Lisboa – O Tribunal Provincial de Luanda prepara-se para no próximo mês de Março levar a cabo notificações de cobranças a antigas personalidades que receberam créditos, sem garantia, junto dos balcões do antigo Banco do Espirito Santos de Angola (BESA) causando um buraco de cerca de 5 mil milhões de dólares. A queixa foi apresentada pelo Banco Economico, o herdeiro do BESA.

Fonte: Club-k.net

Crédito cedido a personalidades do regime 

Ao todo, o BESA emprestou 5,7 mil milhões de dólares a conhecidas figuras do regime angolano, incluindo vários  dirigentes que pertenceram ao   Bureau Político do MPLA, na qual antiga gestão do banco  alegava ter perdido rastos. Há também acusações de que 745 milhões foram parar às mãos de Álvaro Sobrinho, presidente daquele banco até 2012.


Na lista oficial dos clientes que terão beneficiado de créditos do antigo BESA, constam nomes como o de Catarina Pereira, antiga secretaria de José Eduardo dos Santos que terá recebido por via de uma empresa de construção na qual ela partilha interesses. 

 

Colaboradores do antigo Chefe de Estado da linha do general Manuel Vieira Dias “Kopelipa” são também  referenciados como tendo se apoderado de uma garantia soberana de  750 milhões de euros  em nome de uma empresa de construção Jeosat Angola, no banco BESA. Os valores eram destinados ao projecto de requalificação das obras do Sambizanga e Cazenga. 


De todos os devedores, o antigo ministro da defesa nacional e actual Chefe de Estado, João Manuel Gonçalves Lourenço é o único que assumiu (através da sua declaração de bens) que continua a pagar o credito que beneficiou deste banco e que usou para edificação de um  projecto agrícola, no interior do país.



Já um antigo dirigente do MPLA, que terá recebido o crédito de 10 milhões de dólares aplicou na construção de um edifício no terreno ao lado da sua residência na Rua Rei Katiavala, em Luanda. Ao ser chamado em 2014, terá dado sinais de desentendido alegando que julgou que o dinheiro foi uma oferta do "partido".


Uma “Joint” ligada a empresaria Marta dos Santos, irmã do antigo PR, em parceria com um construtor português José Guilherme, terá recebido cerca de 800 milhões de dólares de crédito que foram  aplicados na construção de um conjunto de edifícios (Dolce Vitta) na rua onde se situa a Universidade Óscar Ribas, no Talatona, em Luanda.


No sentido de salvar o BESA, do referido buraco financeiro, o Estado angolano emitiu uma garantia soberana de 5 mil milhões que viria a ser revogada.

 

Troca de acusações entre antigos sócios

Em 2018, durante uma entrevista à Televisão Pública de Angola, Álvaro Sobrinho tinha dito que a falência do BESA foi decretada por motivos políticos, mas os acionistas do banco consideram que foi o resultado "dos erros da sua gestão e dos dinheiros que para si retirou".

 

Os acionistas do antigo BESA acusam Álvaro Sobrinho de ter mentido na entrevista que deu à TPA e na qual disse que “o banco faliu por decisão política, tendo em conta as pessoas nele envolvidas”. Em comunicado, os donos do atual Banco Económico dizem que “Álvaro Sobrinho mentiu ao não apresentar os factos tal como eles ocorreram”

 

Nessa entrevista, Álvaro Sobrinho questionou se o BESA faliu mesmo, porque, no seu entender, do ponto de vista formal, o banco existe com outra denominação e, do ponto de vista prático, não houve nenhum organismo internacional, independente, estatal e nem auditor que declarasse a falência da instituição.

 

Ainda no contra ataque, os acionistas reiteraram que a falência do BESA não foi motivada por motivos políticos: “Conclui-se com isso que não houve qualquer decisão política para decretar a falência do BESA, como foi dito pelo senhor Álvaro Sobrinho. Decorrendo sim, dos erros da sua gestão e dos dinheiros que para si retirou, sendo esta uma questão de sua exclusiva responsabilidade”.

 

Em 29 de Outubro de 2014, o BESA realizou uma “Assembleia Geral Universal e Extraordinária”, onde foram tomadas as decisões essenciais sobre o seu futuro. O seu encerramento foi levado a cabo pelo acionista Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino”, contando com o apoio do Banco Nacional de Angola, na altura dirigido pelo actual governador José de Lima Massano.

 

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