Luanda - O «Destino», na versão teológica, relaciona-se com a vida humana, no ponto de vista da interpretação dos factos sucessivos que acontecem com a pessoa singular ou colectiva, tidos como sendo a vontade do poder de Deus. Esta lógica baseia-se na doutrina bíblica, que assenta na existência da «predestinação», que conduz o homem ao Paraíso, ser for justo, ou, ao Inferno, se for pecador mortal. Porém, a interpretação figurativa da palavra «destino» refere-se ao rumo, à direcção, em que segue o percurso, ou, ao ponto final dos acontecimentos.

Fonte: Club-k.net


Não obstante, existe a controversa entre vários conceitos da teoria do destino ou da predestinação, que têm muito mais a ver com os factores da existência e da essência do homem. Nesta visão conceptual, entra em evidência o papel dominante do poder, da autoridade, da soberania e da riqueza. Pois, defende-se a tese de que, sem a «força militar» é impossível garantir o exercício do poder, que exigem a presença do povo e do território, que são factores essenciais da soberania e do Estado.


De facto, se analisar bem a história da humanidade, em todas as etapas, verás que, o poder político estava sempre ligado ao povo, ao território, à riqueza e à força militar. Na alteração significativa dos quatro factores em referência, sempre precipitava a queda do Poder e a ascensão de outro Poder, registando invariavelmente a alteração das características da soberania. Mesmo no caso dos grandes Impérios que existiram Antes e Depois de Jesus Cristo a transição do poder e da soberania era conflituosa, marcada pela ocupação, anexação ou perca de territórios, impondo uma nova ordem militar, politica, jurídica, social, económica e cultural.


Dentre todos os elementos acima referidos, a «sujeição do povo» era o factor primordial para garantir o exercício do poder político. Mas tudo isso não é exequível sem existir a «força militar», capaz de impor a vontade do soberano, isto é, do rei, do príncipe, do imperador ou do czar. Mesmo nas democracias modernas, o território, o povo, a força militar, os órgãos de soberania e a riqueza constituem factores fundamentais da existência do Estado. Pois que, no sistema democrático o Povo elege o Chefe de Estado e os Legisladores. Enquanto, a Força Militar assegura a manutenção do Poder e das Instituições.


Portanto, este Conceito de «força militar», embora oculta nas Teorias do Estado, mas ele destaca-se como factor-determinante na evolução da Ciência e da Tecnologia como sendo os factores decisivos para garantir a integridade e a estabilidade do Estado. Repare que, as duas Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945) impulsionaram as indústrias pesadas que exigiam a descoberta de novas tecnologias para produzir armamentos mais sofisticados no sentido de sustentar o fardo da guerra. Tivera sido nesta época em que se evoluiu rapidamente para a descoberta e a produção de armas de destruição em massa, de diversas espécies e calibres, como por exemplo: misseis de longo alcance; bombas atómicas; bombas nucleares; bombas de hidrogénios; armas químicas; armas biológicas; tanques; bombardeiros; navios de guerras; submarinos; radares; rádios e telecomunicações.


Foi exactamente neste período da Guerra Mundial II, em que as bombas atómicas foram lançadas sobre as cidades de Hiroshima (06.08.1945) e de Nagasaki (09.08.1945), no Japão. Recorde-se que, muito antes disso, no dia 7 de Dezembro de 1941, a Força Aérea Japonesa fustigou violentamente o Porto Marítimo de Pearl Harbor, no Hawaii (EUA), massacrado a tropa americana e destruídos todos os Navios que ai se encontravam instalados. Desde então a Tecnologia Militar ganhou o ritmo acelerado, com a corrida ao armamento mais sofisticado e mais mortífero, em forma de satélites, de bombas de grande potência, e de misseis de longo alcance, instalados nos silos, ou transportados por veículos terrestres, bombardeiros, navios de guerra e submarinos. Os Centros de Pesquisas e Laboratórios sofisticados, espalhados pelos países industrializados, estão engajados na descoberta de novas Ciências e novas Tecnologias para a produção de Armamentos mais modernos e mais sofisticados.


