Luanda - O investigar britânico Justin Pearce considerou hoje à Lusa que o Presidente de Angola tem colocado o país no caminho certo, mas alertou que as medidas não são ainda suficientes para o desenvolvimento do país.

Fonte: Lusa

"Nos últimos dois anos, desde a eleição de João Lourenço, Angola tem estado num período de transição, e o ponto final ainda não é certo", disse Justin Pearce, em entrevista à Lusa em Lisboa, onde participou num encontro da rede académica angolana.

 

"Tem havido mudanças para a descentralização económica, mas o problema é que durante a Presidência de José Eduardo dos Santos, a subida do preço do petróleo em 2004 não criou incentivos para a diversificação da economia e é por isso que Angola tem estado numa condição muito precária desde a queda dos preços do petróleo, em 2014", disse o investigador.

 

"João Lourenço tomou o poder três anos depois da queda do petróleo e, por causa disso, começou cedo a implementar medidas certas, mas ainda não são suficientes", afirmou o professor no Centro de Estudos Africanos na Universidade de Cambridge.

 

Para Justin Pearce, o simples facto de o país ter mudado de liderança "é significativo, porque demorou 38 anos, durante os quais José Eduardo dos Santos e a sua família passaram a dominar a esfera política e económica em Angola".

 

Com a nova liderança de João Lourenço, "é claro que um certo espaço já se abriu, já há mais possibilidade de liberdade de expressão, que não havia antigamente", admitiu, alertando, no entanto, que é difícil descrever o final deste processo.

 

"Até agora Angola tem estado mais ou menos no bom caminho, muita gente ficou surpreendida pela velocidade da mudança, principalmente os muitos que tinham dito que Lourenço seria apenas um fantoche de José Eduardo dos Santos, e ficaram surpreendidos quando começou a implementar mudanças, mas ainda é difícil dizer para onde vamos daqui para a frente", apontou Justin Pearce.

 

Para este investigador, o problema está também na oposição ao Governo, que diz ser muito fraca: "A oposição angolana está num estado muito fraco, o problema é que quando dos Santos era Presidente, o discurso dos partidos de oposição e também da oposição cívica era muito orientado contra o Presidente, a mensagem principal era `dos Santos fora`, mas agora que dos Santos já saiu, parece que a oposição já não tem alvos certos", concluiu o investigador.