. À essa insistência fui também insistindo que já me havia pronunciado sobre o assunto e, achava que não estavam a acreditar no que havia dito anteriormente, pelo que o melhor seria esperarem para verem.


Em Julho passado, convoquei o XIII Congresso Ordinário do Partido para Novembro. Mesmo assim, muitos distraídos caíram na armadilha dos meus adversários e detractores e passaram a atacar o alegado "silêncio" ou "indecisão" de Samakuva.


Na realidade, ao constatar que não obstante as múltiplas afirmações e reafirmações de que já não me candidataria, a cantilena continuava, percebi que os adversários da minha integridade moral, decidiram transformar-me na figura central do XIII Congresso, numa tentativa de condicionar a sua agenda e os seus resultados. Nos media, consciente ou inconscientemente, alguns participaram nesse jogo. Alguns de vós, senhores jornalistas, também caíram nesta armadilha e na assunção de que os "africanos não respeitam a sua palavra", acharam que deviam forçar Samakuva a transformar o "não me vou candidatar" numa canção diária. Espero que agora que o prazo da formalização das candidaturas terminou se apercebam de que Samakuva é um africano diferente.

Entretanto, algumas perguntas continuam a incomodar-me:


Porque é que não acreditaram na minha palavra? Faz algum sentido alguém que tenha ideias claras sobre o que deseja fazer, condicionar a sua candidatura à liderança do Partido à uma eventual candidatura de Samakuva, que já havia dito, e repetido, que não seria candidato?


Onde está o discernimento político dos cidadãos, mas sobretudo de analistas e jornalistas? Como poderei eu confiar no que se escreve ou se diz como análise se afinal as pessoas são tão facilmente levadas por agendas inconfessas de adversários da unidade e da coesão?


Faz algum sentido falar-se em "silêncio" ou "indecisão" de Samakuva quando este já havia repetidas vezes afirmado que não se recandidataria?

Era mesmo preciso fazer disso uma canção diária? Ou havia outros motivos e outros objectivos?

Caros compatriotas:


Dentro de pouco mais de 30 dias estarei a terminar as minhas funções de Presidente da UNITA. Foram 16 anos de luta sinuosa por meandros muitas vezes silenciosos e traiçoeiros. Expusemos a natureza dos nossos adversários e provámos que a corrupção foi engendrada e institucionalizada como política de Estado para permitir à oligarquia delapidar Angola, empobrecer os angolanos e manter-se no poder.

 

No fim disso tudo, posso dizer que estou satisfeito porque o povo perdeu o medo e forçamos os arquitectos da corrupção a deixar o poder. Os que ficaram, na tentativa de salvar o que ainda deles resta, adoptaram como sua a Agenda da Mudança da UNITA, levantando como bandeira o combate à corrupção que fomos pregando ao longo dos anos. Hoje, dirigentes do País admitem publicamente que roubaram o dinheiro de Angola e os votos dos angolanos.


Agradeço do fundo meu coração todos aqueles que nos acompanharam ao longo destes anos todos e que com as suas palavras de encorajamento ou com as suas críticas nos ajudaram na busca de um desempenho melhor.


Não vou deixar a política nem vou abandonar o povo. Vou continuar a luta pela dignidade dos menos equipados. Estarei activo na política e não só, na defesa do projecto de Muangai e na luta pela construção de uma Angola para todos.

Agradeço a vossa atenção.

Isaías Samakuva

08/10/2019