Porém, em forma de referência, os Estados-membros das Nações Unidas se comprometeram a respeitar o princípio da coexistência pacífica, consagrado no preâmbulo da Carta das Nações Unidas, cita: “os povos destas nações se obrigam, para o futuro, a impedir a guerra e a preservar a paz.” Fim de citação. Na base deste princípio universal torna-se difícil as potências mundiais recorrer facilmente a uso das armas nucleares, químicas ou atómicas, conforme tivera acontecido em Hiroshima e em Nagasaki. Todavia, as armas biológicas, por serem discretas e invisíveis, infectando as pessoas, como surto epidémico, elas tornam-se mais suscetíveis de ser aplicadas. Aliás, as armas químicas e biológicas já têm sido utilizadas discretamente, embora a uma escala muito limitada.


Neste momento o mundo está assolado pela pandemia do Covid-19, cuja origem real é incerta, apesar de muitas informações que circulam na média e nas redes sociais. Contudo, é bastante difícil acreditar em tudo que circula como informação. Mas também seria ingenuidade descartar tudo que se ocorrem nas médias sociais, com certo grau de relevância e credibilidade. Pois, cada um de nós está ciente daquilo que anda secretamente nos Laboratórios e nos Centros de Pesquisas, espalhados pelo mundo, sem o controlo efectivo das Organizações Internacionais, como as Nações Unidas, que têm a responsabilidade directa de velar pela aplicação e pelo cumprimento escrupuloso da Carta das Nações Unidas. Vendo os firmes de ficção científica e apreciando a evolução da inteligência artificial, é fácil imaginar o que de facto está acontecer.


Curiosamente, o covid-19 surgira durante a Guerra Comercial entre as potências mundiais, sobretudo entre a China e os Estados Unidos da América. De facto, os EUA está engajado em conter o potencial económico, científico e tecnológico da China. Ao passo que, a China tem a visão estratégica de suplantar os EUA e tornar-se a superpotência mundial. Como sabeis, após Guerra Fria a China adoptara a Política de «abertura e de rapprochement» ao Ocidente, que visava atrair os investimentos estrangeiros com vista a empreender a industrialização, a modernização e a liberalização da economia.


Durante este período de abertura e de rapprochement houve a transplantação (outsourcing) em grande escala das indústrias americanas ao território chinês. Para a China esta era uma oportunidade singular para desdobrar os seus Quadros mais habilitados para recolher os dados tecnológicos e científicos junto das indústrias americanas instaladas na China ou dentro do território norte-americano onde o clima das relações de amizade e de cooperação bilateral entre os dois Estados eram favoráveis. Por esta via, a China tivera sido capaz de desenvolver- se rapidamente, atingindo os patamares mais altos, com capacidade de competir em pé de igualdade, e consequentemente suplantar os Estados Unidos da América, como superpotência mundial.


Portanto, nas circunstâncias em que surgira o coronavírus criou um ambiente de cepticismo, tendo em conta o «timing», a dimensão de propagação, a taxa elevada de mortalidade, o impacto psicológico, e acima de tudo, a queda brusca da economia mundial, paralisando os sectores produtivos e comerciais e reduzindo drasticamente as receitas públicas e privadas. Agora, se olhar bem para o cenário internacional, é visível a emergência da China como campeão mundial, que se projecta hoje como o salvador do Mundo.

No caso específico da África, como sempre, ela está sendo utilizada como laboratório de ensaios de testes e de vacinas duvidosas, explorando a sua condição de atraso, de pobreza e de dependência.


