Huambo – Ninguém previa isto pelo menos em setembro de 2019 para Março de 2020 paralisar praticamente o mundo conhecido. As fábricas grandes e pequenas fecham porque não precisamos mais de aviões, navios, carros, metros, bombas nucleares apenas precisamos um par de luvas, uma máscara tapa-boca e um pouco de gel ou álcool ou água e sabão.

Fonte: Club-k.net
Os casamentos são cancelados mas também os préstitos fúnebres, os cultos religiosos e os comícios políticos, as maratonas, os piqueniques são inúteis mas as praias também estão vazias. CORONAVIRUS vive sozinho e quer se libertar a todo o custo que vivamos também isolados, sombrios, funestos medonhos como ele.

As universidades fecham, os mercados fecham e a sociedade civilizada regressa para a idade paleolítica onde apenas vivemos para duas coisas: comer e se proteger do frio porque CORONAVIRUS disse que os seres animados só precisam de se alimentar e se proteger do frio, porque o nosso Mensageiro da Morte apenas sobrevive abaixo de 20 graus centígrados.

CORONAVIRUS é um vírus elegante, inteligente, estúpido, intransigente, chato e muito esperto. Das trevas que está a comunicar ao mundo, com seus efeitos funérios, CORONAVIRUS emana Poder e Arrogância. Em menos de 180 dias, se tornou Senhor Todo-Poderoso do mundo. Este Mundo que desde Adão e Eva tinha sido dado ao Homem e Mulher para o dominar.

Mas acima de tudo CORONAVIRUS é tão universal como a coca-cola. É tão barato que a todos os bolsos cabe tal como a bolachinha glucose. Atravessa fronteiras e segue a velocidade de internet. CORONAVIRUS é um vírus que veio confirmar que a globalização existe.

A polícia do mundo inteiro se bateu em largos anos a tentar encerrar as fronteiras dos Estados para conter os movimentos migratórios. Homens. Mulheres e crianças, achando-se no direito de corrigir o erro natural de terem nascido nas terras do sofrimento, "na geografia da fome" onde não se sentiam à-vontade e nem tinham a esperança de um dia melhor, na busca de melhores condições de vida "tentando à sorte" partiam, partiam e partiam.

Uns morreram naufragados em oceanos e rios, outros vituperados, estigmatizados, acantonados em tendas de acampar, nas condições sub-humanas e CORONAVIRUS lhe deu acolhimento, integração e valorização. "Todos devem estar em casa, para evitar o contágio". Afinal, haviam casas para todos! Mas o vírus em menos de 120 dias fechou todas as fronteiras do mundo.

Este vírus é o melhor e mais eficaz polícia do mundo. Sensibiliza com métodos funestos, cruéis, implacáveis, imprevisíveis, inegociáveis. Impiedoso e carrasco contra os mais velhos, punindo-os como se fossem culpados de alguma coisa não revelada à juventude. Deve ser pela escolha de prioridades e estratégias que os mais velhos ao longo dos últimos 75 anos assumiram que esteja a marcar a juventude e as crianças de hoje… e CORONAVIRUS é suave, soft e discreto para com as crianças.

Qual é a lição que nos quer transmitir?
CORONAVIRUS, ele, está a dizer que " há sol bastante no horizonte, podemos avançar sem medo da escuridão".

O mundo estava dividido entre Norte Rico e Sul Pobre, branco e negro, civilizados e não-civilizados, ricos e pobres, altos e baixos, letrados e analfabetos CORONAVIRUS veio a unificar a raça humana como o homem e a mulher "Feitos à Imagem e Semelhança de Deus", independentemente da cor da pele, do estatuto social, da família, da posição político-económica, da etnia, da origem geográfica. CORONAVIRUS veio a quebrar o racismo, o estereótipo, as classes e estratos sociais, veio diluir a ilusão das diferenças e nos relembrar que a nossa tribo comum chama-se RAÇA HUMANA na dor e na alegria.

Por CORONAVIRUS não existe mais diferença entre Nova Iorque nos EUA, Tóquio no Japão, Paris em França, Lombardia na Itália e as favelas do Rio de Janeiro ou os musseques de Luanda ou as cubatas dos SAN do Cuando-Cubango. Todos, absolutamente todos dos arranha-céus de Manhattan até as grutas de Angola estamos apoquentados pela mesma dor e pânico.

O mundo estava se espedaçando em egoísmo, arrogância, injustiça, separatismo, prepotência: os iluminados liderando os cegos de consciência. CORONAVIRUS veio a devolver o equilíbrio, restaurando o humanismo solidário que tinha sido ameaçado pelo egoísmo. CORONAVIRUS veio a mostrar que ninguém, absolutamente ninguém neste mundo se basta a si próprio; todos, absolutamente todos precisamo-nos uns aos outros.

O mundo se debatia de produção de bens supérfluos, do consumismo quase selvagem e desenfreado que estava a devorar a própria natureza. CORONAVIRUS veio a ensinar as indústrias que existe momento em que o carro, o telefone, a roupa, as joias só valem nas ruas; quando estivermos confinados em casa apenas nos interessa a água e sabão azul para lavar as mãos e as refeições essenciais.

