Luanda - A música de raíz angolana começou na verdade a servir objectivos políticos, ainda antes da independência. As autoridades coloniais, tendo necessidade de afastar a pressão da comunidade internacional, sobre o fenómeno colonial montaram à pressa a idéia de que não eram opressores e foi através da música que se ergueu o fenómeno lusotropicalismo, com a promoção de alguns artistas de raça negra, em caravanas internacionais.

Fonte: Club-k.net

Grupos musicais de características mistas, integrando negros, mestiços e brancos deram corpo a um projecto que visava internacionalizar, a imagem de um Portugal multirracial, simbolizando o progresso e a vitória da civilização portuguesa nos territórios ultramarinos conquistados por força da política dos descobrimentos.

 

Em Angola foram vários os grupos que nos países, parceiros de Portugal foram integrados em caravanas de verão nas grandes casas de espectáculos, entre eles o Olimpia de Paris.

 

Estamos a falar de Garda e seu conjunto, o Trio Guilherme de Assis e mais tarde o então Trio Ouro Negro, que persistiu em Duo, com Raul Indípwo e Milo Vitória Pereira, Lilitchiumba, Eleutério Sanches, até à independência de Angola, preenchendo uma época de abertura cultural, com início nas décadas de 50 e 60.

 

Perdoem-me os leitores, se porventura pequei por omissão na descrição das figuras que nesta época levaram a cultura de Angola além fronteiras.

 

Nos anos 60 tinham os nossos palcos, o brilho e a frescura cultural de famílias tradicionais, que aproveitaram e bem, a oportunidade, para discretamente, mostrarem a riqueza “folclórica” do país, senhor de uma diversidade étnica e cultural, que dão força ao país que hoje somos.

 

Não falando apenas desse lado vamos necessariamente cair na abordagem de um fenómeno cultural, que se desenvolve por força da popularização do carnaval, e dos centros recreativos na periferia de Luanda, que deram suporte à emergente indústria musical, com o surgimento de vários agrupamentos musicais.

 

Se os primeiros como os Gingas, comandados pelo virtuoso guitarrista Duía, um artista da etnia bakongo, que deu alma e coração ao conjunto de instrumentistas que o compunham, como Kakulo Kalunga, o mestre da puíta, ou kuika, na terminologia brasileira, um instrumento característico que as rádios popularizaram em programas específicos.

 

Nos Gingas exaltava-se a qualidade rítmica das guitarras angolanas à mistura com instrumentos típicos como a puíta, os tambores e a dikanza, que davam à música outra textura rítmica. Dizia o meu pai que Os Gingas gravaram dois singles sob a chancela da Rádio Triunfo, em Portugal e faziam parte do cardápio de música folclórica de Portugal ultramarino, ao lado do antecessor NGola Ritmos, que trouxe no seu reportório, a mensagem libertária dissimulada em canções de elevado teor poético e lírico elucidando a alvorada emancipalista.

 

Pela voz e direcção artística de Liceu Vieira Dias saíram canções que são autênticas réplicas de um discurso dirigido à consciência revolucionária dos angolanos.

 

A sociedade angolana dos anos 60 viu nascer a indústria discográfica que arrastou para a ribalta, a música que já se fazia nas turmas de carnaval, que desfilavam na Marginal em todos os Fevereiros, a essência da vida em piadas e canções de teor moralista e de mal dizer, que preenchiam a época.

 

A emergente indústria discográfica lança para o mercado uma série de grupos musicais e artistas, que tinham como palco os centros recreativos espalhados por todos os bairros da capital, que movimentavam uma impressionante máquina de lazer, com o desporto espelhado no futebol, à mistura.

 

Depois das turmas carnavalescas, o mercado reage com inovação e atira para a ribalta os Kiezos, um grupo de forte expressão musical, assente na exibição de instrumentos eléctricos como guitarras, que retiram à percussão o lugar cimeiro na execução harmónica.

 

A indústria deu relevância aos novos instrumentos, que vieram dar outra armação à forma de se produzir música. A viola eléctrica ganha novos mestres e os agrupamentos sucedem-se a uma velocidade impressionante. Enquanto o bairro Marçal era o feudo dos Kiezos, dos Águias Reais, África Show, o Dimbangola, Os Ébanos , o Quinteto Angolano, o Bairro Operário respondia com os Negoleiros do Ritmo e o então Musseque Prenda alinhava com os Ases do Prenda; Jovens do Prenda; os Prendas; Dikanzas do Prenda; a província mais a norte saía-se bem com o Cabinda Ritmo, Bela Negra, o Lobito concorria com Os Bongos, e a Samba Pequena desafiava os grandes com Os Korimbas, etc., que compunham num cenário de opções para as várias editoras, que entretanto foram nascendo para alimentar uma indústria emergente, que valorizava e sustentava um interessante sector da cultura nacional.

