Luanda - A natureza tem-se revoltado diante da agressão do ser humano, com o aumento de guerras, secas, maremotos e tsunamis. Agora, trouxe-nos um vírus que está a provocar o medo e o caos, mas que ocasionou num ápice a diminuição da poluição à escala global.

Fonte: Club-k.net

Desde a minha adolescência, recordo-me claramente de referências a atentados do ser humano contra a natureza, cuja proporção vem aumentando exponencialmente, sobretudo desde a descoberta do plástico e a proliferação da sua utilização.

A baquelite foi o primeiro plástico sintético, criado em 1907, à base de petróleo, carvão e gás natural. Seguiu-se o processo de polimerização, que atingiu o seu auge nas décadas de 1930 e 1940, com o poliéster, o nylon, o poliuretano e o silicone.

 


A produção em série de materiais sintéticos à base de plástico começou na década de 1950.


O plástico chegou também ao dinheiro, com as primeiras notas em polímero a serem produzidas na Austrália, em 1988.

O plástico chegou tarde a Angola. Não sei quando exactamente terá chegado, mas como na altura a minha família vivia no interior de Angola (na cidade do Lobito), recordo-me do furor criado no final da década de 1960, com a chegada àquela cidade das primeiras embalagens em plástico da marca Tupperware.


Seguiram-se os sacos de plástico, uma verdadeira inovação naquela altura, que punha as pessoas maravilhadas. Como era chique, então, exibir compras em saco de plástico…

Só mais tarde se descobriram os efeitos negativos do plástico para o meio ambiente.


Eis algumas informações a respeito dos efeitos nocivos do plástico para o meio ambiente:

A sua decomposição pode demorar acima de 400 anos
90% do plástico produzido não é reciclado
Os mares recebem 8 milhões de toneladas de plástico por ano
O plástico é responsável pela morte de mais de 100 mil animais marinhos por ano
O plástico impede a passagem da água da chuva pelas valas de drenagem, causando inundações em áreas habitacionais
Ao ritmo actual, estima-se que em 2050 haja nos oceanos mais plástico do que peixes

Terminamos esta informação sobre o plástico com a notícia de que, hoje, se compra 1 milhão de garrafas de plástico por minuto, em todo o mundo. Quanto a sacos de plástico, são usados muito acima de 500 mil milhões por ano. E o ritmo tende a aumentar.

Mas não é apenas o plástico que causa dano ao ambiente.


O petróleo é outro mal-amado, por ser responsável por grandes desastres naturais. E também por ser responsável pela mudança de hábitos alimentares das populações, em consequência dos danos que provoca ao meio ambiente (mares, rios e agricultura).

Outros aspectos que chamam à atenção, pela negativa, são a devastação e o desmatamento de grandes áreas florestais (para o comércio da madeira, por exemplo), os gases nocivos enviados diariamente para a atmosfera, a devastação da fauna animal (com fins comerciais ou ornamentais), os detritos poluentes produzidos pela indústria, os agrotóxicos que contaminam os alimentos e os hábitos alimentares cancerígenos que são difundidos e passam para as novas gerações (como por exemplo, a universalização da comida de plástico e a universalização da utilização do leite de vaca e seus derivados).

Não posso deixar de referir o facto de o ser humano ser aquele que se sente bem a mutilar e matar outros animais, por prazer ou simples vontade de destruição do equilíbrio natural.

A natureza revolta-se

Obviamente que a natureza não assiste, impávida e serena, à sua destruição pelo ser humano.

Os efeitos de todos esses atropelos são sentidos por nós no dia-a-dia.


É o aquecimento da superfície terrestre, cujos efeitos começamos já a sentir.

É a subida das águas dos mares, com inundações.

São as doenças causadas pela poluição das águas e pelos agrotóxicos.

 

E são as chuvas ácidas, que corroem metais, afectam a flora e provocam doenças ao ser humano.

Mas temos ainda os terramotos, secas, erupções vulcânicas e maremotos, que são reacções da natureza às alterações ao equilíbrio natural, que o ser humano vem provocando.

 

Não posso deixar de mencionar o caso dos tsunamis, que devastam grandes superfícies e causam a morte de milhares de seres humanos e de milhões de outros animais.

E não nos podemos esquecer dos já referidos hábitos culturais (alimentares e outros), que comunidades inteiras são forçadas a alterar devido às frequentes agressões à natureza.

O coronavírus é mais uma forma de revolta

O novo coronavírus é outra forma de revolta da natureza. É uma resposta dramática da natureza às agressões de que é alvo.
Não me vou aqui debruçar acerca da sua origem (natural ou produto de laboratório), pois não é isso que está aqui em causa.
O que está em causa é a reacção de revolta da natureza, que atingiu este ano uma proporção nunca antes vista.

Quais são os efeitos do coronavírus para o nosso planeta?


O confinamento a que os seres humanos estão a ser obrigados provoca a diminuição da poluição, a todos os títulos.


Salvo raras excepções, as indústrias pararam. Até a indústria petrolífera parou – uma coisa que antes era tida como inconcebível.

Os efeitos dessa paralisação estão à vista: para já, os mares e os rios estão a sentir um grande alívio. Acredito mesmo que algumas espécies em extinção se estejam a reproduzir nestes três últimos meses, bastante mais do que nos últimos cinco ou dez anos.

Cidades agitadíssimas dia e noite e repletas de arranha-céus, como Paris e Nova Iorque (para dar apenas dois exemplos), estão remetidas a uma quarentena que as transformou repentinamente em áreas desérticas, até aqui vistas apenas em filmes de ficção científica.

Mas isso não é tudo.


Quem antes concebia uma tão grande paz no espaço aéreo? Quem diria que os mais de 230 mil voos diários seriam, num ápice, reduzidos a menos de metade?
E que, das 33.500 aeronaves comerciais existentes no mundo, mais de metade estivessem em terra?

O novo coronavírus provocou também o aumento vertiginoso da festa virtual. Trabalho e aulas decorrem em vídeo-conferência, um pouco por todo o mundo.
A festa virtual caseira permite que as pessoas fiquem em casa semanas a fio. Mas mesmo assim não se livram da doença, pois o vírus pode ir ter consigo na pizza ou nas compras encomendadas e deixadas à porta.

Num país como o nosso, onde impera com total impunidade a poluição sonora, temos nas últimas semanas estado mais serenos, graças ao pouco ruído nas estradas e nos céus, bem como graças à diminuição da invasão sonora dos atrevidos oferecedores de música, também estes completamente impunes graças ao apoio das autoridades.

Não sei se os leitores repararam, mas há sinais de que a natureza respira agora um pouco melhor.


Um deles é o facto de, por cá, as chuvas de Março e Abril deste ano não se equipararem em número e grau ao comum dos últimos dez anos.

A terminar, é preciso referir que o novo coronavírus agiu com maior voracidade nos países mais desenvolvidos.


Penso que se pode adiantar a regra segundo a qual quanto mais desenvolvido o país, maior a ira da natureza por via do mais recente coronavírus.


O resultado disso tem mesmo de ser a mudança de comportamento: de comportamento destrutivo da natureza para comportamento em prol da natureza (e, por extensão, em prol do próprio ser humano).


Mas se, ainda assim, não houver séria mudança de comportamento, tenhamos a certeza que a ira da natureza será depois ainda maior.


Paulo de Carvalho
25/4/2020
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