Luanda – O ano de 1961 foi fundamental para o povo angolano, pois não existiram dúvidas de que a Luta Armada de Libertação em Angola, iniciada no dia 4 de Fevereiro, terá sido o acontecimento dominante. Aos 39 anos de idade, Neto, médico e poeta, tinha um currículo de prisões que prestigiavam o MPLA e todo o povo angolano, desejoso de ver o seu país em liberdade.

Fonte: Club-k.net
Em 4 de Fevereiro de 1961, data em que o povo angolano sob direcção do MPLA, tomou a iniciativa de se insurgir com armas, contra o domínio português, decorreu uma nova fase na contestação estratégica do império colonial.

Mário Pinto de Andrade destacou os acontecimentos da época num manifesto de cinco páginas, que ficou conhecido como “4 de Fevereiro - o povo rasga a noite colonial”. Conhecido como um dos fundadores do MPLA, sustentou que “(…) desde 1961 os movimentos nacionalistas apoiam-se sobre o exemplo do povo angolano para acelerar o processo da sua acção na luta armada”.

Para Dino Matrosse, “esta inesquecível data ficará para sempre gravada na história. Os angolanos estavam fartos dos maus-tratos, da resignação do que aparentava ser o silêncio em relação às atrocidades e brutalidades impostas pelo regime, da repressão, da humilhação e da subjugação. Os angolanos cerraram os punhos. Organizados e decididos não encontraram, depois de terem tentado por meios pacíficos dar solução à questão colonial, outra alternativa que não fosse a luta armada”.

Mas, na realidade, o que aconteceu nesta data? Uma simples acção, que viria a ter grande impacto: um punhado de nacionalistas atacou as cadeias da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) em Luanda, empunhando catanas, com o intuito de libertarem os presos políticos, ali detidos para serem deportados.

O PROTESTO

A 19 de Julho, Agostinho Neto enviou um telegrama de protesto ao Ministro do Ultramar em Lisboa, dando conta da perseguição policial movida contra si. Cinco dias antes, Maria da Silva Neto, mãe de Agostinho Neto, fora intimada a prestar declarações junto da Delegação de Luanda da PIDE, num processo dirigido pelo inspector Filipe Gualberto Reis Teixeira e o seu escrivão Alfredo Peixoto Martins. Uma época em que as acções e o pensamento político de Neto estavam viciados por um peso patriótico significativo, o que permitiu angariar milhares de seguidores em todo o mundo, de familiares, amigos e voluntários.

A 11 de Outubro, o jornal "Afrique Nouvelle", de Dakar, publicou declarações sobre Angola feitas por Holden Roberto, dirigente da UPA (União das Populações de Angola) e por Mário Pinto de Andrade, dirigente do MPLA. Segundo as declarações de Mário Pinto de Andrade, o verdadeiro chefe do MPLA é o médico António Agostinho Neto, então condenado por actividades comunistas...

A 8 de Novembro, o jornal "Le Monde" noticiou a instalação em Leopoldville do Comité Director do MPLA. Mário Pinto de Andrade, depois de ter lançado um apelo à unidade de acção de todas as organizações nacionalistas numa frente de libertação angolana, afirmou que não havia sequer a questão de uma possibilidade de negociação com o governo português “enquanto durar o regime fascista de Salazar”.

“O Dr. Neto, figura popular do nacionalismo angolano, é conhecido sobretudo pela sua obra poética (em língua portuguesa), que se encontra traduzida em sete línguas”, informara em comunicado o MPLA.

UNIDADE DOS PARTIDOS POLÍTICOS

A 12 de Dezembro, Mário Pinto de Andrade realiza, em Rabat, uma importante conferência de imprensa que chegou a ser divulgada com o título "Marrocos é a placa giratória dos nacionalistas angolanos", evocando a necessidade da unidade dos partidos políticos e a constituição de uma Frente de Libertação Angolana. Andrade pediu a libertação dos dirigentes políticos e destacou António Agostinho Neto, que tem para os angolanos o mesmo valor e símbolo que Jomo Kenyata, no Quénia ou Ben Bella para os argelinos.

Do nosso ponto de vista, "o valor e símbolo" de Neto tornam-se todos os dias cada vez mais evidente após a Amnistia Internacional o ter proclamado o "prisioneiro político do ano", atribuindo ao herói angolano o brio de ser uma das primeiras e raras individualidades definidas por esta organização.

EXPANSÃO DOS ACONTECIMENTOS

Globalmente falando, no ano de 1961, expandiram-se progressivamente vários acontecimentos de essência universal. Vejamos: “Em 1961, tudo mudou. A dimensão dos problemas adquiriu uma gravidade insustentável. A queda da Índia, a guerra de Angola, a ocupação do paquete Santa Maria, o golpe de Botelho Moniz e o assalto ao quartel de Beja foram os factos que, neste ano, marcaram o princípio do fim”.

O curso dos acontecimentos iniciados desde 1961 pelo MPLA em Angola (Guiné e Moçambique pelo PAIGC e FRELIMO, em Janeiro de 1963 e em Setembro de 1964) viria a transformar irreversivelmente a história política de muitos territórios de África dominados por Portugal, a chamada “África Portuguesa”. O MPLA, Agostinho Neto e seus principais colaboradores, surgiam numa posição-chave e de saliente influência ideológica junto de organizações políticas de firme protesto e em franco crescimento.

Honra e Glória aos Heróis da Luta de Libertação Nacional!!!