Lisboa – A exoneração de Manuel Domingos Augusto, do cargo de Ministro das Relações Exteriores (MIREX) ocorreu num momento de surpresa para o mesmo depois de ter participado na tarde de segunda-feira (7), numa videoconferência do conselho de ministros da Comunidade do Desenvolvimento da África Austral – SADC que abordava a questão do Covid-19, segundo apurou o Club-K.

Fonte: Club-k.net

Ministro surpreendido com exoneração

Depois da videoconferência, o ministro demissionário foi notificado com a mensagem dando conta de que a ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira convocava-o para um encontro no seu gabinete. No encontro, Manuel Augusto foi comunicado em primeira mão que o “Camarada” Presidente orientava para lhe fazer chegar a mensagem que não contaria mais com ele no seu governo. Em seu lugar, Manuel Augusto foi substituído pelo Secretário de Estado para as Relações Exteriores, Tete António que é um quadro da linha dos co-fundadores do MIREX.

 

Manuel Augusto e João Lourenço passaram a ter relações privilegiadas há cerca de quatro anos quando ambos eram despachados para missões diplomáticas, pelo então Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, um na qualidade de Secretário de Estado para as Relações Exteriores e outro como Ministro da Defesa Nacional.

 

Com a subida ao poder, Lourenço convidou Manuel Augusto para chefiar a pasta da diplomacia angolana. Ambos voltaram a estar mais próximos e em visitas de Estado no estrangeiro, era Manuel Augusto o ministro que mais privava com o Chefe de Estado, e que as vezes era chamado, em horas de folga, para ir ter com o “chefe” na suíte presidencial, para descontração.

 

Com o passado de algum tempo, a apreciação de João Lourenço para com Manuel Augusto, passou a estar prejudicada com o avolumar de reclamações de episódios de clivagens que chegavam ao gabinete presidencial sobre o funcionamento do MIREX.


A clivagem mais mediática entre Manuel Augusto e “barões” do MIREX, aconteceu quando em Novembro de 2018, o então ministro afastou um embaixador de carreira, José António de Lima Viegas, do cargo de Inspetor Geral, depois deste ter denunciado irregularidades ocorridas num concurso interno. Aos microfones da RNA, o ex-inspetor questionou publicamente os critérios de afastamentos de quadros apelando a impugnação do concurso de forma a se fazer correções. Denunciou também depois actos de alegados nepotismo e favoritismo no ministério.

 

Em reação, o ministro Manuel Augusto fez participação a PGR contra o diplomata acusando-o por “difamação, injúria e ofensas à Autoridade Pública”. O ex- inspector Lima Viegas, por sua vez, apresentou, a PGR, um documento de 500 paginas comprometedoras sobre a gestão do MIREX, na qual constava o  descaminho de 4 milhões de dólares pelo ex-embaixador de Angola no Quênia, Virgílio Marques de Faria, tal como o caso um embaixador na União Africana, Arcanjo do Nascimento que acabou sendo exonerado e detido pelas autoridades angolanas.


Desde os meados do ano de 2019, que Manuel Augusto esteve num “braço-de-ferro”, com uma diplomata Maria de Jesus Ferreira que fora nomeada como representante de Angola na ONU. Maria de Jesus Ferreira, viu-se confrontada como uma súbita decisão de Manuel Augusto de retirar-lhe poderes que lhe são inerentes, transferidos para o Embaixador Joaquim Espírito Santo que se encontra acreditado junto do Governo dos EUA, em Washington.


Durante uma visita do Presidente da República, João Lourenço a Nova Iorque, em finais de Setembro, a embaixadora - que é há mais de 20 anos amiga do casal presidencial - queixou-se que o seu trabalho estava a “sabotado” pela direção do MIREX, pelo que foi sugerida a fazer uma exposição. Seguindo as orientações que lhe foi transmitida a embaixadora Maria de Jesus Ferreira enviou, mais tarde, ao gabinete do Presidente, a sua exposição de quatro paginas explicando como a hostilização em curso estaria a prejudicar o funcionamento daquela representação diplomática junto as Nações Unidas.


Em finais de 2019, uma corrente de veteranos vinha reclamando sobre o funcionamento do ministério que estava a ser prejudicado pela concentração de poderes a dois jovens diretores que Manuel Augusto havia levado para ai trabalharem em comissão de serviço. Um como diretor do seu gabinete e outro como Secretario Geral.


De acordo registros, o MIREX está desde 2018 sem um diretor de recursos humanos desde a exoneração da então responsável, Ana Paula Sebastião do Nascimento. Desde então, a área dos recursos humanos vem sendo ocupada interinamente pelo Secretario Geral, Agostinho Van-Dúnem “Gugu” que também acumula com as finanças do ministério precipitando no não andamento do ministério.


Também em finais de 2019, Manuel Augusto foi pressionado a exonerar o Consul de Angola em Lisboa, Narciso Espirito Santos Júnior que fora sujeito a uma inspeção pelo próprio ministério e num curto espaço de termo de outra que comprometia ao próprio ministro feita pela Inspeção Geral da Administração do Estado (IGAE) . Há cerca de dois meses, chegou ao gabinete do Presidente da República uma reclamação sobre este mesmo consulado, porém, numa altura em que Manuel Augusto havia apresentado o nome de Mateus Barros José como futuro cônsul para Lisboa, acabou  ele sendo  exonerado do cargo de chefe da diplomacia.

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