Luanda - A produção diária de sacos plásticos por reciclagem, ao nível do país, atingiu no período de 2014 e 2017 os 12 milhões, fruto do empenho de três fábricas, sedeadas em Luanda e na Huíla. O Ministério do Ambiente, através da Agência Nacional de Resíduos (ANR), está a preparar legislação para a retirada do uso de saco plástico no mercado nacional.

Fonte: JA
De acordo com o presidente o Conselho de Administração da agência, Monteiro Lumbo, desde o ano passado que se começou a preparar uma legislação para inibir, gradualmente, o uso de saco plástico, devido o efeito nocivo à natureza e ao próprio homem.

Nos termos da legislação, já concluída e prestes a ser entregue ao Grupo Técnico do Conselho de Ministros para apreciação, determina-se que a aquisição de saco plástico passará a ser mediante o pagamento de uma taxa, cujo valor ainda não está definido. A medida contraria o que, muitas vezes, acontece, principalmente nos grandes supermercados, onde os sacos plásticos são disponibilizados gratuitamente.

Monteiro Lumbo informou que ao nível do país, a produção diária de sacos plásticos, por reciclagem atingiram, no período de 2014 e 2017, os 12 milhões, fruto do empenho de três fábricas, sedeadas em Luanda e na Huíla.

Por meio do pagamento da taxa, acrescenta, a ideia principal é reduzir, gradualmente, o uso do saco plástico, para num futuro próximo, atingir-se a erradicação total deste produto no mercado nacional.

Por outro lado, a legislação resulta também do facto de Angola ter assumido, em Tóquio, no Japão, o compromisso de liderar “o combate” de uso de sacos plásticos ao nível da região.

A iniciativa do Ministério do Ambiente foi antecedida da realização de vários encontros, que serviram para esclarecer e auscultar os agentes económicos sobre a erradicação do saco plástico.

Produtores favoráveis à iniciativa

Ouvido pelo Jornal de Angola, o responsável de manutenção de máquinas da empresa Induplastic, Edson Dongoxi, mostrou-se a favor da implementação da Lei, sublinhando que a mesma já é uma realidade em vários países, incluindo africanos, como é o caso do Rwanda.

Contudo, chama a atenção das autoridades sobre um eventual impacto negativo que a lei possa trazer à sociedade.

Um dos aspectos negativos apontados por Edson Dongoxi tem a ver com o desemprego de pessoas envolvidas no negócio, uma vez que a redução ou retirada de uma determinada linha de produção significa perda de receitas financeiras e, consequentemente, leva a redução do pessoal, fundamentalmente, os que participam desta produção.

“Contudo, tudo vai depender do preço que cada consumidor deverá pagar por cada saco de plástico, de acordo com a lei”, disse.

Por outro lado, o técnico de máquinas e manutenção, entende que com tal medida, as empresas de cartonagem têm a oportunidade de seguir uma nova linha de produção e fazer crescer as suas empresas com a produção de sacos de papel.

Já o técnico auxiliar de planeamento e controlo de produção da mesma empresa, Leandro Cordeiro, considerou de “boa” a iniciativa do Ministério do Ambiente, mas lamentou o facto de a iniciativa estar a ser tratada “neste momento difícil da nossa economia, onde existem muitas carências.

Desta forma, em seu entender, ter-se-á de fazer um grande esforço no sentido de investir-se em novos negócios em substituição da produção de sacos plásticos e, assim, manter as empresas desse ramo a funcionar, além de evitar-se o desemprego de mais jovens e chefes de família.

Consequências do uso de sacos plásticos

A utilização de sacos plásticos pode causar impacto na biodiversidade e em aspectos relacionados com os microplásticos (pequenas partículas de plástico – entre um a cinco milímetros). Num primeiro caso, tem resultado na morte de animais, como tartarugas, aves, crustáceos e peixes.

Os animais confundem os sacos com alimentos e ao ingerirem acabam por morrer sufocados ou com problemas no estômago, segundo explica o ambientalista Vladimir Russo.

O especialista ambiental acrescenta também que, por este motivo, há milhares de casos de mortes de animais por asfixia e deformações, impedindo o seu crescimento natural.

Ainda de acordo com Vladimir Russo, estudos feitos indicam que estes podem alterar a composição de certas partes dos oceanos, impactando sobre ecossistemas, espécies e, consequentemente, os seres humanos que se alimentam destas espécies.

Disse também que as disfunções hormonais, imunológicas, neurológicas e reprodutivas têm sido as patologias mais frequentes que afectam os humanos, e isso é resultante da ingestão involuntária de microplásticos.

Para substituir o saco plástico, em função da sua erradicação, o ambientalista sugere a utilização de sacos de papel, que são frequentemente usados em vários países, por estes serem biodegradáveis e o seu impacto no ambiente é menor quando comparado com os plásticos.

No entanto, o ambientalista recomenda que o saco seja feito de papel reciclado e não do derrube de árvores. Uma outra solução avançada é do uso de sacos de pano ou de plástico mais resistentes que pode ser reutilizado frequentemente.