As Nações mais poderosas como EUA, a Rússia, a Coreia do Norte, a França, a Alemanha, a Inglaterra, a China…são potências nucleares, gastaram triliões em dinheiro a produzir bombas de destruição em massa e armas para vender aos pobres em guerra. CORONAVIRUS apenas veio a nos mostrar que precisamos apenas de luvas, máscaras, ventiladores e álcool gel no lugar de caças e tanques e ogivas nucleares.

As grandes fabricas de carros como a Ferrari, anunciaram que vão fabricar ventiladores, luvas e máscaras. Os campos de desporto, seus pavilhões serão transformados em lugares de quarentenas e de jazer corpos porque a luxuria do mundo cegou a consciência e não prestamos a atenção no que realmente precisamos. O que mais nos consumiu a inteligência, a ciência, o tempo afinal nos momentos de aflição não é o que nos vale.

CORONAVIRUS veio dar a mensagem clara que produzamos aquilo que realmente precisamos e poupemos esforço e pressão contra a inteligência e nos preparemos dia-após-dia para o desconhecido, o imprevisto, o invisível. Mas CORONAVIRUS veio também a impor a solidariedade humanista com as trabalhadoras de sexo vulgo prostitutas para que se lhes deem recursos de outras fontes que não sejam mais o contacto com suas zonas pudendas e secretas, que podem facilitar e serem veículos de contágio.

CORONAVIRUS veio a imprimir a solidariedade com os meninos de rua, com os sem abrigos, os sem terras para que aos Governos se mostre que existem casas para todos. O Planeta estava a ser engolido pelos amontoados de lixos (resíduos urbanos); CORONAVIRUS é excessivamente higiénico, exigente e puro. Está a impor higiene em casa, no local de trabalho, na rua e destruir o lixo.

Existem povos isolados pela sua pobreza abjecta, desconhecidos, primitivos, malcheirosos e CORONAVIRUS não se irá interessar em zonas remotas e isoladas a não ser que os malévolos urbanos o deem boleia (carona) até as zonas rurais onde evidentemente não irá sobreviver. Assim CORONAVIRUS vem diluir a megalomania dos centros urbanos e banir o êxodo rural.

A família, o verdadeiro núcleo da sociedade estava diluída na era pós-família, era pós-nação gerado pela globalização e pelo ímpeto da arrogância do "Sistema-Mundo." CORONAVIRUS veio resgatar o valor da família. O mundo era o lar de todos através das viagens intercontinentais, transoceânicas… e, éramos autênticos "imigrantes no tempo" e estava se consolidando a cidadania planetária.

CORONAVIRUS veio a resgatar o valor do patriotismo nacional, o lar paterno, o nosso leito, a nossa casa. Porque afinal nos momentos de aflição o sonho mais nobre é o regresso para casa! CORONAVIRUS é uma tragédia que veio a nos despertar para valorizarmos 4 coisas: a Nossa Casa, a nossa Família, a nossa SAÚDE e a nossa VIDA.

No meio de lágrimas que dia e noite derramamos, o susto, o terror, o desespero, a fadiga dos governos, da policia… e, acima de tudo, dos trabalhadores incansáveis da saúde…perante a angústia de nos mantermos longe do cadáver de nosso ente querido, sermos impedidos de abraçar nosso pai, nosso irmão, nosso amigo íntimo; beijarmos nossa mãe, irmã, nossa esposa, nossa namorada…, acariciar e até sermos impedidos de fazermos amor, a coisa relativamente mais elementar e irracional inerente a todos os animais vivos, essa mágoa, esse melindre, esse grito pungente, sussurra em nossos "ego" que afinal CORONAVIRUS é um professor, é um pai que educa com chicote na mão, é um instrutor e pedagogo severo.

Na severidade, na crueldade, este carrasco, CORONAVIRUS veio a nos ensinar a solidariedade sem fronteira, a partilha sem discriminação, o amor personalista acima do amor as coisas inanimadas; CORONAVIRUS este professor cruel veio nos devolver o sentido da vida. Veio quebrar a ilusão de que uns são grandes e a maioria são pequenos e afinal CORONAVIRUS disse que todos somos iguais e unos em vulnerabilidade global e é a partir dessa vulnerabilidade consciente que devemos construir o que mais CORONAVIRUS nos impede fazer: SINERGIA UNIVERSAL E A UNIÃO FAZ A FORÇA.

Quando chegar a minha vez de morrer que é questão de horas, minutos e talvez segundos, apenas direi o seguinte: OBRIGADO CORONAVIRUS POR ENSINAR A HUMANIDADE O VALOR DA HUMILDADE, DA UNIÃO, DA SOLIDARIEDADE, DA PARTILHA, DA IGUALDADE EQUITATIVA, DO AMOR E AFINAL DA VIDA.

*Defensor dos Direitos Humanos