Luanda - Que a SOCIOLOGIA é uma ciência essencial e existencialmente factual, que pela análise, o SOCIÓLOGO interpreta, descreve e explica os factos e fenómenos sociais em função do momento e do contexto, é - A SOCIOLOGIA é, na verdade, uma extensão do empirismo, pois por ser ciência, o seu escopo e campo de interesse é necessariamente empírico (realidade objectiva), mas pela abordagem, a sua explicação não é em si empírica (acrítica, assistemática...), mas procedimentalmente metódica.

Fonte: Club-k.net

Ao SOCIÓLOGO é atribuído a tarefa e a especificidade de abordar o social pelo social de maneira crítica e objectiva - O SOCIÓLOGO é um cidadão, mas não é um cidadão comum, pelo que a sua visão e abordagem deve ser diferente do cidadão comum, de outro modo, reduz-se ao cidadão comum, isto é, reduz-se a um autêntico "... animal social e político" - ARISTÓTELES.

O que vemos?

Na realidade endógena há, na maioria, sociólogos de diplomas e não sociólogos de acção, como exemplo, vê-se um país a produzir anualmente um número considerável de sociólogos e carecer de dinámica epistemológica-social, carecer de movimentos sociológicos de rupturas, de contra-políticas e de Contra-Culturas, bem como carecer de movimentos feministas estruturantes e emancipatórios.

A luz da ausência de coragem intelectual e de atitude crítica, denota-se, em Angola, a ausência de trabalhos sociológicos que prezem, que dinamizem e que impactem o social - Denota-se, no entanto, a ausência da negação da negação, da crítica da crítica e da ruptura da ruptura - Não é a atitude dogmática e conformista, é a atitude céptica, desmitificadora e clarificatória que estimula e move o SOCIÓLOGO.

Deve haver mudanças significativas para que a SOCIOLOGIA e o seu ensino não se reduzem ao formalismo. Pelo que, há a necessidade imperiosa de inverter o quadro - O que se pretende é sociólogos para a SOCIOLOGIA e não sociólogos para a política e para o escritório, uma vez que o primeiro cega e aliena, e o segundo conformiza - O que impactam negativamente no emergir do trabalho sociológico. O que mais se vê por aqui é sociólogos para a aspiração e ascensão política e não sociólogos para a aspiração e ascensão sociológica - O que explica a abordagem alienatória e acrítica quotidiana.

Há sempre um problema num problema, e o problema deste problema não é somente político e ontológico, é também gnoseológico e pedagógico - o que se ensina e como se ensina determinam significativamente na personalidade e no perfil profissional do indivíduo. O valor e o sentido da educação formal está na formação de homens com postura dialéctica e fenomenológica, sendo, desse modo, inútil formar quando não se forma para o livre pensar, para a livre iniciativa, para a criatividade, para a inovação e para a ruptura - é perigoso tornar um país inútil pela Educação Formal!

Pensa-se que o especialista deve ser especialista e deve actuar de acordo às exigências da especialidade - O que explica o porquê da formação. A SOCIOLOGIA é o olhar crítico-social, logo, sem a coragem intelectual e sem a familiaridade com os problemas sociais, é difícil ser um sociólogo de sucesso. A SOCIOLOGIA é a comunidade e a sociedade, e tudo gira à volta do homem: pobreza, desemprego, exclusão, tribalismo, xenofobia, corrupção, nepotismo, divórcio, género, desigualdade, marginalidade, e outros... Basta a atitude sociológica e o domínio das técnicas sociológicas para o melhor tratamento dos problemas. Assim, também, não basta que o sociólogo domine as teorias sociológicas, é imperioso que saiba identificar os problemas sociológicos e saber fazer o tratamento dos mesmos - Esse é o nosso maior problema!

Porém, é imperioso que os sociólogos sejam uma "mais valia" numa sociedade em crise de si mesma. Pede-se, nesse sentido, aos sociólogos, que exercitem continuamente a reflexão e o olhar - o que deve ser um exercício diário. Não basta falar, é preciso falar sociologicamente; não é somente falar "... importa é transformar" - KARL MARX.

A crítica é negativa ou positivo no sentido da crítica e da percepção da crítica. E, o que se quer, é:

1- Que os sociólogos exerçam as funções reais e os papéis sociais da formação;

2- Que os sociólogos abordem os problemas sociais de Angola pela auto-visão e pela auto-análise - interpretem o social por si, uma vez que o recurso exagerado às teorias alheias torna o sociólogo um "escravo" e o "aprisiona", até porque a razão é, e a razão será sempre tolerante ao ponto de captar o social - e, novas teorias, rupturas epistemológicas e rupturas da ruptura epistemológica têm a génese no livre ver, no livre pensar, no livre interpretar e no livre criar;

3- Que os sociólogos sejam sociológicos, e que em Angola haja um movimento sociológico que granjeie respeito pela produção, pelo trabalho sociológico e pelas mudanças sociais significativas.

*Nunes Kotelo, Filósofo e Ensaísta