 

O Agrupamento Merengue deu lugar mais tarde, à fusão dos melhores músicos num conjunto de vedetas individuais que é responsável pela discografia que acompanhou Angola nos primeiros anos da independência, com a rivalidade de um ou agrupamento, o Kissanguela patrocinado pela juventude do MPLA, sob a direcção artística de Belmiro Carlos.

 

Na actualidade, a música angolana brilha com a juventude que é responsável por uma nova corrente, a Kizomba que traz figuras de estirpe como Eduardo Paim, Paulo Flores, Tino Fortes, Ruca Van-Dúnem, Ricardo Abreu, Irmãos Almeida, Maninho Teixeira, Ângelo Boss, Maya Cool, e as bandas Tropical Band, Irmãos Verdade, As Gingas do Maculusso, SSP, O2, etc.

 

Mais adiante cruzamos com a geração Kuduro, um estilo que nasceu de uma idéia de Tony Amado e que mistura percussão e ritmo e um contorcionismo corporal que confere conteúdo artístico ao estilo musical. O Kuduro tem hoje especialistas além fronteiras a estudar a sua explosão pelo mundo e há quem reclame a sua paternidade fora de Angola. Nomes de peso: Tony Amado, Sebem, Nagrelha, Puto Lilas, Puto Prata, Bruno M, Noite e Dia, Fofandó, Propria Lixa e Maia Zuda.

 

Todavia, há um outro estilo que marca a fusão de ritmos antilhanos com uma certa onda nacional a que se chamou Kizomba, que hoje se cultiva e produz para as pistas de dança.

 

A Kizomba é a música do momento, por ter incorporado na sua coreografia, a dança de salão que se espalhou nos quatro cantos do mundo, como uma verdadeira arte, com o surgimento de escolas onde se cultivam várias formas artísticas de dança, onde o prazer e a arte andam de mãos dadas.

 

Alguns clubes abriram espaços onde a arte de bem dançar atrai foliões, sobretudo na camada juvenil e estratos sociais mais avançados.

 

O suporte musical é garantido pelas obras discográficas de personalidades como Euclides da Lomba, Dom Kika, Yuri da Cunha, Patricia Faria, Puto Português, Kiaku Kiadaff, Livongh, Acácio, Ary, Pérola, Yola Semedo, Edmásia Mayembe, Margareth do Rosário, Lumony, Rui Orlando, Yobass, CEF, Leo, Tony do Fumo Filho e outros cujos nomes escapam da memória.

 

Matias Damásio, Anselmo Ralph, C4 Pedro, são casos de sucesso na arena internacional onde caminham com uma agenda profissional destinada a captar simpatias e a mostrar uma nova forma de sentir e fazer música.

 

É um processo em que se inscrevem vários nomes com intenções bem definidas e declaradas, carecendo do investimento necessário e das empresas com esta arriscada vocação.

ANDRÉ PINTO

NOMES SONANTES DO KUDURO FEITO EM ANGOLA:
TONY AMADO
SEBEM
DOG MURAS
NACOBETA
AGRE G
PAI DIESEL
PUTO PRATA
BEBO CLONE
OS THE TROIA
PUTO LILAS
BRUNO M
NOITE E DIA
MONA STAR
CHEFE LITANA
KEIMA BILHAS
VIRGÍLIO FIRE
CABO SNOOP
OS LAMBAS (BRUNO KING,
NAGRELHA, ANDELOY, AMIZADE-
FALECIDO)
FÁBIO KING
PUTO LANGA
TCHU K
FOFANDÓ
PRÓPRIA LIXA-FALECIDA
TUGA AGRESSIVA
GATA AGRESSIVA
NAYOL CRAZY
GAME WALLA
PUTO SABOROSA
MADRUGA YOYO
OS THE FAYA
REI PANDA
OS XTRUBANTUS
LITO XKINDOSO
OS CALUNGA MATA
PUTO MIRA (OS VAGABANDAS)
PUTO HEROI (OS VAGABANDAS)
REI LOY PAI
PAI LATIFA
PRESIDENTE GASOLINA
PRÍNCIPE PURO NEGRO
OS NIRVANA (KUDURISTAS)
PANDA DA LEI
OS BALOTCHÉ
W KING
POLIVALENTE E CHEFE BILL
ZOCA ZOCA
BOBANI KING
TURMA TOMMY
OS ACORRENTADOS
GEGÉ KUIA BUÉ
DJ GILAMGOMBE
MAURO ALEMÃO
MAGNÉSIO KUDURISTA
PAIPLOY PIPASS
GODZILLA DO GAME
OS CAIXA BAIXA
CAMONE KING