Luanda - A investigação Luanda Leaks marcou a semana e, este domingo, durante o habitual espaço de comentário no Jornal da Noite, Luís Marques Mendes defendeu que as consequências foram bem maiores do que ele próprio imaginava.

Fonte: Expresso

Primeiro, por causa da catadupa de demissões nas empresas, consultoras, nos escritórios de advogados. Segundo, pelo anúncio de venda de participações, no Eurobic e na Efacec, algo que não é normal suceder tão rápido. Terceiro, pelo avanço das investigações criminais em Angola que passaram para o foro criminal e, finalmente, porque "começou o princípio do fim do império de Isabel dos Santos".

 

Marque Mendes considera que "Isabel dos Santos vai acabar erradicada de Angola e que vai ter de abandonar, definitivamente ou por muitos anos, aquele país". Isto porque Isabel dos Santos "está completamente cercada pela justiça cível, pela denúncia mediática e pela justiça criminal". E, "se entrar em Angola, pode ser detida". Por isso, o comentador da SIC considera que a filha do ex-Presidente mão tem alternativa a não ser "negociar com o Estado angolano, entregando vários bens e activos às autoridades, desfazer-se dos bens e activos restantes e deixar Angola" em definitivo e ir reconstruir a sua vida no Dubai, Rússia, Singapura ou destinos semelhantes.

 

E em Portugal? Mendes considera que o resultado final não será muito diferente.

 

Na parte judicial, "haverá cooperação de Portugal com Angola, o que quer dizer que poderá haver investigações próprias e autónomas da justiça portuguesa". E nas empresas, Isabel dos Santos terá de vender os seus vários activos.

 

O Eurobic e a Efacec são os casos mais urgentes, mas para o comentador as vendas não vão ser "nem fáceis, nem rápidas". E destes o Eurobic é o caso mais complicado. Para Mendes a "administração do banco esteve bem" ao tomar medidas inéditas e positivas para salvar o Banco, "evitar fugas de depósitos e isolar a instituição do seu accionista tóxico". Contudo o mesmo não se passou em 2017, quando o BIC autorizou a transferência solicitada pela Sonangol. Para o comentador o banco não cumpriu integralmente as regras relativas ao branqueamento de capitais. "Nas circunstâncias em que a operação foi efectuada e com o dinheiro a ir para um paraíso fiscal, acho que o banco devia ter comunicado a operação à Unidade de Informação Financeira da PJ". Até porque é desta forma que, às vezes, se iniciam investigações judiciais relevantes, como foi o caso da investigação a Sócrates que começou numa comunicação da CGD à PJ.

 

Marque Mendes disse ainda nos eu comentário que, no futuro, Isabel dos Santos terá de vender também as suas participações na NOS e na Galp.

"ENTREVISTA DO PGR É MUITO CURIOSA"

Sobre a entrevista do Procurador Geral da República, concedida ao Expresso e à SIC, Mendes diz que foi muito curiosa, pelo que diz e por aquilo que não diz e devia dizer.

 

Fica claro para Marques Mendes que em Angola não houve apenas uma mudança de ciclo político, mas sim uma mudança de regime "e esta mudança, ao contrário do que diziam alguns, não era cosmética". Mas Mendes deixa uma questão Angola quer apenas “matar o pai”, ou seja a família dos Santos, ou quer “matar a corrupção”, ou seja, investigar outros casos e outras situações?

 

Isto porque a corrupção em Angola não se esgota em Isabel dos Santos. E sobre esses casos, o PGR de Angola não responde categoricamente, deixando no ar mais mais dúvidas que certezas.