Porto - O líder do MPLA (partido que governa Angola desde 1975), presidente da República de Angola e chefe do Governo, José Eduardo dos Santos, apontou hoje como caminho para o seu partido "não pactuar com a corrupção e com a apropriação de meios do erário público ou do partido".


Fonte: NL

MPLA pugna desde 1975 “pela defesa das liberdades

Finalmente, dirão os mais optimistas e ingénuos. O que é que andaram a fazer durante 34 anos? Perguntarão os mais cépticos. Tudo vai continuar na mesma, dirão os mais realistas.


Numa intervenção sistematicamente interrompida pelos aplausos dos mais de 3.000 delegados ao VI Congresso, num visível e marxista culto da personalidade do chefe, José Eduardo dos Santos deixou um lote recheado de recados para o MPLA e para o país.


Recorde-se, contudo, que o chefe do partido para o qual manda recados é ele próprio há dezenas de anos, tal como o é do país. Mais uma vez, a política é a de sempre: olhai para o que eu digo e não para o que eu (e os meus amigos) faço.


"Hoje é voz corrente equiparar a pessoa investida em funções políticas a um homem sem palavra, desonesto e sem escrúpulos. É necessidade absoluta assumir atitudes positivas que desfaçam essa imagem pálida e inconveniente de forma a dar credibilidade, valorizar e repor a nobreza da função dos dirigentes políticos", disse Eduardo dos Santos, agora e ao que parece preocupado com uma gangrena que dura desde a independência, em 1975.


José Eduardo dos Santos sublinha que o partido "tem dito isto por outras palavras" e adverte que "as nossas palavras e promessas devem corresponder aos actos que praticamos". Treta para enganar os cerca de 70% de angolanos que vivem na pobreza, 34 anos depois da independência e sete após a paz ter regressado ao país.


Eduardo dos Santos pede o "fim da intriga, dos boatos e a manipulação de factos na comunicação social para prejudicar os outros".


Bem me parecia que em Angola, como em Portugal, a comunicação social é a fonte de todos os males. Foi ela, a comunicação social independente, que forçou o MPLA a reconhecer a corrupção e outras grandes enfermidades, mas mesmo assim é a culpada de tudo.


"Devemos aperfeiçoar o modo de encarar a política, um modo pró-activo e rigoroso de mostrar o nosso empenho e dedicação que sirva para mobilizar milhões para a nossa causa", diz Eduardo dos Santos, certamente depois de ter tido só hoje o que milhões de angolanos não têm durante muitos dias: refeições.


O presidente da República e do MPLA disse também que "em cada 100 angolanos, 60 são muito pobres, não conseguem comer normalmente todos os dias, não têm acesso fácil a água potável, acesso aos cuidados de saúde nem casa normal para se abrigar".


É preciso ter lata. O MPLA está no poder há 34 anos, Angola está em paz há sete anos, e mesmo assim o dono do país não assume que é ele e o seu partido os principais, em muitos casos os únicos, responsáveis por este descalabro?


O "desemprego, o analfabetismo e a pobreza são três problemas muito graves e difíceis de resolver, que atingem especialmente as mulheres, as famílias e as crianças", disse Eduardo dos Santos em mais uma manifesta enciclopédia de hipocrisia que, contudo, foi aplaudida pelos súbditos de sua majestade.


Certamente anestesiado pelas ovações dos seus vassalos, José Eduardo dos Santos disse também que o MPLA pugna desde 1975 “pela defesa das liberdades direitos e garantias dos cidadãos, e considera o direito à associação como fundamental". Foi mais um atestado de menoridade passado aos angolanos. Mas como foi dito pelo chefe... foi aplaudido.


Para os problemas que persistem no país, como a pobreza, José Eduardo dos Santos, retomou a evocação da "pesada herança do colonialismo" que foi "agravada pelo período de guerra que o país viveu" até 2002.


Nisto tem razão. Se 35 anos depois da conquista da democracia os portugueses continuam também a desculpar-se com a pesada herança do salazarismo, é legítimo que o MPLA acuse o colonialismo, um bode expiatório que aguenta ainda ser utlizado aí por mais uns trinta anos.