Luanda - Três universidades angolanas estão entre as 200 melhores universidades africanas, no “ranking” de 2020 do Unirank, enquanto no “ranking” do Webometrics não aparece nenhuma universidade do país entre as 100 seleccionadas.


Fonte: Jornal de Angola

No Ranking Universitário Africano de 2020, do Unirank (Instagram University Ranking), o estabelecimento de ensino superior de Angola melhor classificado é a Universidade Privada de Angola, que aparece em 70º lugar, encontrando-se a Universidade Católica de Angola em 79º lugar e a Universidade Agostinho Neto na posição 98.

Os critérios de selecção das melhores universidades adoptados pela Unirank são diferentes dos do “ranking” do Webometrics. Enquanto o primeiro trabalha com dados fornecidos por fontes independentes, em vez de dados enviados pelas próprias universidades, já o Webometrics faz a classificação com base na informação que existe nas páginas ou sítios oficiais na Internet das universidades.

Uma outra particularidade do Unirank é a produção da tabela das universidades do Mundo também com base na popularidade (número de seguidores) da sua página principal no Instagram.

Na edição de 2020, a África do Sul lidera os dois “rankings”, tendo colocado, nos primeiros seis lugares do Unirank as universidades de Pretória, da Cidade do Cabo, de Witwatersrand, de Joanesburgo, de Kwazulu Natal e de Stellenbosch. Na sétima posição do Unirank aparece a Universidade de Nairobi (Quénia).

A Universidade da Cidade do Cabo, que no Unirank aparece na segunda posição, está em primeiro lugar no Webometrics, enquanto a Universidade de Pretória (líder no Unirank) está na quarta posição do Webometrics, atrás das universidades de Witwatersrand (terceiro lugar) e de Stellenbosch (segundo lugar). Na sexta posição do Webometrics está a Universidade do Cairo (Egipto). Contactado pelo Jornal de Angola para comentar a utilidade dos “rankings” que determinam as posições das universidades em termos de qualidade, o sociólogo Cláudio Tomás, depois de ter tomado conhecimento do propósito da conversa, disse ser importante informar que, “entre a comunidade académica e científica, nem sempre há consenso ou simpatia pelos “rankings”, encontrando-se entre os activos o Unirank e o Webometrics.

“Nem sempre os critérios que são usados para aferir a qualidade das universidades são consensuais”, salientou o sociólogo, que, quando falou do Webometrics, cujo trabalho se baseia na informação que existe nas páginas ou sítios oficiais na Internet das universidades, declarou que uma universidade, na maior parte das vezes, é muito mais do que aquilo que expõe na Internet.

No seu entender, as universidades não existem no vazio, por estarem inseridas em contextos sociais, políticos, económicos e religiosos que, “mal ou bem, influenciam na construção de um ambiente em que é possível a sua realização plena”.

Devido aos contextos mencionados, o sociólogo Cláudio Tomás afirmou que os “rankings” académicos sofrem, em princípio, de um “pecado capital” de análise, sendo este o “grande problema” que compromete a aceitação e a legitimação efectiva dos resultados.

O problema reside nos critérios de avaliação, afirmou o sociólogo, para quem “não se pode avaliar, com os mesmos parâmetros, uma universidade que existe num país teocrático ou autoritário do ponto de vista do regime político, com uma outra universidade que existe em contexto de democracia e plena liberdade académica”.

A título de exemplo, o sociólogo Cláudio Tomás mencionou a África do Sul, um país que “consegue ter um ambiente social, político e económico que permite um melhor ambiente de realização das universidades”.

Custos com a Internet considerados caros

A falta de uma página oficial na Internet, que deve expor todas as actividades e as facilidades e recursos oferecidos à comunidade académica e estudantil, é um dos “pequenos problemas” registados em universidades angolanas, algo que o sociólogo considerou “sintoma de coisas mais graves”.

“Os custos com a Internet em Angola são caros”, afirmou o sociólogo Cláudio Tomás, quando falava sobre as despesas com a prestação de serviços tecnológicos e técnicos, a manutenção e a produção de certos serviços necessários, para que uma página de Internet seja funcional e dinâmica.

De acordo com o sociólogo, chegam a ser muito onerosos os serviços de alojamento de sites, a disponibilidade de armazenamento de informação virtual e a sustentação de dominós para as contas de e-mails institucionais para professores e estudantes.

Por esta razão, adiantou Cláudio Tomás, é muito complicado atribuir somente às universidades parte das responsabilidades por não constarem em “rankings”, como o do Webometrics.

Cláudio Tomás, que disse haver “outros problemas estruturais” em universidades angolanas, afirmou que as universidades do país ressentem-se “deste contexto de custos” com os serviços de Internet.

Quando lhe foi pedido para mencionar o “ranking” académico que acha ser de maior credibilidade, o sociólogo respondeu que não conhecia nenhum que fosse mais credível e revelou que cada Ministério da Ciência ou agências para o Desenvolvimento Científico de cada país elege o seu “ranking” de referência.

Cláudio Tomas disse desconhecer o “ranking” que o Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação adoptou como referência para aferir a qualidade dos estabelecimentos de Ensino Superior em Angola.

“Muitos países que levam a sério o financiamento à pesquisa e à ciência possuem agências independentes, que avaliam, periodicamente, as universidades e centros de pesquisa”, informou Cláudio Tomás, acrescentando que os “rankings” de âmbito nacional são dinamizados pelos governos de países que necessitam de ter essa informação para saber que instituições merecem financiamento.

Os “rankings"” acrescentou o sociólogo Cláudio Tomás, são informações que ajudam os governos e instituições nacionais e internacionais a saberem como lidar com os centros do conhecimento.


“Estado deve financiar a produção científica”

O sociólogo Cláudio Tomás afirmou que, para o caso angolano, os “rankings” académicos não devem ser prioridade, condição que deve ser dada ao compromisso com o fomento da garantia de condições para que as universidades angolanas se possam realizar em pleno.

Depois de ter sublinhado que há um trabalho longo a ser feito em termos de estruturação do sistema da ciência nacional (laboratórios, centros de pesquisa, institutos), financiado com fundos públicos, o sociólogo deu ênfase à necessidade do fomento das universidades públicas no sentido de elas terem as suas próprias pautas científicas.

Cláudio Tomás lembrou que, para fazer ciência, Angola precisa de cientistas profissionais e comprometidos exclusivamente com a produção científica e com a dignidade profissional.

O sociólogo disse ser importante que o país tenha já “o muito esperado órgão nacional (o fundo nacional ou seja lá o que queiram chamar) destinado a financiar a produção científica no país”.