Neste contexto, seja qual for as circunstâncias em que emergiu o Covid-19, a China está a sobressair como o grande vencedor, reforçando a sua influência no Mundo. Enquanto, os Estados Unidos da América e a União Europeia estão numa situação difícil de recuperação, incapazes de desempenhar o papel de superpotências. No futuro, após o covid-19, os EUA e a União Europeia terão que encontrar novos caminhos, bastantes difíceis, para poder fazer face aos grandes desafios da Nova Ordem Mundial. Pois, no rescaldo desta pandemia o Mundo não será o mesmo, registarão alterações profundas nas relações humanas, nos preceitos internacionais e na institucionalização do Mundo. A Visão da Globalização e das Organizações Supranacionais, onde assentam o Direito Internacional, será encarada de outra maneira. Sem dúvida, a Filosofia Britânica, de «Brexit», assente no Conceito do «reforço da soberania interna» e na «redução da soberania externa», exercida pela União Europeia, terá ressonância considerável em muitas Regiões do Mundo, inclusive em África.
Interessa sublinhar que, o covid-19 trouxe à superfície as debilidades ocultas de muitos Estados do Mundo.


No caso da África, a sua dependência externa foi uma vez mais notória. Até, as coisas mais simples, como luvas, siringas, mascaras, testes, produtos sanitários, etc., tudo vem do estrangeiro, de mão beijada, como pedintes. O mais grave ainda, é que, nem existe mecanismos institucionais ou equipamentos adequados para certificar e controlar a qualidade e a autenticidade dos produtos que entram no Continente Africano. Para mim, esta é a questão fulcral que revolta a consciência do homem, se fazer a retrospectiva histórica da África e ver onde ela passou: pela escravatura, pela colonização, pela subjugação, pela humilhação, pela exploração da mão-de-obra barata, pela luta titânica da descolonização e pelo neo-colonismo, que prevalece na maior parte dos Países Africanos. Pois, o Povo Africano continua ainda oprimido, explorado, atrasado, pobre e dependente de outros povos, que hoje são Donos do nosso Continente, e que ditam as regras do jogo ao seu sabor.


Interrogo-me, na minha humildade, será que, esta é a predestinação da África, reservada à ela, e ser interpretada como sendo o «destino comum» da Humanidade? Penso que não, porque de facto, é preciso reconhecer que, apesar de tudo, há sinais ténues que indicam que África está a acordar lentamente do estado de coma em que ela ficou remetida pelos novos colonialistas internos, ao serviço do imperialismo financeiro. Mas só que, esta aurora, que se desponta no horizonte, poderá ofuscar-se na medida em que o mundo vai entrar na fase crucial do Declínio da Civilização Ocidental e na Ascensão da Civilização Oriental. Pois, as Doutrinas Asiáticas são de matriz centralizadora, do poder monolítico, e que limitam o espaço da liberdade e da autodeterminação, que salvaguardam os direitos civis, a cidadania e a economia do mercado.


Por outro lado, a África subsariana é possuidora de abundantes matérias-primas e recursos minerais, que sustentam, em grande parte, a industrialização da China, em que muitos Países Africanos ficaram altamente endividados, sem capacidades de amortizar as suas dívidas. Os outros “handicaps” da África Negra consistem na corrupção institucional sistémica, na fragilidade das instituições, na má governação e no endividamento em grande escala, que lhe coloca na condição bastante vulnerável. Por outro lado, a África Negra está longe de conquistar as tecnologias mais avançadas para poder encetar a Revolução Industrial, transformar localmente as suas matérias-primas e libertar-se da dependência excessiva ao estrangeiro.


Em síntese, isso não constitui uma ficção, é uma verdade. Porquanto, a situação é mais séria e é gravíssima, se não for bem encarada, ela poderá comprometer definitivamente o destino dos Povos Africanos. Por isso, cabe à Juventude Africana abrir os olhos e ter sabedoria e ousadia de agir rapidamente, alterar a condição de dependência excessiva, acabar com o neocolonialismo e enfrentar decididamente os desafios internos e externos. Se for nesta base, poderemos acreditar na lógica do «destino comum» da humanidade, para que em conjunto definamos o «rumo» que vamos seguir. Caso contrário, o nosso «Destino», como Povo Africano, será decidido por outrem, sem nós darmos conta disso.

Luanda, 06 de Abril de 2020.